Por Pâmela Oliveira, na VEJA.com:
Com black blocs prontos para tumultuar as ruas e uma multidão de turistas a caminho, o Rio de Janeiro sofreu uma baixa na equipe treinada para esse tipo de policiamento. A doze dias da Copa do Mundo, o Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos (BPGE) perdeu seu comandante, o tenente-coronel Wagner Villares de Oliveira, à frente da unidade desde sua criação, em outubro de 2013. O oficial entregou o comando, na última sexta-feira, insatisfeito com as condições de trabalho e preocupado com o risco elevado de tumultos, no Estado que mais teve protestos ao longo de todo o ano passado.
Procurada pelo site de VEJA, a PM
não explicou a razão da exoneração do tenente-coronel Villares. Em nota,
afirmou que “trocas de comando fazem parte da rotina da Corporação”. Segundo a
PM, o subcomandante do BPGE, tenente-coronel Heitor Henrique Pereira, que assumiu
o comando, também está no Batalhão desde a sua criação. A troca, no entanto,
não foi um procedimento de rotina. O “batalhão”, de fato, era apenas um grupo
de policiais para o qual foi entregue uma missão e algum treinamento especial.
Antes de receber este nome, eles eram apenas os “alfanuméricos”, identificados
por letras e números nas fardas, para permitir que os casos de abusos nas
manifestações fossem denunciados. O caso entra para a coleção de medidas de
gabinete criadas mais para ter impacto na opinião pública do que resultados de
fato.
Policiais ouvidos pelo site de
VEJA relatam que Villares entregou o cargo contrariado com a falta de estrutura
do batalhão, formado por cerca de 600 homens. A insatisfação é compartilhada
com a tropa. No Facebook do BPGE, o descontentamento é claro. “Criado há oito
meses com o nome Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos, o BPGE já está
sendo chamado de Batalhão de Gente Estressada”, diz uma publicação.
Os problemas começam com a
precariedade das instalações do batalhão, que ocupa de forma improvisada um
galpão cedido pelo Batalhão de Choque, na Cidade Nova, na região central do
Rio. O local, segundo homens que integram a unidade, não tem a estrutura
necessária: tem apenas dois vasos sanitários, duas torneiras e um bebedouro –
de onde sai, segundo um policial militar, uma “água esbranquiçada”, sem
condições de consumo. “Os policiais são obrigados a se sentar no chão e esperar
ser deslocados para as manifestações. Às vezes, passam oito, dez horas em pé
acompanhando um protesto e, quando voltam para o batalhão, são obrigados a
descansar no chão, jogados”, contou um policial ouvido pelo site de VEJA.
O excesso de horas trabalhadas é
outro motivo de descontentamento. Os policiais fazem plantões de 12 horas e
folgam 36, mas a intensa programação de protestos contra a Copa e de grevistas
tem obrigado os homens a trabalhar por mais tempo – afinal, não podem abandonar
uma manifestação antes do fim, mesmo se a carga horária tiver excedido as 12
horas. Além de atuar nos protestos, os homens do BPGE têm sido requisitados de
forma frequente para reforçar o policiamento ostensivo em outros batalhões do
Centro, Botafogo, Méier e Tijuca – áreas críticas para a Copa do Mundo. Nos
bastidores, comenta-se que o empréstimo de soldados para outras unidades era um
dos problemas que contrariavam o ex-comandante da tropa.
Alimentação
Os plantões extensos são, segundo os policiais, agravados pela falta de alimentação. Proibidos de se retirar dos locais determinados, os PMs deveriam receber lanches frios, que não vem sendo fornecidos. Um exemplo do problema foi relatado no Facebook do BPGE, no dia 23 de maio. Os agentes contam que, no dia anterior, estavam de plantão em frente ao Palácio Guanabara desde as 8h e só receberam água como suprimento. Diz um dos relatos: “Quando questionaram a oficial responsável pela tropa – uma capitã – em relação ao almoço ouviram como resposta: “Não f… Pergunte ao coronel” e “Virem-se, vocês não estão em casa, aqui não tem comida para vocês”. Logo depois, ela entrou em uma viatura, ligou o ar e foi dormir. Após seis horas de espera, alguns PMs resolveram ir até uma pensão”.
No dia 13 de abril, dois após a
reintegração de posse do terreno da Oi, no Engenho Novo, 120 policiais
destacados para permanecer 12 horas no local e impedir que os invasores
voltassem ao imóvel precisaram reclamar para receber um lanche. Fotos
publicadas no Facebook mostram que o sanduíche, que fazia parte do kit, estava
vencido. “Os PMs que resolveram comer descobriram que estava azedo”, diz o
texto postado na rede social.
A exoneração do ex-comandante foi
publicada no boletim interno da PM, no último sábado. Villares está na
Diretoria Geral de Pessoal da PM, a “geladeira”, para onde são transferidos
policiais momentaneamente sem função. O ex-subcomandante, tenente-coronel
Heitor Henrique Pereira, assumiu o batalhão. Os policiais comentam que
Villares era visto como um comandante que defendia a tropa e enfrentava o
comando, mas foi vencido. Procurado pelo site de VEJA, o tenente-coronel se recusou
a falar sobre os motivos da exoneração.
A PM negou que o batalhão
funcione em um galpão, e informou que as instalações são as do extinto 1º BPM,
dentro do Batalhão de Choque – atualmente em obras de adaptação. “Os policiais
contam com alojamentos e camas novas”, diz a assessoria da corporação. Sobre as
escalas de plantão, uma queixa dos policiais, a PM informa que “não há excessos
na escala e nunca ultrapassa 12 horas de serviço”. Em resposta ao site de VEJA,
a Polícia Militar também negou que haja problemas de alimentação.
Um comentário:
Lucas e Munike - 7° ano ''B''
Muito Bom... é importante as pessoas saberem disto!!
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