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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Lembranças que não se apagam - Aluna: Bruna Elisa Lasch

Completei meus 93 anos há poucos dias. Nasci e cresci nesta pequena e aconchegante
cidade chamada Lagoa dos Três Cantos. Aqui vivo imensamente feliz, recordando as
lembranças que nem o tempo, nem a idade apagarão.
Lembro-me muito bem das casas existentes na época, feitas de madeira bruta e tábuas
largas. Era numa dessas casas que eu morava. Lá eu vivia de forma simples e tranquila, sem
muito luxo, e eu era feliz... Dentro da casa havia o básico: um armário para guardar pão e
schimia, mais um outro armário que servia para guardar louças, e na parte superior as
portinhas de vidro exibiam lindos guardanapos bordados pela vovó. Ainda me recordo das
cadeiras feitas com belas tranças de palha e dos colchões de palha que faziam um tremendo
barulho quando a gente se virava.
Recordo-me ainda do fogão preto com flores coloridas que fazia as deliciosas comidas e
servia para deixar o cheiro do feijão no ar, sem deixar de comentar que as louças a gente lavava
em enormes bacias de alumínio com panos e sabão feitos num tacho preto, lá fora no terreiro.
Naquele tempo, as ruas eram de terra e pedregulho, passavam as carroças puxadas
por bois ou charretes puxadas a cavalos e claro... passavam alguns poucos carros. E quando
estes passavam ao anoitecer a poeira ficava pelo ar, parecendo uma verdadeira nuvem
marrom que demorava para passar, dando muitas vezes a sensação de sufoco e falta de ar.
Aos domingos a gente visitava os vizinhos, sentava ao redor do fogão a lenha, enchia o
chimarrão com a água da chaleira e contava causos. Os brinquedos então nem se fala, não
tinha essas “coisas” de internet, MSN, Orkut. As crianças se envolviam em brincadeiras sadias
em potreiros, com bolas de meias ou bonecas feitas de pano. Ah, se eu me lembro
daquelas tardes em que a gente procurava os barrancos, sentava em cima de tábuas e
resvalava! Que sensação maravilhosa! Eu hoje vejo que é tudo muito fácil, vai-se às lojas e
compra-se tudo pronto: os brinquedos, as comidas...

Eu caminhava quilômetros até chegar à escola, descalço, tanto no verão como no inverno.
Levávamos merenda de casa e se não gostássemos a gente trocava o lanche com
outros colegas. Huuuuumm, que delícia! A merenda dos outros era sempre melhor.
Em época de estiagem, quando o poço lá de casa secava, caminhávamos quilômetros
em busca de água, carregando cestos de roupa para lavar. Hoje em dia as pessoas simplesmente
jogam as roupas dentro da máquina, apertam uns botões e pronto... O aparelho
puxa a água, lava, bate, enxuga e torce. E, puxa vida!, as pessoas vivem insatisfeitas, parecem
que estão sempre de mal com a vida.
E assim o tempo foi passando e a cada novo dia agradeço a Deus por ter me dado
tantos anos de alegria e rezo ao meu anjo da guarda que continue me iluminando e me
protegendo no decorrer do meu caminho para que eu possa continuar acompanhando,
com a bênção divina, o progresso deste lugar lindo onde eu vivo.

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Ilsi Irma Cassel, 72 anos.)
Professora: Loreni Lenita Lasch
Escola: E. E. E. M. Joaquim José da Silva Xavier • Cidade: Lagoa dos Três Cantos – RS

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