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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Que é metafísica? - Heidegger [parte 4]


A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir,
e assim, justamente, nos acossa o nada, em sua presença, emudece qualquer
dicção do “é”. O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da
angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho
da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente
pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do
olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos
angustiávamos era “propriamente” — nada. Efetivamente: o nada mesmo —
enquanto tal — estava aí.
Com a determinação da disposição de humor fundamental da angústia
atingimos o acontecer do ser-aí no qual o nada está manifesto e a partir do qual
deve ser questionado.
Que acontece com o nada?


A RESPOSTA À QUESTÃO

A resposta, primeiramente a única essencial para nosso propósito, já foi
alcançada se tivermos a precaução de manter realmente formulada a questão do
nada. Para isto se exige que reproduzamos a transformação do homem em seu
ser-aí que toda angústia em nós realiza. Então captamos o nada que nela se
manifesta, assim como se revela. Com isto se impõe, ao mesmo tempo, a
exigência de mantermos expressamente longe a determinação do nada que não
se desenvolveu na abordagem do mesmo.
O nada se revela na angústia — mas não enquanto ente. Tampouco nos é
dado como objeto. A angústia não é uma apreensão do nada. Entretanto, o nada
se torna manifesto por ela e nela, ainda que não da maneira como se o nada se
mostrasse separado, “ao lado” do ente, em sua totalidade, o qual caiu na
estranheza. Muito antes, e isto já o dissemos: na angústia deparamos com o
nada juntamente com o ente em sua totalidade. Que significa este “juntamente
com”?
Na angústia o ente em sua totalidade se torna caduco. Em que sentido
acontece isto? Pois, certamente, o ente não é destruído pela a ngústia para assim
deixar como sobra o nada. Como é que ela poderia fazê-lo quando justamente a
angústia se encontra na absoluta impotência em face do ente em sua totalidade?
Bem antes, revela -se propriamente o nada com o e no ente como algo que foge
em sua totalidade.
Na angústia não acontece nenhuma destruição de todo o ente em si mesmo,
mas tampouco realizamos nós uma negação do ente em sua totalidade para,
somente então, atingirmos o nada. Mesmo não considerando o fato de que é
alheio à angústia enquanto tal, a formulação expressa de uma enunciação
negativa, chegaríamos, mesmo com uma tal negação, que deveria ter por
resultado o nada, sempre tarde. Já antes disto o nada nos visita. Dizíamos que
nos visitava juntamente com a fuga do ente em sua totalidade.
Na angústia se manifesta um retroceder diante de... que, sem dúvida, não é
mais uma fuga, mas uma quietude fascinada. Este retroceder diante de... recebe
seu impulso inicial do nada. Este não atrai para si, mas se caracteriza
fundamentalmente pela rejeição. Mas tal rejeição que afasta de si é, enquanto
tal, um remeter (que faz fugir) ao ente em sua totalidade que desaparece. Esta
remissão que rejeita em sua totalidade, remetendo ao ente em sua totalidade em
fuga — tal é o modo de o nada assediar, na angústia, o ser-aí —, é a essência do
nada: a nadificação. Ela não é nem uma destruição do ente, nem se origina de
uma negação. A nadificação também não se deixa compensar com a destruição
e a negação. O próprio nada nadifica.
O nadificar do nada não é um epis ódio casual, mas, como remissão (que
rejeita) ao ente em sua totalidade em fuga, ele revela este ente em sua plena, até
então oculta, estranheza como o absolutamente outro —em face do nada.
Somente na clara noite do nada da angústia surge a originária abertura do
ente enquanto tal: o fato de que é ente — e não nada. Mas este “e não nada”,
acrescentado em nosso discurso, não é uma clarificação tardia e secundária, mas
a possibilidade prévia da revelação do ente em geral. A essência do nada
originariamente n adificante consiste em: conduzir primeiramente o ser-aí diante
do ente enquanto tal.
Somente à base da originária revelação do nada pode o ser-aí do homem
chegar ao ente e nele entrar. Na medida em que o ser-aí se refere, de acordo
com sua essência, ao ente que ele próprio é, procede já sempre, como tal ser-aí,
do nada revelado.
Ser-aí quer dizer: estar suspenso dentro do nada.
Suspendendo-se dentro do nada o ser aí já sempre está além do ente em sua
totalidade. Este estar além do ente designamos a transcendência. Se o ser-aí, nas
raízes de sua essência, não exercesse o ato de transcender, e isto expressamos
agora dizendo: se o ser-aí não estivesse suspenso previamente dentro do nada,
ele jamais poderia entrar em relação com o ente e, portanto, também não
consigo mesmo.
Sem a originária revelação do nada não há ser-si-mesmo, nem liberdade.
Com isto obtivemos a resposta à questão do nada. O nada não é nem um
objeto nem um ente. O nada não acontece nem para si mesmo nem ao lado do
ente ao qual, por assim dizer, aderiria, O nada é a possibilidade da revelação do
ente enquanto tal para o ser-aí humano. O nada não é um conceito oposto ao
ente, mas pertence originariamente à essência mesma (do ser). No ser do ente
acontece o nadificar do nada.

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