A figura mistura-se ao gostoso jeito mineiro piraporense descontraído irreverente,
sempre tem um no nosso dia a dia.
Morador do Bairro Sagrada Família, seu Jandiro já ganhou fama na cidade como o
“contador de causos”.
É só escolher uma das tardes ensolaradas debaixo de mangueiras ou no Clodoaldo que
encontraremos esse exímio poeta. Isso mesmo: um poeta da terra do rio São Francisco.
Foi exatamente numa dessas tardes à sombra da mangueira que cisma em vigiar o rio
que abordei a personalidade em questão, parecia adivinhar minha presença, mesmo
porque somos nós, crianças, que alimentamos sua fome de inventar.
— Tá indo pro rio menino?
— Tô – freei a bicicleta com freio a chinelo.
— Uai, não acabei de ver uma baleia descendo as correntezas. – Só então olhou para
mim, economizando um dos olhos. Confesso, não resisti. Encostei a bicicleta no meio-fio e
esperei pelo resto da história.
É sempre assim que acontece.
Como pardal que acha comida e logo aparecem outros e depois outros... a meninada
vai chegando para ouvir as histórias. E tem sempre confrontos:
— Não tem baleia no rio, não, seu Jandiro.
— Nesse tem, menino. Nesse tem tudo! Ela errou o caminho do mar porque anda mexendo
o desvio do São Francisco. Então, veio parar aqui (explicação geográfica). Tem que
ter muita sorte pra ver uma delas.
E continua: – Eu consertei a ponte nova que ela quebrou com a cauda. Mas tem aquela
trinca lá até hoje. E na Marechal Hermes ela passou sem quebrar. Quando os surubins apareceram,
eu emprestei o pente para eles pentearem a cabeleira. Esses peixes têm uma
substância própria, fluzecupina (ou alguma coisa parecida), que, com o tempo, é capaz de
desenvolver cabelo (explicação científica). Eu consegui sequer um caboclo d’água porque
fui sugando o oxigênio dos peixes que encontrava pelo caminho.
— E os peixes?
— Infelizmente morreram. A lanterna que ganhei tem a luz mais forte que a do sol, mas
não posso mostrar. Eu troquei com o caboclo d’água numa polveira.
E antes que alguém perguntasse... o caboclo pegou a polveira de um pescador.
Nesse dia eu ouvi essa e muitas outras histórias. A maioria repetidas ou, melhor
dizendo, reinventadas. Deixei o rio para depois. Pedalei para casa levando comigo o meu
e os outros risos da meninada. A cada dia me convenço de como é gostoso brincar de
acreditar nas lorotas do seu Jandiro e como coisas tão simples ainda encantam as crianças
do lugar onde eu vivo.
Professora: Silvana Santana de Moura
Escola: E. M. Dona Rita Santos Braga • Cidade: Pirapora – MG
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