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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Moinho das saudades - Aluna: Brunna Eloísa Coletto

Numa noite gostosa de dormir, nas minhas contas umas três horas da manhã, selei meu
cavalo e botei o pé na estrada. Ia no passinho do cavalo e nas batidas do coração. O medo
tomara conta de mim. O mato, bordado de animais ferozes que a qualquer momento poderiam
me atacar.
Com a esperança de que o dia amanhecesse, ia cada vez mais devagar, abrindo mato
com as mãos para poder passar. Os bichos gritavam do outro lado da mata. Mas eu precisava
seguir, pois ao amanhecer o moinho estaria funcionando e daria tempo de voltar no
mesmo dia.
O medo era minha constante companhia. Eu sabia que ir até o moinho era meu compromisso
e não podia desistir. Eu tinha de ser corajosa. Porém, a paisagem me deixava cada
vez mais medrosa. Sem uma lamparina, sem nada, somente as árvores que tapavam até o
clarão da lua e das estrelas. Ouvia e via coisas que só a imaginação permitia.
Chegando ao alto de um morro, avistei o céu lindo. Parecia ter chamas no horizonte e
bolas de algodão. Os pássaros brincando de pega-pega e o galo em cima do poleiro a cantar.
Fiquei mais tranquila quando veio em frente de meus olhos aquele maravilhoso cenário.
O dia amanheceu finalmente, deixando meus medos e minhas imaginações mato adentro.
Para chegar ao moinho que se localizava na comunidade do Leste não havia estradas,
eram só piques que nós mesmos fazíamos no meio do capim. Cavalgando e cavalgando,
sabia que estava cada vez mais perto. Logo olhei para a frente e vi o moinho com seus
enormes cata-ventos a girar.
Chegando lá, minha tia, que era dona do moinho, estava saindo de casa com um balde
na mão para ir tirar leite. Quando ela me viu, largou o balde e foi até o moinho dar o que eu
precisava. Com a farinha em mãos, agradeci.
Peguei minhas coisas e comecei a andar, para chegar logo a casa, pois sabia que não
era perto e que talvez enfrentasse dificuldades, nem um “chima” não pude tomar.

No caminho de volta, o medo não conseguiu me alcançar, porque ainda estava claro e
eu podia enxergar se havia algum perigo. Os fantasmas da imaginação não se atreviam a
aparecer de dia.
Alguém sempre tinha que ir buscar a farinha, que era comida no café da manhã, no almoço
e no jantar. Eu, sendo a mais velha, não tinha escolha, rezava e ia.
Trilhei esse caminho por um longo período. Perdi a conta de quantas orações fiz para
que a trajetória fosse tranquila. Porém, meu suspense só passou quando meu irmão cresceu
e assumiu minha função. Naquele tempo tudo era mais difícil que hoje.
Tenho saudades daquele tempo em que convivia abertamente com a natureza, mesmo
com seus perigos. Mas meu relógio andou muito rápido e os melhores tempos da minha
vida ficaram apenas na lembrança, na memória. Fui uma das primeiras pessoas a habitar
essa pequena e humilde cidade, porém com uma enorme história, de que me orgulho em
contar às pessoas mais novas.
Memórias são coisas do passado que o tempo não rasura, e isso que conto é um pedaço
de minha vida que guardo dentro de uma caixa chamada coração.

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Natalina Gava, 78 anos.)
Professora: Metilde Marafon Gava
Escola: E. E. B. Santa Helena • Cidade: Santa Helena – SC

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