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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Histórias, um poema, uma canção - Aluno: Edson Liberato Pereira de Araújo

De minha carteira, me deparo com ela: Deise. É o nome da superação das minhas expectativas
para saber sobre raízes de sua vida, onde ela e eu vivemos.
Chegou alegre e disposta, já eu, com o rosto fechado e sem pensamentos. Quem diria
que uma pequena e doce criatura de cabelos grisalhos fosse tão grande fonte de sabedoria.
No braço seu violão, revestido de capa preta para a caminhada, também um sorriso enorme
e brilhante em seu rosto já um pouco envelhecido.
E começou a contar suas lembranças como num filme, daqueles de cinema, em que
você se senta lá atrás, quase não entende, mas sabe que é uma grande história...
Onde moro tinha antigamente apenas duas ruas: Rua de Cima e Rua de Baixo. Na Rua
de Cima passavam grandes caminhões, daqueles de carroceria de todo tamanho. Na Rua de
Baixo... Bem, para falar a verdade, ficava debaixo da Rua de Cima e tinha escondidinha,
entre um matagal, um enorme espaço onde havia uma grandiosa árvore, aonde eu e a
molecada íamos para brincar e chorar às escondidas.
Na cidade, havia também um clube, que era dividido em Rioacimense e Sansa. Rioacimense
era o mais pobre. Eles não se misturavam. Havia bailes. As moças juntamente com
suas mães faziam roupas exuberantes. Meu Deus! Os rapazes iam todos de social. Dançávamos
todos bem agarradinhos. Os moços chamavam as meninas para dançar; se não
quisessem, não tinha conversa e pronto! Na década de 1980, surgiu o Belisquete, sua
graça, em mim faziam contorção. E era louca a vontade de rir de tudo aquilo, parece até
com esses funks, axés, não sei! Dançava todo mundo separado. As bebidas, na festa, nós
mesmos fazíamos: hi-fi, o chique da época, era laranja com rum; cuba-libre, que era vodca
com limão; caipirinha; e cerveja só nos dias quentes. Esse prédio não é mais assim. Hoje o
salão vazio enche de saudades os jovens daquela época.
Havia um trem que saía as cinco e meia da manhã e voltava às quatro e quarenta da
tarde, cuspindo gente! Eram os jovens das cidades vizinhas, ou até mais longe, como alguns bairros de Belo Horizonte. As meninas e os meninos, principalmente eu e meus colegas,
fazíamos a maior “zoeira” nos “Lots”, que eram os passeios para esperar o trem na estação.
Não se tem mais trem, e a estação transformou-se na biblioteca pública.
Muitas construções foram feitas e as duas ruas multiplicaram para tantas, que nem se
dá para contar de cor. De estação, hospital e centro social urbano, temos agora o CRAS,
muitas escolas municipais, cerca de sete a oito, açougues, muitas lojas de roupas, de
calçados, coisas que antes, roupas e sapatos, só nossos pais faziam. A carne era de crio,
bovinos, suínos, aves...
O carnaval era o centro das atenções para os de outras cidades. Rio Acima, nem se fala!
Não tinha espaço para ver os bonecos, muito parecidos com os de Olinda. Meu pai era
quem os fazia, grandes e coloridos – um encanto! Tinham por dentro uma pessoa que
manipulava as armações, que fazia tudo neles se movimentar, como se fosse realmente uma
pessoa. Engraçado... Até hoje não descobri o que faziam os olhos vermelhos piscarem!
Bons tempos os que vivi! Com um pouco de dificuldade, mas com grandes momentos
de felicidade que, num todo, compõem minha história.
Chegando ao fim, Deise pegou seu violão em que cada corda era um som que faz meu
corpo e mente se encantarem. Tocou um samba em homenagem ao seu esposo.
Memórias são o seu forte, pois leu um poema que compôs com as memórias de seu pai que
começa assim: “Quem melhor para falar dessa cidade do que alguém mais velha do que ela?”
E lá foi ela. Na capa, o violão. Em sua bagagem, suas memórias.

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Deise Fernandes Correa Elias, 52 anos.)
Professora: Márcia Luiza Catarino
Escola: E. M. Honorina Giannetti • Cidade: Rio Acima – MG

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