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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Programação dos Cinemas em Joinville até 02/01/2014


VAMOS APROVEITAR NOSSAS FÉRIAS!!!

Sugestão de Leitura para as Férias


Os sofrimentos do jovem Werther - Johann Wolfgang Goethe
Obrigada professora Taíza pelo empréstimo de livro tão fantástico.

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 24]

- Não, não! disse ela com força, desprendendo-se, pronta a fugir para casa do ferreiro.
- Tu mas pagarás, maldita! rosnou o padre por entre dentes, voltando as costas, descendo o caminho com passadas de desesperado.
E não abrandou o passo até à cidade, levado dum impulso de indignação que, sob aquela doce paz dum meio de Outono, lhe sugeria planos de vinganças ferozes. Chegou a casa esfalfado, ainda com o ramo na mão. Mas aí, na solidão do quarto, veio-lhe pouco a pouco o sentimento da sua impotência. Que lhe podia fazer por fim? Ir pela cidade dizer que ela estava grávida? Seria denunciar-se a si. Espalhar que estava amigada com o abade Ferrão? Era absurdo: um velho de quase setenta anos, de uma fealdade de caricatura, com todo um passado de virtude santa!... Mas perdê-la, não tornar a ter no braços aquele corpo de neve, não ouvir mais aquelas ternuras balbuciadas que lhe arrebatavam a alma para alguma coisa de melhor que o Céu... Isso não!
E era possível que ela, em seis ou sete semanas, tivesse assim esquecido tudo? Naquelas longas noites na Ricoça, só na cama, não lhe viria uma recordação das manhãs no quarto do tio Esguelhas?... Decerto: ele sabia-o da experiência de tantas confessadas que lhe tinham revelado aflitas a tentação muda e teimosa que não deixa a carne que uma vez pecou...
Não: devia persegui-la, e por todos os modos soprar-lhe aquele desejo que agora ardia nele mais alto e mais ruidoso.
Passou a noite a escrever-lhe uma carta de seis páginas, absurda, cheia de implorações apaixonadas, de argúcias místicas, de pontos de exclamação e de ameaças de suicídio...
Mandou-a ao outro dia cedo, pela Dionísia. A resposta veio só á noite, por um rapazito da quinta. Com que sofreguidão rasgou o sobrescrito! Eram apenas estas palavras: "Peço-lhe que me deixe em paz com os meus pecados".

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 23]

- Ai, tem-nos feito muita companhia, disse Amélia. Vem quase todos os dias.
- É um santo! exclamou a Gertrudes.
- Decerto, decerto, murmurou Amaro descontente dum entusiasmo tão vivo. Pessoa de muita virtude...
- De muita virtude, suspirou a velha. Mas... - calou-se, não ousando decerto exprimir as suas reservas de devota. E exclamou numa súplica: Ai, o senhor pároco é que devia vir por aqui, ajudar-me a levar esta cruz da doença...
- Hei-de vir, minha senhora, hei-de vir. É bom para a distrair, para lhe dar as noticias... E a propósito, tive ontem carta do nosso cônego.
Rebuscou na algibeira, leu alguns períodos da carta. O padre-mestre já tinha quinze banhos. A praia estava cheia de gente. A D. Maria passara doente com um furúnculo. O tempo famoso. Todas as tardes grandes passeatas a ver recolher as redes. A S. Joaneira, boa, mas falando sempre na filha...
- Pobre mamã... choramigou Amélia.
Mas a velha não se interessava com as novidades, gemendo a sua ronqueira. Foi Amélia que perguntou pelos amigos de Leiria, pelo Sr, padre Natário, pelo Sr, padre Silvério...
Ia escurecendo já: a Gertrudes fora preparar o candeeiro. Amaro enfim ergueu-se:
- Pois, minha senhora, até outro dia. Esteja certa que hei-de aparecer de vez em quando. E nada de afligir... Agasalho, boa dieta, e a misericórdia de Deus não a há-de abandonar...
- Não nos falte, senhor pároco, não nos falte!...
Amélia estendera-lhe a mão, para se despedir ali no quarto; mas Amaro gracejando:
- Se não lhe causa incômodo, menina Amélia, sempre é bom vir mostrar-me o caminho, que eu perco-me neste casarão.
Saíram ambos. E apenas no salão, a que as três largas vidraças davam ainda uma claridade:
- A velha faz-te a vida negra, filha, disse Amaro parando.

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 22]


Às vezes, farto da solidão, ia visitar o Silvério. Mas a felicidade pachorrenta daquele ser obeso, ocupado em colecionar receitas de medicina caseira e em observar as perturbações fantásticas da sua digestão; os seus constantes louvores do doutor Godinho, dos pequenos e da senhora; as chalaças obsoletas que ele repetia havia quarenta anos e a inocente hilaridade, que elas lhe davam, impacientavam Amaro. Saía, enervado, pensando na sorte inimiga que o fizera tão diferente do Silvério. Aquilo era a felicidade por fim: por que não havia de ele ser também um bom padre caturra, com uma pequenina mania tirânica, parasita regalado duma família respeitável, tendo um destes sangues tranquilos que giram sob camadas de gordura, sem perigo de transbordar e de causar desgraças, como um riacho que corre por baixo duma montanha?...
Outras vezes ia ao colega Natário, cuja fratura, mal tratada ao princípio, o retinha ainda na cama com o aparelho na perna. Mas aí, enjoava-o o aspecto do quarto - impregnado dum cheiro de arnica e de suor, com uma profusão de trapos ensopados em malgas vidradas, e esquadrões de garrafas sobre a cômoda entre fileiras de santos. Natário, mal o via aparecer, rompia em queixas: as cavalgaduras dos médicos! A sua má sorte habitual! As torturas a que o forçavam! O atraso em que estava a medicina neste maldito país!... E ia salpicando o soalho negro de expectorações e de pontas de cigarro. Desde que estava doente, a saúde dos outros, sobretudo dos amigos, indignava-o como uma ofensa pessoal.
- E você sempre rijo, hem? Pudera! - murmurava com rancor.
E pensar que aquela besta do Brito nunca lhe doera a cabeça! E que o alarve do abade se gabava de nunca ter estado na cama depois das sete da manhã! Animais!
Amaro então dava-lhe as novidades: alguma carta que recebera do cônego, da Vieira, as melhoras da D. Josefa...
Mas Natário não se interessava pelas pessoas a quem apenas o unia a convivência e a amizade; interessavam-no só os seus inimigos, com quem tinha ligações de ódio. Queria saber do escrevente, se já tinha estourado de fome...

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 21]

Ela soluçava, num pranto nervoso, - e toda a manhã foi no quarto do sineiro um delírio de amor a que aquele sentimento da maternidade, ligando-os como um sacramento, dava uma ternura maior, um renascimento incessante de desejo, que os lançava cada vez mais ávidos nos braços um do outro.
Esqueceram as horas; e Amélia só se decidiu a saltar do leito quando ouviram embaixo na cozinha a muleta do tio Esguelhas.
Enquanto ela se arranjava à pressa diante do bocado de espelho que ornava a parede, Amaro diante dela contemplava-a com melancolia, vendo-a passar o pente nos cabelos - nos cabelos que ele dentro em breve não tornaria a ver pentear; deu um grande suspiro, disse-lhe enternecido:
- Estão a acabar os nossos bons dias, Amélia. És tu que queres... Hás-de-te lembrar algumas vezes destas boas manhãs...
- Não diga isso! fez ela com os olhos arrasados de água.
E atirando-se-lhe de repente ao pescoço, com a antiga paixão dos tempos felizes, murmurou-lhe:
- Hei-de ser sempre a mesma para ti... Mesmo depois de casada.
Amaro agarrou-lhe as mãos sofregamente:
- Juras?
- Juro.
- Pela hóstia sagrada?
- Juro pela hóstia sagrada, juro por Nossa Senhora!
- Sempre que tenhas ocasião?
- Sempre!
- Oh, Ameliazinha! oh, filha! não te trocava por uma rainha!
Ela desceu. O pároco, dando uma arranjadela ao leito, ouvia-a embaixo falar tranquilamente com o tio Esguelhas; e dizia consigo que era uma grande rapariga, capaz de enganar o diabo, e que havia de fazer andar numa roda-viva o pateta do escrevente.

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 20]

Amaro abrira abruptamente a porta do escritório, fechou-a de repelão, e sem mesmo dar os bons-dias ao colega, exclamou:
- A rapariga está grávida!
O cônego, que estava escrevendo, caiu como uma massa fulminada para as costas da cadeira:
- Que me diz você?
- Grávida!
E no silêncio que se fez o soalho gemia sob os passeios furiosos do pároco da janela para a estante.
- Está você certo disso? perguntou enfim o cônego com pavor.
- Certíssimo! A mulher já há dias andava desconfiada. Já não fazia senão chorar... Mas agora é certo... As mulheres conhecem, não se enganam. Há todas as provas... Que hei-de eu fazer, padre-mestre?
- Olha que espiga! ponderou o cônego atordoado.
- Imagine você o escândalo! A mãe, a vizinhança... E se suspeitam de mim?... Estou perdido... Eu não quero saber, eu fujo!
O cônego coçava estupidamente o cachaço, com o beiço caído como uma tromba. Representavam-se-lhe já os gritos em casa, a noite do parto, a S. Joaneira eternamente em lágrimas, toda a sua tranqüilidade extinta para sempre...
- Mas diga alguma coisa! gritou-lhe Amaro desesperado. Que pensa você? Veja se tem alguma ideia... Eu não sei, eu estou idiota, estou de todo!
- Aí estão as conseqüências, meu caro colega.
- Vá para o inferno, homem! Não se trata de moral... Está claro que foi uma asneira... Adeus, está feita!
- Mas então que quer você? disse o cônego. Não quer decerto que se dê uma droga à rapariga, que a arrase...
Amaro encolheu os ombros, impaciente com aquela ideia insensata. O padre-mestre, positivamente, estava divagando...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A ALEGRIA NA TRISTEZA - Martha Medeiros

O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se “Alegría de la tristeza” e está no livro “La vida ese parêntesis” que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.

Desafio de leitura

O nosso cerbro é doido.

A ordem dos fatores não altera o produto. Veja...
De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea,
não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso esrctias,
a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras
etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol,
que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não
lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Desafio

Pontuação na questão "gêneros"...

 
Onde você colocaria a vírgula na frase abaixo??

 "Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua procura."

Desafio

Teste de Português

Quero ver quem acerta. 

Na frase abaixo deverá ser colocado 1 ponto final e 2 vírgulas, para que tenha sentido. 
Pense bem antes de responder.

Maria toma banho porque sua mãe disse ela pegue a toalha.

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 19]

- Numa palavra, disse o cônego, que escutara de olhos cerrados aquela verbosidade repassada de lamúria; o que a senhora quer é que eu vá ver a paralítica, e saber à justa o que se passa...
- Era um alívio para mim, riquinho!
Aquela palavra, que a S. Joaneira, na sua gravidade de matrona, reservava para a intimidade das sestas, enterneceu o cônego. Fez uma carícia ao pescoço gordo da sua velhota, e prometeu com bondade ir estudar o caso...
- Amanhã, que a Totó está só, lembrou logo a S. Joaneira.
Mas o cônego preferia que Amélia estivesse presente. Podia assim ver como as duas se davam, se havia influência do espírito maligno...
- Que isto que eu faço é de agradecer... É por ser para quem é... Que bem me bastam os meus achaques, sem me ocupar dos negócios de Satanás.
A S. Joaneira recompensou-o com uma beijoca sonora.
- Ah, sereias, sereias!... murmurou o cônego filosoficamente.
No fundo aquele encargo desagradava-lhe: era uma perturbação nos seus hábitos, toda uma manhã desarranjada; ia decerto fatigar-se, tendo de exercitar a sua sagacidade; além disso odiava o espetáculo de doenças e de todas as circunstâncias humanas relacionadas com a morte. Mas, enfim, fiel à sua promessa, daí a dias, na manhã em que fora prevenido que Amélia ia à Totó, arrastou-se contrariado para a botica do Carlos; e instalou- se, com um olho no Popular e outro na porta, à espera que a rapariga atravessasse para a Sé. O amigo Carlos estava ausente; o Sr. Augusto ocupava os seus vagares sentado à escrivaninha, de testa sobre o punho, relendo o seu Soares de Passos; fora, o sol já quente dos fins de abril fazia rebrilhar o lajeado do largo; não passava ninguém; e só quebravam o silêncio as marteladas nas obras do doutor Pereira. Amélia tardava. E o cônego, depois de ter considerado longo tempo, com o Popular caído nos joelhos, o medonho sacrifício que fazia pela sua velhota, ia cerrando as pálpebras, já tomado da quebreira, naquele repouso calado do meio-dia próximo - quando entrou na botica um eclesiástico.
- Oh, abade Ferrão, você pela cidade! exclamou o cônego Dias despertando do seu quebranto.

O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 18]

Ia sempre receosa, numa inquietação de ser espreitada. Todas as manhãs pedia a Nossa Senhora da Boa Viagem que a livrasse de maus encontros; e se via um pobre dava-lhe invariavelmente esmola, para lisonjear os gostos de Nosso Senhor, amigo dos mendigos e vagabundos. O que a assustava era o Largo da Sé, sobre o qual a Amparo da botica, costurando por trás da janela, exercia uma vigilância incessante. Fazia-se então pequenina no seu mantelete, e abaixando o guarda-sol sobre o rosto, entrava enfim na Sé, sempre com o pé direito.
Mas a mudez da igreja, deserta e adormecida numa luz fosca, amedrontava-a; parecia-lhe sentir, na taciturnidade dos santos e das cruzes, uma repreensão ao seu pecado; imaginava que os olhos de vidro das imagens, as pupilas pintadas dos painéis se fixavam nela, com uma insistência cruel, e percebiam o arfar que ao seu seio dava a esperança do prazer. Às vezes mesmo, atravessada duma superstição, para dissipar o descontentamento dos santos, prometia dar-se nessa manhã toda à Totó, ocupar-se caridosamente só dela, e não se deixar tocar sequer no vestido pelo Sr. padre Amaro. Mas se ao entrar na casa do sineiro o não encontrava, ia logo, sem se deter ao pé da cama da Totó, postar-se à janela da cozinha, vigiando a porta maciça da sacristia, de que ela conhecia uma por uma as chapas negras de ferro.
Ele aparecia, enfim. Era então nos começos de março; já tinham chegado as andorinhas; ouviam-nas chilrear, naquele silêncio melancólico, esvoaçando entre os contrafortes da Sé. Aqui e além, plantas dos lugares úmidos cobriam os cantos de uma verdura escura. Amaro, às vezes muito galante, ia procurar uma florzinha. Amélia impacientava-se, rufava na vidraça da cozinha. Ele apressava-se; ficavam um momento à porta, apertando-se as mãos, com olhos brilhantes que se devoravam; e iam enfim ver a Totó - e dar-lhe os bolos que o pároco lhe trazia no bolso da batina.
A cama da Totó era na alcova, ao lado da cozinha; o seu corpinho de tísica quase não fazia saliência enterrado na cova da enxerga, sob os cobertores enxovalhados que ela se entretinha a esfiar. Nesses dias tinha vestido um chambre branco, os cabelos reluziam-lhe de óleo; porque ultimamente, desde as visitas de Amaro, viera-lhe "uma birra de parecer alguém", como dizia encantado o tio Esguelhas, a ponto de se não querer separar dum espelho e dum pente que escondia debaixo do travesseiro e obrigar o pai a encafuar sob a cama, entre a roupa suja, as bonecas que agora desprezava. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Receita para o cafezinho das tardes de férias que virão...

BOLO DE FUBÁ CREMOSO

4 ovos
4 xícaras de leite
3 xícaras de açúcar
2 colheres de farinha de trigo
1 xícara e meia de fubá
2 colheres de margarina
100 g de queijo ralado
1 colher de fermento em pó

MODO DE PREPARO

Coloque tudo no liquidificador e bata por alguns segundos, coloque em forma untada e polvilhada com farinha de trigo. Asse em forno quente por 30 a 40 minutos.
Quando for tirar do forno observe se ele está corado, pois ele fica meio mole.
Mas só sirva bem frio.





Marcelo Jeneci - De Graça


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Olhares sobre o Patrimônio Arqueológico da cidade de Joinville

A arqueóloga Dione da Rocha Bandeira afirma que "a região de Joinville é a mais importante do Brasil, talvez do mundo", em relação a sambaquis - patrimônio arqueológico - mas pouco estudada e valorizada.
 Grande parte da população desconhece a história desses locais e a eles atribuem valores e novos usos que os cientistas julgam inadequados.  Entretanto, qual o sentido em preservar quando não se sabe o porquê se preserva? Se contemplamos, nos apropriamos, atribuímos valor pela forma como olhamos, usamos e sentimos esses espaços,  quem e por que determina que esses sentidos aos novos usos e atribuições cotidianas precisam ser diferentes? 

Jethro Tull: Elegy (3/16/1985)


Jethro Tull- Velvet Green (Música)


From the Beginning -- Emerson, Lake & Palmer


O Crime do Padre Amaro - Eça de Queirós [parte 17]


A matrona imediatamente galgou os degraus.
Ele então, muito baixo, tomando o braço de Amélia:
- Por que não? Que pensas tu? É uma pieguice. É enquanto não passa o aguaceiro. Dize...
Ela não respondia, respirando muito forte. Amaro pousou-lhe a mão sobre o ombro, sobre o peito, apertando-lho, acariciando a seda. Toda ela estremeceu. E foi-o enfim seguindo pela escada, como tonta, com as orelhas a arder, tropeçando a cada degrau na roda do vestido.
- Entra para aí, é o quarto, disse-lhe ao ouvido.
Correu à cozinha. Dionísia acendia a vela.
- Minha Dionísia, tu percebes... Eu fiquei de confessar aqui a menina Amélia. É um caso muito sério... Volta daqui a meia hora. Toma! meteu-lhe três placas na mão.
A Dionísia descalçou os sapatos, desceu em pontas de pés e fechou- se na loja do carvão.
Ele voltou ao quarto com a luz. Amélia lá estava, imóvel, toda pálida. O pároco fechou a porta - e foi para ela, calado, com os dentes cerrados, soprando como um touro.
···
Meia hora depois Dionísia tossiu na escada. Amélia desceu logo, muito embrulhada na manta: ao abrirem a porta do pátio passavam na rua dois borrachos galrando: Amélia recuou rapidamente para o escuro. Mas Dionísia daí a pouco espreitou; e vendo a rua deserta:
- Está a barra livre, minha rica menina...
Amélia embrulhou mais o rosto e apressaram o passo para a Rua da Misericórdia. Já não chovia; havia estrelas; e uma frialdade seca anunciava o Norte e o bom tempo.