— Aonde vão?
Perguntei aos que ao meu lado estavam vendo o cavalgar ritmado, a irmandade de sons
tão envolvidos uns com os outros, como eu estava com eles, naquele momento.
Presenciava a cada ano o reunir dos cavalos. O ar novo inebriava a cidade cuidadosamente,
envolvendo a cada um.
— Dar-me-ia o prazer da montaria? – perguntava-me um desejo.
Andava no calor de todo dia, cortando as ruas 8 de Dezembro e Amâncio Mota. Andava
na manhã tão recente, que poderia sentir o bocejo e o espreguiçar do dia. Os carros
traziam gente e cada vez com mais cara de gente, na pureza de andar livre entre pessoas,
num corpo singular em que a seca some e o sol se cala reprimido.
Chegando à Olavo Pinto, via sorridente a farinha e a rapadura que se vendem sozinhas,
a esteira de pindoba, tecida pelas mãos mais nobres, as mesmas que tecem a vida da sexta,
da feira, e, enfim, da sexta, dia de feira.
Via as mesmas senhoras acocoradas, vendendo licuri, beiju, hortaliças e tudo quanto
podiam arrancar do chão.
Escorregava os olhos entre as evidências do sertão onde me encontrava. Homens vestidos
de couro, certamente cavaleiros.
Mas seria? Se não era o acordeão, que já conjecturava o acontecimento...
Tudo lá parecia denunciar a marcha de cavalos, repetindo o que se deu há muitos anos,
a origem da cidade e da vida daquela forma.
Os passos começam lentos, baixos, tímidos. E o que era? O que causaria aquela revolta
de movimentos, para que em instantes estivessem bravios, tensos, fortes, como quem canta
toda a força de uma gente? Num momento o povo para, o mundo para, a fim de que o mais
altivo instrumento toque: o berrante toca, porém não lhe direi sobre este exato momento,
não poderia, não acharia em toda a minha literatura palavras queo descrevam com a fineza
que ele exige. Sendo assim omito.
É o momento em que o coiteense reconhece o coiteense, incompreensível para qualquer
ser que não nasceu naquela terra. E, quando nos encontramos, tornamo-nos a própria
ressonância, o próprio som, entregue à flor do sisal. Mas quem resistiria?
Professora: Eugênia Mateus de Souza
Escola: E. E. Durval da Silva Pinto • Cidade: Conceição do Coité – BA
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