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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Luz, fé, sabor e ação - Aluna: Priscilla Nicola Silva

Impossível esquecer-me da linda cidade onde passei toda a minha vida. Quando pequena,
recordo ser também a cidade uma criança que começava a crescer junto comigo.
Luz! Os postes de madeira foram colocados nas poucas ruas da minha cidadezinha. Eu
ficava maravilhada com aquelas “estrelas” tão próximas, possíveis de serem tocadas. Os
adultos diziam: “É obra do governo, o progresso chegou”. Acostumados com a novidade,
voltamos à nossa rotina.
A Igreja Matriz: pedacinho do céu mesmo, sabe por quê? Foi construída pela comunidade,
cada um cuidando da sua maneira; com o que podia e com seus respectivos talentos.
No ano de 1920 ficou totalmente pronta. Nas paredes e no teto, passagens bíblicas que
retratam a vida do nosso padroeiro, São João Batista. A imagem que mais me impressionava
era a da cabeça de São João numa bandeja. Mamãe me explicou o motivo que levara o nosso santinho à morte. Eu sentia medo, pena, e ficava profundamente triste com tanta
maldade. Terminada a missa, bastava sair da igreja para os meus sentimentos começarem
a mudar. Ali o cheiro da comida mineira dominical alvoroçava minha vontade de comer. Era
perceptível o cheiro da macarronada, do frango caipira e do doce caseiro, que era meu
maior desejo. Como eu gostava de doces! E por me lembrar de gostosuras me vêm à memória
as festas de São João. Noites claras, enluaradas, enfeitadas e temperadas com brincadeiras,
leilões, guloseimas, bingos e barraquinhas. Eu não tinha dinheiro para comprar
nada do que via; no entanto, papai trabalhava mais do que nunca nessa época para, ao
menos, comprar para mim e meus irmãos um lindo e saboroso cartucho recheado com os
docinhos que faziam um rio correr na boca.
Outra diversão daquele tempo era participar das brincadeiras do circo. Constantemente,
nossa cidade recebia a visita de parques e do circo Lexo-Lexo. Confesso que tinha enorme
preferência por este último! Ali, no terreno onde montavam aquela tenda, meus sonhos
se erguiam também. Nos teatros, eu era sempre uma personagem. Faltava um autor, outro
ator, eu e meu irmão Antônio tínhamos o que fazer; corríamos em volta daquele circo o dia
todo e nos divertíamos muito, pois quando entrávamos em cena o circo já estava lotado. E
era possível ouvir alguém dizendo: “Olha, os filhos do Filipim”. Eu me sentia bastante orgulhosa,
quase me esquecia o que tinha para representar, mas aí era que todos gargalhavam...
Hoje, apesar da saudade daqueles tempos, vejo com grande satisfação as mudanças
desta cidade. Lugar tranquilo, terra de amigos que não se encontram em canto nenhum. É
uma cidade pequena, se comparada a outras, vizinhas, mas posso garantir que é aquela
que se destaca por sua beleza, pelos recursos e empregos e por sua gente tão capaz e
competente, gente feliz.

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Terezinha Peres da Silva Nicola, 65 anos.)
Professora: Joelma Freitas da Fonseca
Escola: Colégio Municipal Arceburguense • Cidade: Arceburgo – MG

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