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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A minha cidade querida - Aluna: Francieli Mabel Villagra

Conversando com a minha avó, fiquei sabendo mais sobre a sua vida.
Quando cheguei a esta terra, ainda adolescente, vinda do sertão nordestino, estranhei
muito: as comidas diferentes, o sotaque, muitas coisas que eu conhecia com um nome aqui
tinham outros.
Meu pai era agricultor, logo arrumou emprego numa fazenda bem próxima, e minha
mãe era professora; ela bordava muito ponto cruz, que era moda; as vizinhas encomendavam
e ela fazia. Nas horas de folga dava aulas particulares para algumas crianças cujas
mães a procuravam por não ter uma escola por perto.
Era uma vila, com um canavial ao redor das poucas casas que existiam e muitos plantios de
mandioca. Como era difícil transitar nos dias de chuva! Mas isso não impedia nossos passeios.
Aqui moravam poucas famílias, somente as duas primeiras fundadoras e proprietárias
do local.
Diversão no local não existia, tínhamos que nos deslocar até a cidade vizinha para as
festas do padroeiro ou quermesse (festas juninas), que eram as mais frequentadas pelas
famílias. Outra diversão era ir ao cinema de seu Antônio, que trazia os filmes da capital e
passava para os poucos habitantes existentes. Lembro-me bem de Love story e A lagoa
azul. Como eram bonitas as histórias de amor contadas naquele tempo! Lembro-me do
Charles Chaplin, que era muito engraçado, a gente dava muitas risadas com seus trejeitos.
Foram chegando famílias de outros Estados e construindo suas casas e montando seu
comércio. Primeiro, foi a marcenaria de seu Honório, gaúcho, que começou a fazer móveis,
cada um mais bonito que o outro. Depois, seu José e d. Zezinha, que montaram um armazém
onde encontrávamos muitas coisas. Lá comprávamos para pagar no final do mês, quando
o meu pai recebia o salário, mas para isso tínhamos uma caderneta em casa, onde
minha mãe controlava tudo para não ultrapassar o ganho de meu pai e ainda sobrar para
comprar roupas e calçados para todos.

A cidade foi crescendo, e foi criada uma escola, onde a primeira professora foi minha
mãe, d. Elza. Tinha somente uma sala de aula, e foi lá onde terminei o primário. Também foi
nessa época que conheci o meu primeiro namorado. Estudávamos na mesma série e começamos
a “flertar”, que era como se chamava a paquera de antigamente. Ele havia chegado
de São Paulo com seu pai, que comprara uma fazenda pertinho daqui, mas demorou pouco,
resolveu ir embora para estudar.
Como era saudável o namoro daquele tempo. A gente trocava bilhetinhos amorosos;
também brincava de passar o anel. Fazíamos um círculo e uma pessoa ia passando o anel e
só o deixava cair na mão de quem gostasse mais. Era uma brincadeira simples, mas, para
nós, divertida.
A vila cresceu rápido, virou cidade, e logo foram construídas escolas municipais, estaduais
e particulares. Também foi quando apareceu um italiano que construiu uma indústria de farinha
de trigo que depois passou a fazer macarrão, arroz e biscoito. Esta trouxe muitas famílias
para trabalhar aqui, e a população foi aumentando. Daí veio a necessidade de mais casas, e
apareceram os conjuntos habitacionais, e hoje temos esta cidade bonita e acolhedora.
Formei-me no magistério e comecei a lecionar em uma das escolas estaduais, depois fiz
o curso de matemática e continuei como professora. Um dia chegou um rapaz para a vaga
de português. Ele era muito sério, mas simpático. Fui a primeira a puxar conversa com ele,
ficamos amigos e depois começamos a namorar, foi pouco tempo de namoro. Naquela
época o rapaz não podia “alisar banco” por muito tempo e logo nos casamos. Tivemos dois
filhos, que nos deram quatro netos.
Hoje estamos aposentados, tenho 65 anos e ele, 70. Passeamos na casa dos filhos, e
estamos muito felizes com a família que construímos, com a vida que temos e com a cidade
em que vivemos, porque ela nos acolheu como filhos e passamos a amá-la como se fosse a
nossa terra natal. Por isso a chamamos de “minha cidade querida”.

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Dulce Pereira Melo, 65 anos.)

Professora: Maria das Graças de Sá Cavalcante
Escola: Leonor de Souza Araújo – Polo • Cidade: Nova Alvorada do Sul – MS

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