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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Quando o amor floresce de um ipê - Aluna: Taiana Cardoso Novais

O sol já se punha no horizonte. Chegava o crepúsculo do dia. Sentada em um dos bancos
da praça, eu olhava o que restou da velha árvore – o Ipê-Amarelo – sem acreditar que
ela fora desmembrada da minha e da vida de outras tantas pessoas com tanta violência.
Enquanto tentava aliviar a dor em minha alma flagelada e aprisionar o choro que ameaçava
escapar, perdi-me em pensamentos... Analisava o lugar onde vivo.
De maneira especial, o bairro é mais bonito com o cair da noite. Ele se metamorfoseia.
Dá à cidade de Natal o ar de cidade grande que nunca teve. As luzes dos faróis dos carros
refletem a agitação do cotidiano nas pessoas que por ali circulam, transformando-o num
coração pulsante, derramando-se em brilho e beleza. Fervilhando de vida.
Para mim, entretanto, toda essa beleza estava morta. Meu lugar preferido fora mutilado.
A pequena praça da Rua Ismael – onde moro – perdera seu maior tesouro: o Ipê. E, ali
à minha frente, ela gemia, chorava, sangrava, pedia socorro. Há horas atrás, perdera o seu
coração. O assassino, munido de uma serra elétrica, cortara o Ipê centenário e o levara dali.
Não houve avisos. Ninguém estava preparado.
Ao meu lado, em um dos bancos órfãos, um casal de namorados fazia as pazes. Tive a
impressão de que os conhecia. Decerto já os vira antes.
De repente, lembrei-me deles: meses atrás, vira-os nessa mesma praça. Lembrei-me da
garota sob a sombra da frondosa árvore lendo A Moreninha, enquanto o garoto a observava
de perto. Parecia haver encantamento naquele olhar que o impulsionou a criar coragem,
suspirar e falar à garota. Depois, delicadamente, colocara uma flor de Ipê no cabelo dela,
logo atrás da orelha. E a olhou nos olhos assim como Augusto fizera ao ver Carolina pela
primeira vez.
Aquele olhar fora tão terno, mágico. Encantador. Muito mais encantador que o romance
de Joaquim Manuel de Macedo que ela lia. A serenidade que se emanara deles envolvera-
me como uma aura angelical.

Voltei dos pensamentos e reencontrei os dois sob à sombra daquela tragédia. A menina
tinha nas mãos um galho da árvore que fora brutalmente arrancada, da qual pendia uma
única flor:
— Vou plantá-la novamente – escutei-a falando – como um tributo ao recomeço do
nosso amor.
Sorriram um para o outro.
Nesse momento, foi como se os mais belos sonhos tivessem tomado forma. A forma
mais pura que pode haver: a forma do Ipê-Amarelo.

Professora: Ladmires Luiz Gomes de Carvalho
Escola: E. E. Professor José Fernandes Machado • Cidade: Natal – RN

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