À vista
destes deploráveis exemplos quer-me parecer que Sganarello e Molière não fariam
tão má figura na Câmara dos Comuns...
*
Não vamos
agora dar um banquete ao Sr. Pedrosa só para imitar os ingleses.
*
Um
articulista anônimo, tratando há dias do uso da folga acadêmica nas
quintas-feiras, escreveu que Moisés e Cristo só recomendaram um dia de descanso
na semana, e acrescenta que nem Spencer nem Comte indicaram dois.
Nada direi de
Spencer; mas pelo que respeita a Comte, nosso imortal mestre, declaro que a
afirmação é falsa. Comte permite (excepcionalmente, é verdade) a observância de
dois dias de repouso. Eis o que se lê no Catecismo do grande filósofo.
O dia de
descanso deve ser um e o mesmo para todas as classes de homens. Segundo o
judaísmo, esse dia é o sábado; - e segundo o cristianismo, é o domingo. 0
positivismo pode admitir, em certos casos, a guarda do sábado e do domingo, ao
mesmo tempo. Tal é, por exemplo, o daquelas instituições criadas para a
contemplação dos filhos da Grã-Bretanha, como sejam, entre outras, os
parlamentos de alguns países, etc. E a razão é esta. Sendo os ingleses, em
geral, muito ocupados, pouco tempo lhes resta para ver as coisas alheias. Daí a
necessidade de limitar os dias de trabalho parlamentar dos ditos países, a fim
de que aqueles insulares possam gozar da vista recreativa das mencionadas
instituições. (Cat. Posit., p. 302).
Rio de
Janeiro, 3 do Brigadeiro José Anastácio da Cunha Souto de 94 (14 de agosto de
1883) .
[16 outubro]
No MOMENTO em
que me sentava a escrever, recebi uma carta de um nosso hóspede ilustre. As-tu
vu le mandarin ? * Pois foi ele mesmo, o mandarim, que me escreveu, pedindo a
fineza de inserir nas "Balas de Estalo'' uma exposição modesta das impressões
que até agora tem recebido do nosso país.
Não traduzi a
carta, para lhe não tirar o valor. Além disso, há dela alguns juízos demasiado
crus, que melhor é fiquem conhecidos tão-somente dos que sabem a língua
chinesa. Em alguns lugares, o meu ilustre correspondente inseriu expressões
nossas; ou por não achar equivalente na língua dele ou (como me parece) para
mostrar que já está um pouco familiar com o idioma do país. Eis a carta:
Vu pan Lélio,
Lamakatu apá
ling-ling "Balas de Estalo", mapapi tung? Keré siri mamma,ulama'i
tik'á.
*Esta
pergunta,reminiscente de um verso de Musset,se refere à passagem,pelo Rio,do
famoso mandarim,que aqui veio tratar da vinda de colonos chineses.
Foi isto
motivo para artigos e discursos de protesto, como para a revista O Mandarim, de
Artur Azevedo e Moreira Sampaio, estreada em janeiro de 1884.
Ton-ton pacamaré Rua do Ouvidor nappi Botafogo, nappi Laranjeiras mappi Petrópolis gogô. China cava miraka Rua do Ouvidor! Naka ling! tica milung! Ita marica armarinho, gavamacu moça bonita, vala ravala balvão; caixeiro sika maripu derretido. Moçanigu vaia peça fita, agulha, veludo, colchete, iva curva trapalhada. Moço lingu istu passa na rua, che-beru pitigaia entra, namora, rini mamma.
Viliki xaxi
xali xaliman. Acalag ting-ting valixu. Upa Costa Braga relá minag katu
Integridade abaxung kapi a ver navios. Lamarika ana bapa bung? Gogô xupitô?
Nepa in pavé. Brasil desfalques latecatu. Inglese poeta, Shakespeare, kará:
make money, upa lamaré in língua Brasil: - mete dinheiro no bolso. Vaia, Vaia,
gapaling capita passa a unha simá teka laparika. Eting põe-se a panos, etang
merú xilindró.
ltá poxta,
China kiva Li-vai-pé, abá naná Otaviano Hudson, naka panaka, neka paneca,
mingu. Musa vira kassete.
- Mira lung
Minas Gerais longu senado. Vetá miná Lima Duarte passi Cesário Alvim; mará kari
Evaristo da Veiga seba Inácio Martins. Rebagú sara Coromandel? Teca laia
Coromandel?
Aba lili
tramway Copacabana. Vasi lang? Tacatu, pacatu, pacatu. Hu-huchi edital Wagner,
limaraia Duvivier. Toca xuxu Figueiredo de Magalhães, upa, upa upa. Baba China
páriú. Héh...
Siba-ú lami
assembléia provincial nanakaté. Mirô bobó xalu Galvão Peixoto: ridin teca
maneca cabelinho na venta. Pantutu? Hermann limpatuba Arang chikang Companhia
Telefônica ruru mamma, ipi, xuchi paripangatu, Caminha Magalhães Castro, xela
kopa, xela kipa, xela kopa. Neka siri lipa Câmara dos Deputados abaling. China
seca pareka amolador empala. Laka pitak? Nana pariú.
Faro e Lino
papyros, biblos, makó gogó. Lino abatukamu, Faro abatiki. Eba ú laté! Castelões
zuru! Club Beethoven paka xali! Tarinanga axá acaritunga. Harritoff dansa mari
xali!
Xulica Brasil
pará; aba lingu retórica, palração, tempo perdido, pari mamma; xulica
Kurimantu. Iva nenê, iva tatá. Brasil gamela tika moka, inglês ver. Veriman?
Calunga, mussanga, monau denguê. Valavala. Dara dara bastonara. Malan drice
paku. Ocuoco; momeréo-diarê. Ite, issa est.
Mandarim de
1ª classe
TONG KONG S
ING
Como se terá
visto, no meio de alguns reparos crus, há muita simpatia e viva observação.
Quanto ao estilo, é do mais puro, é da escola de Macau, às doutrinas do século
XII antes da Criação. A nossa crítica terá notado a linda imagem com que o
ilustre escritor define o progresso, chegando à praia da Copacabana: pacatu,
pacatu, pacatu. Em suma, é um documento honroso para o autor e para nós.
[23 outubro]
A Gazeta de
Londres publicou, em seu número de 8 do mês passado, um ofício do vice-rei da
Índia ao Conde Granville, contendo informações interessantíssimas para a
questão dos trabalhadores asiáticos. Visto que há tanto horror aos chins,
pareceu-me interessante transcrever esse documento:
À S. Exª. o Sr. Conde Granville, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros.
Calcutá, 13
de agosto de 1883.
Senhor Conde
Noutro ofício
que ora dirijo ao Honrado Secretário de Estado das Colônias dou conta de alguns
fatos relativos ao trabalho agrícola na Índia. Peço licença a V. Ex.ª para
resumi-los aqui, no caso de que o governo de Sua Majestade tenha de intervir
naqueles países da América, onde o trabalho chim é usado, ou vai sê-lo.
Em primeiro
lugar, devo lembrar a V. Ex.ª que é preciso distinguir o chim do chim. O chim
comum está de muito abandonado em toda a Ásia, onde foi suplantado por uma
variedade de chim muito superior à outra. Essa variedade, como já tive ocasião
de dizer ao governo de Sua Majestade, é o chimpanzé.
O deplorável
equívoco que, durante dilatados anos, classificou o chimpanzé entre os macacos,
estava há muito abandonado. Mas persistia a convicção de que, embora
pertencente à família humana, o chimpanzé fosse refratário ao trabalho. Esta
mesma convicção vai desaparecer, depois das brilhantes experiências feitas nos
domínios de Sua Majestade, e até na China e no Japão.
O primeiro
súbdito de Sua Majestade que empregou o chimpanzé, foi Sir John Sterling, que
reside na Índia há trinta anos. Desde 1864 o seu trabalhador era o chim comum
.Ultimamente, porém, deu-se uma desordem, verdadeira rebelião, e a maior parte
dos trabalhadores retiraram-se. Sir John Sterling resolveu liquidar e voltar
pare a Europa; mas tendo notícia de que o chimpanzé era moralmente superior ao
chim comum, mandou contratar uns trinta para ensaio, e deu-se muito bem com
eles. Daí a seis meses a plantação tinha cerca de cem indivíduos: hoje conta
setecentos e trinta. Dois parentes seus lançaram mão do mesmo instrumento de
trabalho; hoje há muitíssimas plantações que não têm outro.
Foram os
parentes de Sir John Sterling, que me deram as notícias que nesta data
transmito a V. Ex.ª o Sr. Secretário das Colônias, e que vou resumir pare uso
de V. Ex.ª
A primeira
vantagem do chimpanzé é que é muito mais sóbrio que o Chim comum. As aves
domésticas, geralmente apreciadas por este (galinhas, patos, gansos, etc.), não
o são pelo outro, que se sustenta de cocos e nozes.O chimpanzé não usa roupa,
calçado ou chapéu. Não vive com os olhos na pátria; ao contrário, Sir John
Sterling e seus parentes afirmaram que têm conseguido fazer com que os
chimpanzés mortos sejam comidos pelos sobreviventes, e a economia resultante
deste meio de sepultura pode subir, numa plantação de dois mil trabalhadores, a
duzentas libras por ano.
Não tendo os
chimpanzés nenhuma espécie de sociedade, nem instituições, não há em parte
alguma embaixadas nem consulados;o que quer dizer que não há nenhuma espécie de
reclamação diplomática, e pode V. Ex.ª calcular o sossego que este fato traz ao
trabalho e aos trabalhadores. Está provado que toda a rebelião do chim comum
provém da imagem, que eles têm presente, de um governo nacional, um imperador e
inúmeros mandarins. Por outro lado, a imprensa não poderá tomar as dores por
ele, para não confessar uma solidariedade da espécie, que ainda repugna a
alguns.
Quanto aos
lucros, dizem-me que são de vinte e cinco a vinte e oito por cento, Sir John
Sterling fez no ano de 1881, com o chim comum, vinte mil libras; em 1882, tendo
introduzido em março os primeiros chimpanzés, apurou quinze mil libras; e nos
primeiros seis meses deste ano vai em onze mil e quinhentas. A perfeição do
trabalho é, ou a mesma, ou maior. A celeridade é dobrada, e a limpeza é tão
superior, que Sir John não viu nada melhor na Inglaterra.
No ofício ao
Secretário das Colônias, mando alguns dados estatísticos, desenvolvidos, que
não reproduzo para não alongar este.
A princípio
houve relutância em admitir o chimpanzé pelo fato de andar muita vez a quatro
pés; mas Sir John Sterling, que é naturalista e antropologista emérito, fez
observar aos parentes e amigos, que a atitude do chimpanzé é uma questão de
costumes. Na Europa e outras partes, há muitos bípedes por simples hábito,
educação, uso de família, imitação e outras causas, que não implicam com as
faculdades intelectuais. Mas tal é a força do preconceito que, assim como no
caso daqueles bípedes se conclui da posição das pernas para a qualidade da
pessoa, assim também se faz com o chimpanzé; sendo ambos o mesmíssimo caso: -
uma questão de aparência e preconceito. Felizmente, a propaganda vai fazendo
desaparecer esse erro funesto, e o chimpanzé começa a ser julgado de um modo
eqüitativo, científico e prático.
Rogo a V. Ex.
se digne submeter estes fatos ao conhecimento do Sr. Gladstone.
Sou, etc.
WEBSTER.
Esta carta é
realmente importante, e espero sejam devidamente apreciadas e não fiquem
perdidas as lições que contém. O nosso defeito é não dar atenção a coisas
sérias! Esta é das mais sérias.
As pessoas
que preferem os chins, não podem deixar de aceitar este substituto. Segundo a
carta transcrita, o chimpanzé tendo as mesmas aptidões do outro chim, é muito
mais econômico. Por outro lado, os adversários, os que receiam o abastardamento
da raça, não terão esse argumento, porque o chimpanzé não se cruzará com as
raças do país.
[7 novembro]
NASCER RICO é
uma grande vantagem que nem todos sabem apreciar. Qual não será a de nascer
rei? Essa é ainda mais preciosa, não só por ser mais rara, como porque não se
pode lá chegar por esforço próprio, salvo alguns desses lances tão
extraordinários, que a história toda se desloca. Sobe-se de carteiro a
milionário ; não se sobe de milionário a príncipe.
Entretanto,
dado o caso de vocação (porque a natureza diverte-se às vezes em andar ao invés
da sociedade), como há de um homem que sente ímpetos régios, combinar o
sentimento pessoal com a paz pública? Aí está o caso em que nem o mais fino
Escobar era capaz de resolver; aí está o que resolveram alguns cidadãos de
Guaratinguetá.
Reuniram-se e
organizaram uma irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que é irmandade só no
nome; na realidade, é um reino; e tudo indica que é o reino dos céus. Os referidos
cidadãos acharam o meio de cingir a coroa sem vir buscá-la a S. Cristovão:
elegem anualmente um rei, e a coroa passa de uma testa a outra, pacificamente,
alegremente, como no jogo do papelão. Aqui vai o papelão. O que traz o papelão?
No presente ano
(1883 - 1884), o Rei da irmandade é o Sr. Martins de Abreu, nome pouco sonoro,
mas não é de sonoridade que vivem as boas instituições. A Rainha é a Sra. D.
Clara Maria de Jesus. Há um Juiz do Ramalhete, que é o Sr. Francisco Ferreira,
e uma juíza do mesmo Ramalhete que é a Sra. D. Zelina Rosa do Amor Divino. Não
há a menor explicação do que seja este ramalhete. É realmente um ramalhete ou é
nome simbólico do principado ministerial?
Segue-se o
Capitão do Mastro. Este cargo coube ao Sr. Antônio Gonçalvez Bruno, e não tem
funções definidas. Capitão do Mastro faz cismar. Que mastro, e por que capitão?
Compreendo o Juiz da Vara, compreendo mesmo o Alferes da Bandeira. Este é
provavelmente o que leva a bandeira, e, para supor que o capitão tem a seu
cargo carregar um mastro, é preciso demonstrar primeiramente a necessidade do
mastro. Já não digo a mesma coisa do Tenente da Coroa, cargo desempenhado pelo
Sr. João Marcelino Gonçalves. Pode-se notar somente a singularidade de ser a
coroa levada por um tenente; mas, dadas as proporções limitadas do novo reino,
não há que recusar. Há também um sacristão, que é alferes, o Sr. alferes Bueno,
e. .. Não, isto pede um parágrafo especial.
Há também um
(digo?) há também um Meirinho. O Sr. Neves da Cruz é o encarregado dessas
funções citatórias e compulsivas, e provavelmente não é cargo honorífico, se o
fosse, teria outro nome. Não; ele cita, ele penhora, ele captura os irmãos do
Rosário. Assim, pois, esta irmandade tem um tesoureiro para recolher o
dinheiro, um procurador para ir cobrá-lo e um meirinho para compelir os
remissos. Un capo d'opera.
Agora, como é
que se tratam uns aos outros esses dignitários? Não sei; mas presumo, pelo
pouco que conheço da natureza humana, que eles não ficam a meio caminho da
ficção. O Rei pode ter Majestade, e assim também a Rainha. E quando receberem
os cumprimentos, adivinho que os receberão com certa complacência fina, certo
ar digno e grande. Hão de chover os títulos - Vossa Majestade, Vossa Perfumaria
Vossa Mastreação. . . Em roda o povo de Guaratinguetá, e por cima a lua
cochilando de fastio e sono..
[24 novembro]
A Folha Nova
afirma em seu número de ontem, na parte editorial, que os membros da polícia
secreta; agora dissolvida, tinham o costume de gritar para se darem
importância: Sou polícia secreta!
Pour un
comble, violá un comble. Há de haver alguma razão,igualmente secreta, para um
caso tão fora das previsões normais.Por mais que a parafuse, não acho nada, mas
vou trabalhar e um dia destes, se Deus quiser, atinando com a coisa, dou com
ela no prelo.
Porquanto (e
esta é a parte sublime do meu raciocínio), porquanto eu não creio que fosse a
ideia de darem-se importância que levasse os secretas a descobrirem-se.
Conheci esses
modestos funcionários. Não eram só modestos, eram também lógicos.
Nenhum deles
bradaria que era secreta, com a intenção vaidosa de aparecer; mas, dado mesmo
que quisessem fazê-lo, era inútil porque os petrópolis que traziam na mão
definiam melhor do que os mais grossos livros do universo. Eu pergunto aos
homens de boa vontade razão clara e coração sincero: -Quando a gente via, na
esquina, três ou quatro sujeitos encostadinhos da Silva, com fuzis nos olhos, e
petrópolis na mão, não sabia logo, não jurava que eram três ou quatro secretas?
Afinal achei
a razão do fato que assombrou ao nosso colega e a nós. Peço ao leitor que
espane primeiro as orelhas e faça convergir toda a atenção para o que vou
dizer, que não é de compreensão fácil.
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