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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Resenha Resumo dos Capítulos Senso Comum e Vivência - Rosilda da Silva

Elogio da Razão Sensível

Para muitos estudiosos e cientistas o senso comum dever manter distância do discurso especializado caso se queira realmente fazer ciência.
                Entretanto, Maffezoli (1998) faz oposição a esse pensamento ao expor que o senso comum tem em si validade e merece atenção, pois, acentua o autor, é ele quem serve de substrato ao rigor científico alimentando sua legitimidade.
Para dar suporte a sua tese, apoia-se em Heidegger ao citar que o trabalho filosófico não é exclusivo de pessoas originais, daqueles que buscam  no intelecto referendar suas teorias, pois os camponeses, em seu ambiente de trabalho também o fazem e, por conta disso, têm um saber incorporado que Maffezoli chama de “enraizamento dinâmico” e que de geração em geração assegura a perduração societal.
                A partir disso, apresenta mais um argumento para validar sua teoria, afirma que é a progressão intelectual que procede da vida e não o contrário; portanto, tem-se ao lado da razão, a paixão e a emoção, que ocupam um lugar cada vez mais importante, confrontando com a premissa do distanciamento entre o comum e o científico.
                Outro teórico que também salientou a importância do senso comum foi Howard Becker, ao afirmar que são tanto o senso comum quanto a ciência, que prescrevem a observação atenta de todas as coisas para então se formular teorias, o que por sua vez mostra que a ciência se pauta no senso comum mesmo que disfarçada sob alguma outra ótica.
                Contudo, Maffezoli esclarece que não se faz necessário abdicar do intelecto, pelo contrário, é preciso que ambos, intelectualidade e senso comum caminhem juntos, pois, um indivíduo mesmo estando emaranhado em conceitos tem uma vida social que repousa e compartilha emoções e afetos, tão próprios do cotidiano. Lembra ainda que antes de ser individualizado, o gênio, o intelectual, também é coletivo e possui uma sabedoria instintiva, componente essencial da vida social.
                Fernando Pessoa (O Livro do Desassossego), citado pelo autor, já apresentava em sua poesia uma premissa que serve para alicerçar o pensamento contrário ao distanciamento entre o comum e o intelectual, “sábio é aquele que monotoniza a vida, pois o menor incidente adquire então a faculdade de maravilhar” ressaltando, pois, a sabedoria presente no ordinário capaz de reencantar o mundo.  E, é esta a ideia que o autor de Elogio da Razão sensível acredita constituir, a longo prazo, o corpo social.  São estas banalidades, as vivências cotidianas, o senso comum, que ele afirma precisarem ser assumidas intelectualmente, como condição de possibilidade à razão, legitimando-a; porque segundo ele,  há uma vivência comum antes de qualquer racionalização exprimindo o que constitui a sociedade e enriquecendo o saber.
                Georg Simmel, citado por Maffezoli, no apogeu da modernidade, também ratificava o preceito de senso comum, criticando o trabalho normativo e impecável. Afirmava que a progressão científica nada tem a ver com a cultura de “consumação da vida” e que o rigor de se trabalhar o essencial é uma característica pedante de desconexão com a vida real.
                Outros autores também defenderam a ideia do senso comum como elemento de base para o discurso especializado empregado pelos cientistas. Foi o caso de C. G. Jung, que pontuou a vida e os imaginários dela advindos como de clara eficácia para serem levados a sério; de Rilke, que apontava a vivência dos problemas como suas próprias soluções e de Elias Canetti, que em “Auto-da-Fé” apresenta a rejeição da túnica do erudito em troca da bondade de um sábio chinês. E, para a ênfase colocada sobre essa matéria viva é que Maffezoli ousadamente chama de fecundidade científica, reconhecendo os elementos subjetivos como partes integrantes das histórias humanas. Usa ainda, para esclarecer, a metáfora “a água da objetividade é boa, mas o vinho do entusiasmo não pode faltar”.  Com isso, o autor estabelece que senso comum e fazer científico devem ser incorporados, sem que um anule o outro, mas pelo contrário, que o hibridismo de ambos resulte em um saber mais completo e melhor fundamentado evocando a vala de um e a técnica de outro.
               

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