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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley [parte 29]

Era preciso que aquele homem tivesse enlouquecido. «Seria bom dar-lhe uma lição», pensou. Depois
atirou a cabeça para trás e rebentou em altas gargalhadas. Por enquanto, pelo menos, a lição não seria
dada.
Encontravam-se numa pequena fábrica de artefatos de iluminação para helicópteros, uma sucursal da
Companhia Geral de Acessórios Elétricos. Foram recebidos no próprio terraço (pois a carta-circular
de recomendação enviada pelo Administrador era de efeitos mágicos) pelo técnico-chefe e pelo
diretor do Elemento Humano. Desceram para a fábrica.
- Cada operação - explicou o diretor do Elemento Humano - é executada, tanto quanto possível, por
um único grupo Bokanovsky.
Efetivamente, oitenta e três Deltas braquicéfalos negros, quase sem nariz, estavam ocupados na
laminagem a frio. Os cinquenta e seis tornos de bancada, de quatro brocas, eram atendidos por
cinquenta e seis Gamas aquilinos e cor de gengibre.
Cento e sete Epsilões senegaleses condicionados para o calor trabalhavam na fundição. Trinta e três
mulheres Deltas, de cabeça alongada, cor de areia, pélvis estreita, todas com a estatura de um metro e
sessenta e nove centímetros, com cerca de vinte milímetros de diferença torneavam parafusos. Na sala
de montagem, os dínamos eram montados por duas turmas de anões Gamas-Mais. As duas armações
baixas estavam frente a frente; entre elas avançava lentamente o transportador de correia, com a sua
carga de peças soltas. Quarenta e sete cabeças louras estavam em frente de quarenta e sete cabeças
morenas; quarenta e sete narizes achatados tinham à sua frente quarenta e sete narizes aduncos;
quarenta e sete queixos fugidios opunham-se a quarenta e sete prognatas. Os mecanismos
completamente montados eram examinados por dezoito raparigas de cabelos castanhos e ondulados,
vestidas de verde-gama, embalados nos quadros por trinta e quatro homens Deltas-Menos, de pernas
curtas e arqueadas, e carregados nas plataformas e nos camiões que estavam à espera por sessenta e três
Epsilões, semiabortos de olhos azuis, cabelos como fios de estopa e pele cheia de sardas.

"Oh, admirável mundo novo..." Por qualquer capricho da memória, o Selvagem encontrou-se a repetir
as palavras de Miranda. "Oh, admirável mundo novo, que encerra tais criaturas!"
- E garanto-lhe - concluiu o diretor do Elemento Humano quando abandonavam a fábrica - que quase
nunca temos dificuldades com a nossa mão de obra. Encontramos sempre ...
Mas o Selvagem afastara-se repentinamente dos seus companheiros e fazia violentos esforços para
vomitar atrás de uma moita de loureiros, como se a terra firme fosse um helicóptero mergulhado num
poço de ar.
"O Selvagem - escreveu Bernard - recusa-se a tomar soma, e parece muito contrariado porque a mulher
Linda, sua m..., vive em estado de permanente entorpecimento. Fato a assinalar: apesar da senilidade
de sua m... e do seu aspecto extremamente repulsivo, o Selvagem visita-a com muita frequência e
parece-lhe muito apegado, exemplo interessante do modo pelo qual o condicionamento da infância
pôde conseguir modificar, e mesmo contrariar, os impulsos naturais (no caso presente o
impulso de recuar, horrorizado, ante um objecto desagradáVel)."
Em Eton,(*) aterraram no terraço do grande colégio. Na fachada oposta à entrada do colégio, os
cinquenta e dois andares da torre de Lupton brilhavam ao sol com clarões brancos. À sua esquerda o
colégio e à direita o Coro Escolar em Comum erguiam as suas massas veneráveis de cimento armado e
de vidrovita. No meio do pátio levantava-se a velha e curiosa estátua de aço cromado de Nosso Ford.
O Dr. Gaffney, o chanceler, e Miss Keate, a directora, receberam-nos ao descer do helicóptero.
- Têm aqui muitos gêeos? - perguntou o Selvagem, com certa apreensão, enquanto se punham a
caminho para a visita de inspecção.
- Oh, não! - respondeu o chanceler. - Eton é exclusivamente reservado aos rapazes e às raparigas das
castas superiores. Um ovo, um adulto. O que torna a educação mais difícil, bem entendido. Mas como
estão destinados a assumir responsabilidades e a desembaraçar-se em casos excepcionais e imprevistos,
não podemos evitar a situação. - Suspirou.
Bernard, entretanto, tinha achado Miss Keate muito do seu agrado.
- Se estiver livre uma destas noites, segunda, quarta ou sexta... - dizia ele. E acrescentou, designando o
Selvagem com o polegar: - Sabe, ele é interessante, estranho.
Miss Keate sorriu (e o seu sorriso era realmente encantador, pensou ele) e agradeceu dizendo que teria
muito prazer em assistir a uma dessas reuniões.
O chanceler abriu uma porta. Cinco minutos passados nessa aula de Alfas-Mais-Mais deixaram John
ligeiramente admirado.
(*) Eton (próximo de Windsor) é atualmente a sede de uma escola secundária para rapazes de famílias
aristocráticas. (N. do T.)
- Que vem a ser relatividade elementar? - segredou ele a Bernard.
Bernard tentou explicar-lhe, para depois se arrepender e propor que visitassem outra aula.
Atrás de uma porta, no corredor que levava à aula de Geografia dos Betas-Menos, uma voz retumbante
de soprano gritava: «Um, dois, três, quatro.» E depois, com uma impaciência cheia de lassidão: «Todos
ao mesmo tempo.»
- São os exercícios maltusianos - explicou a diretora. - A maioria das nossas raparigas são neutras, já
se vê. Até eu sou uma neutra. - E sorriu para Bernard. - Mas temos aí umas oitocentas que não foram
esterilizadas e às quais é necessário obrigar constantemente a fazer estes exercícios.
Na aula de Geografia dos Betas-Menos, John aprendeu que «uma reserva de selvagens é um lugar que,
dadas as condições climatéricas ou geológicas pouco favoráveis, não valera a pena civilizar». Um
estalo, e a sala foi mergulhada na escuridão. Imediatamente no écran que se encontrava por cima da
cabeça do professor apareceram os penitentes de Acoma, prosternando-se diante da Virgem, gemendo
como John os tinha ouvido gemer, confessando os seus pecados diante de Jesus crucificado, diante da
imagem de Pukong, representado sob a forma de uma águia. Os jovens Etonianos explodiam de riso.
Sempre gemendo, os penitentes ergueram-se, despiram-se até à cintura e começaram a flagelar-se,
golpe sobre golpe, com chicotes de correia dupla. As explosões de riso redobraram até abafarem a
reprodução ampliada dos gemidos.
- Mas porque se riem eles? - perguntou o Selvagem, com penalizada admiração.
- Porquê? - O chanceler virou para ele o rosto ainda encarquilhado pelo riso. – Por quê? Mas ... por ser
tão extraordinariamente divertido...
Na penumbra' cinematográfica, Bernard arriscou um gesto que outrora nem na mais completa escuridão
teria ousado esboçar. Seguro da sua recente importância, enlaçou a cintura da diretora. Ela cedeu
como um salgueiro que se inclina. Estava quase a colher um beijo ou dois, e talvez a beliscá-la
levemente às escondidas, quando, com um estalido, se abriram as cortinas.
- Será talvez melhor continuarmos a nossa visita - disse miss Keate, dirigindo-se para a porta.
- E isto aqui - disse o chanceler momentos depois - é a Central Hipnopédica.
Centenas de caixas de música sintética, uma para cada dormitório, estavam colocadas em prateleiras ao
longo de três paredes do aposento; na quarta parede, classificados em pequenas caixas, havia rolos de
inscrição sonora, nos quais estavam gravadas as diversas lições hipnopédicas.
- Mete-se o cilindro por aqui - explicou Bernard, interrompendo o Dr. Gaffney -, carrega-se neste
interruptor ...
- Não, naquele - retificou o chanceler, agastado.
- Naquele, então. O cilindro gira. As células de selênio transformam os impulsos luminosos em
vibrações sonoras e...
E pronto - exclamou o Dr. Gaffney, concluindo. Eles leem Shakespeare? - perguntou o Selvagem
quando, dirigindo-se aos laboratórios bioquímicos, passavam diante da biblioteca do colégio.
- De modo algum - disse a diretora, corando.
- A nossa biblioteca - explicou o Dr. Gaffney - contém apenas livros de referência. Se os nossos jovens
precisam de distracções, podem procurá-las no cinema perceptível. Nós não os incitamos a entregaremse
a diversões solitárias, sejam elas quais forem.

Cinco ônibus cheios de rapazes e raparigas, cantando ou silenciosamente abraçados, passaram diante
deles, deslizando pela rua vitrificada. - Estão agora a regressar do crematório de Slough - explicou o
Dr. Gaffney, enquanto Bernard, em voz baixa, marcava o encontro com a diretora para essa mesma
noite. - O condicionamento para a morte começa aos dezoito meses. Cada petiz passa duas manhãs,
todas as semanas, num hospital para moribundos. Lá encontram os brinquedos mais aperfeiçoados e
dão-lhes creme de chocolate nos dias em que há mortes. Aprendem dessa forma a considerar a morte
como uma coisa banal.
- Como qualquer outro processo fisiológico - acrescentou a diretora, em tom profissional.
«Às oito horas, no Savoy.» Estava tudo muito bem combinado.
No trajeto do regresso a Londres, pararam na fábrica da Companhia Geral de Televisão, em Brentford.
- Pode esperar-me aqui um instante, enquanto eu vou telefonar? - perguntou Bernard.
O Selvagem esperou e observou. Era justamente a hora da saída da turma principal do dia. Uma
multidão de trabalhadores das castas inferiores, em bicha diante da estação do monocarril, setecentos a
oitocentos homens e mulheres Gamas, Deltas e Epsilões, que não tinham, entre todos, mais de uma
dúzia de fisionomias e estaturas diferentes. A cada um deles o bilheteiro dava, juntamente com o
bilhete, uma pequena caixa de cartão com pílulas. A longa bicha de homens e mulheres avançava
lentamente.
- Que é que há nessas ... (lembrando-se do Mercador de Veneza) caixinhas? - perguntou o Selvagem a
Bernard quando este regressou.
- A ração diária de soma - respondeu Bernard de modo bastante incompreensível, pois estava a
mastigar um pedaço da goma de mascar que Benito Hoover lhe oferecera. - Dá-se-lhes quando acabam
o seu trabalho. Quatro comprimidos de meio grama. Aos sábados, seis.
Agarrou suavemente o braço de john e voltaram para o helicóptero.
Lenina entrou a cantar no vestiário.
- Pareces estar muito satisfeita contigo mesma - observou Fanny.
- De fato, estou satisfeita - respondeu ela. - Zip! - Bernard telefonou-me há meia hora. - Zip, zip! -
Tirou o calção. - Houve uma dificuldade inesperada... - Zip! - E pediu-me para levar o Selvagem esta
noite ao cinema perceptível. Tenho de me apressar. - E precipitou-se para a sala de banho.
«Ela está cheia de sorte», pensou Fanny enquanto via Lenína afastar-se.
Não havia rasto de inveja neste comentário; Fanny, com o seu belo coração, enunciava apenas um
fato. Lenina estava, efetivamente, cheia de sorte; tinha a fortuna de repartir com Bernard uma
generosa porção da imensa celebridade do Selvagem, a fortuna de refletir, na sua insignificante
pessoa, a glória suprema momentaneamente na moda. A secretária da Associação Fordiana das
Raparigas não a convidara para fazer uma conferência acerca das suas aventuras? Não tinha sido
convidada para o jantar anual do Clube Aphroditaeum? Não aparecera já num dos filmes das últimas
Novidades Perceptíveis, exibindo-se de uma forma sensível à vista, ao ouvido e ao tacto, diante de
inumeráveis milhões de espectadores disseminados pelo Planeta?
As atenções que várias personalidades de destaque lhe haviam dispensado não tinham sido menos
lisonjeiras. O segundo secretário do Administrador Mundial da região tinha-a convidado para jantar e
tomar o pequeno almoço. Passara um fim de semana com Sua Forderia o Grão-Mestre da justiça e
outro com o arquichantre de Canterbury. O presidente da Companhia Geral de Secreções Internas e
Externas estava em constante comunicação telefônica com ela e tinha ido a Deauville com o vice governador
do Banco da Europa.
- É maravilhoso, não há dúvida. E, todavia, por momentos
- confessara ela a Fanny -, tenho a sensação de obter qualquer coisa por abuso de confiança. Porque,
naturalmente, a primeira coisa que todos desejam saber é o que se sente quando se tem relações
amorosas com um Selvagem. E sou obrigada a dizer que não sei nada disso. - Abanou a cabeça. - A
maior parte dos homens não me acreditam, está claro. Mas é verdade. Bem desejaria que assim não
fosse - acrescentou tristemente e suspirando. - Ele é formidavelmente belo, não achas?
- Mas ele não gosta de ti? - perguntou Fanny.
- Às vezes parece-me que sim, outras parece-me que não. Faz sempre tudo o que pode para me evitar:
sai do quarto quando entro; não quer tocar-me, nem sequer quer olhar. Mas algumas vezes, se me viro
de repente, surpreendo-o a devorar-me com os olhos. E, depois, bem sabes como são os homens
quando gostam de nós.
Sim, Fanny sabia-o.
- Não Compreendo nada - disse Lenina. Ela não compreendia nada. E estava não apenas assombrada,
mas também um pouco entristecida.
- Porque, vê tu, Fanny, ele agrada-me. E cada vez lhe agradava mais. E eis que se apresentava uma
verdadeira oportunidade, pensava, enquanto se perfumava, depois do banho. - Puf, puf, puf. - Uma
verdadeira oportunidade. A sua exuberante esperança transbordou numa canção:
Aperta-me, narcotiza-me, querido;
Beija-me até ao coma;
Aperta-me, querido, aninha-me como a um coelhinho;
O amor é tão bom como o soma.
O órgão dos perfumes tocava um Capricho das Ervas, deliciosamente fresco, harpejos saltitantes de
tomilho e de alfazema, de alecrim, manjerico, murta e estragão- uma série de modulações audaciosas,
passando por todos os tons das especiarias, até ao âmbar cinzento, e uma lenta marcha invertida, pelos
bosques de sândalo, de cânfora, de cedro e de feno fresco ceifado (com tonalidades subtis, por
momentos, e notas discordantes -, uma baforada de pastel de rins, uma remota suspeita de estrume de
porco), para regressar aos aromas simples com os quais a melodia tinha começado. O último acorde de
tomilho desvaneceu-se; houve um ruído de aplausos e as luzes acenderam-se. Na máquina de música
sintética, o cilindro de impressão sonora começou a girar. Ouviu-se um trio para hiperviolino,
supervioloncelo e pseudo-oboé, que encheu então a atmosfera com a sua agradável languidez. Trinta a
quarenta compassos, e depois, sobre esse fundo instrumental, uma voz bem mais que humana começou
a vibrar; ora voz de garganta, ora voz de cabeça, ora sibilante como uma flauta, ora pesada de
harmonias prenhes de desejo, passava sem esforço do registro de baixo de Gaspar Foster aos extremos
limites dos sons musicais, até ao trinado agudo como o grito do morcego, muito acima do dó mais
elevado que deu uma vez (em 1770, na ópera Ducal de Parma e perante o espanto de Mozart) Lucrezia
Ajugari, única cantora que a história registrou.
Comodamente instalados nas suas poltronas pneumáticas, Lenina e o Selvagem aspiravam e ouviam.
Foi então a vez dos olhos e também da pele.
As luzes da sala apagaram-se; as letras chamejantes destacaram-se em relevo, como se se
suspendessem, sozinhas na escuridão. TRÊS SEMANAS DE HELICÓPTERO. SUPERFILME CEM
POR CENTO CANTANTE, FALADO SINTETICAMENTE, COLORIDO, ESTEREOSCÓPIO E
PERCEPTIVEL, COM ACOMPANHAMENTO SINCRONIZADO DE óRGÃO DE PERFUMES.
- Ponha as mãos nesses botões metálicos que estão nos braços da sua poltrona - sussurrou Lenina -,
pois sem isso não sentirá nenhum dos efeitos do perceptível.
O Selvagem fez o que lhe foi indicado. Aquelas letras chamejantes tinham entretanto desaparecido;
houve dez segundos de completa escuridão. Depois, repentinamente, deslumbrantes e parecendo
incomparavelmente mais sólidas do que teriam sido em autêntica carne e osso, bem mais reais que a
realidade, eis que surgiram as imagens estereoscópicas de um negro gigantesco e de uma rapariga
braquicéfala Beta-Mais, de cabelos dourados, estreitamente abraçados. O Selvagem sobressaltou-se.
Esta sensação nos seus lábios! Ergueu a mão para a levar à boca; o leve roçar dos lábios cessou; voltou
a pousar a mão no botão metálico; a sensação recomeçou. O órgão de perfumes, entretanto, exalava
almíscar puro. Em tom expirante uma superpomba de cilindro sonoro arrulhou: "U-uh". Efetuando
apenas trinta e duas vibrações por segundo, uma voz de baixo, mais que africana pela profundidade,
respondeu: "Aa-aah! U-ah! Uh-ah!", os lábios estereoscópicos voltaram a juntar-se e de novo as zonas
erotogéneas faciais dos seis mil espectadores do Alhambra titilaram com um prazer galvânico quase
intolerável. «Uh ... »
O assunto do filme era extremamente simples. Poucos minutos depois dos primeiros "uhs" e "aahs"
(depois de ter sido cantado um dueto e realizados alguns gestos amorosos sobre aquela famosa pele de
urso de que cada pêlo - o predestinador adjunto tinha inteiramente razão - se deixava sentir separada e
distintamente), o negro era vítima de um acidente de helicóptero e caía de cabeça. Pum! Que dor
lancinante por toda a fronte! Um coro de "auhs!" e de "ais!" elevou-se entre os espectadores.
O choque esmagou instantaneamente todo o condicionamento do negro. Sentiu-se invadido por uma
paixão exclusiva e dementada pela Beta loura. Ela protestou. Ele insistiu. Houve lutas, perseguições,
lutas com um rival e, para acabar, um rapto sensacional. A Beta loura foi raptada em pleno céu, onde a
guardaram, flutuante, durante três semanas, num isolamento ferozmente antissocial com o negro
demente. Afinal, depois de uma série completa de aventuras e inúmeras acrobacias aéreas, três belos e
jovens Alfas conseguiram libertá-la. O negro foi enviado para um centro de recondicionamento de
adultos e o filme terminou, de uma maneira feliz e conveniente, quando a Beta loura se tornou a
amante dos seus três salvadores. Detiveram-se um instante para cantar um quarteto sintético com
acompanhamento de grande superorquestra e de gardênias no órgão de perfumes. Depois a pele do urso
apareceu pela última vez e, no meio de um estrondear de saxofones, o último beijo estereofônico
exauriu-se na escuridão, o último roçar elétrico escoou-se nos lábios, semelhante a uma borboleta
noturna expirante que pulsa, cada vez mais levemente, cada vez mais imperceptivelmente, e acaba por
ficar imóvel, completamente imóvel.

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