Era noite, e eu aguardava o troco do analgésico que havia comprado na farmácia da
esquina. De repente, ouvi aquelas duas pessoas que, pelo sotaque, reconheci que não
eram da minha terra. Diziam, em tom de zombaria, que aqui o relógio parou. Quase não
consegui receber o dinheiro, tamanha a minha vontade de sair de perto delas.
Cheguei em casa e percebi que continuava chateada com aqueles comentários.
É certo que é uma cidade pequena e pouco desenvolvida, mas não é por isso que
tenho de aceitar alguém falar mal dela.
Todos devem ficar sabendo que os ponteiros do relógio também giram por aqui e, se
não existem os shopping centers das grandes capitais, tem as bancas de feira e as lojinhas
onde se pode encontrar belas roupas, que, se não são de última moda, vestem muito bem
as “Giseles” deste lugar.
Fico aqui pensando que na minha terra o relógio não parou, só não possui um Maracanã,
mas possui o Poeirão, que diverte jogadores e torcedores durante as partidas de
futebol nas tardes de domingo.
As horas continuam passando nesse lugar. Só não há teatros, cinemas e boates. A
cultura é passada de pai para filho pela dança do boi e pelo pagode do Zabé Fulô. A juventude
também se diverte nas serestas ao ar livre.
Minha cidade não possui um Parque Ibirapuera, mas os quintais estão cheios de balanços e
gangorras feitos nos galhos das goiabeiras, mangueiras e cajueiros onde a meninada faz a festa.
Aqui o relógio continua funcionando, sim! E, mesmo sem um Cristo Redentor, lá de
cima do Morro da Cruz é possível vislumbrar toda a minha cidade em um só olhar.
Não, o relógio não parou, não! E já se ouve falar em minha cidade de assaltos, assassinatos
e atropelamentos. Seria melhor que o relógio tivesse parado? Não sei.
Ainda há esperança e, antes que eu esqueça, você precisa saber que eu moro em
Regeneração.
Professora: Leila Pereira de Araújo
Escola: E. M. ABC da Alegria • Cidade: Regeneração – PI
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