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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O iário de Anne Frank [parte 4]

Sábado, 3 de Outubro de 1942
Querida Kitty:
Ontem houve aqui grande zaragata. A mãe contou
todas as minhas travessuras ao pai, mas exagerou muito.
Chorou. Também chorei, e já tinha andado todo o dia
cheia de dores de cabeça. Eu então disse ao pai que gostava
mais dele do que da mãe. O Pim disse que isso havia de
passar, mas eu não acredito. Tenho de fazer grandes
esforços para ficar calma quando falo com a mãe. O pai
quer que a ajude, e lhe preste serviços quando ela se não
sente bem, mas eu não quero.
Estudo muito francês e estou a ler La belle Nivernaise.
Tua Anne.

Sexta-feira, 9 de Outubro de 1942
Querida Kitty!
Hoje só te posso dar notícias tristes e deprimentes.
Os nossos amigos e conhecidos judaicos são deportados
em massa. A Gestapo trata-os sem a menor consideração.
Em vagões de gado leva-os para yVesterbork, o campo
para judeus. Westerbork deve ser um sítio horrível. Estão
lá milhares de pessoas e nem há sequer lavatórios nem W.C.
que, de longe, cheguem para todos. Conta-se que as pessoas
dormem em barracas, homens, mulheres e crianças,
todos misturados. Não podem fugir: quase todos se podem
identificar pelas cabeças rapadas ou então pelo seu tipo
judaico.
Se já na Holanda as coisas se passam deste modo, como
há de ser então nos sítios longínquos para onde levam
essa gente? A emissora inglesa fala de câmaras de gás.
De qualquer forma talvez seja a câmara de gás a maneira
mais rápida de se morrer... A Miep falou-nos de acontecimentos
terríveis e está excitadíssima. Ainda há pouco
encontrou, em frente da sua porta, uma velhinha manca.
Estava à espera do automóvel da Gestapo que recolhe as
pessoas umas após outras. A velha tremia de medo. Os
canhões da defesa atroavam os ares. Os raios dos projetores
cruzavam-se no céu, a trovoada dos aviões ingleses ecoava
entre as casas. Mas a Miep não teve coragem de arrastar
a mulherzinha para dentro da sua casa. Os alemães castigam
com dureza tais procedimentos.
Também a Elli está desanimada e triste. O seu noivo
foi levado para trabalhar na Alemanha. Ela receia que o
seu Dirk possa ser atingido quando há bombardeamentos.
Os aviões ingleses despejam milhões de quilos de bombas.
Piadinhas como: "Descansem, não lhes cairá em cima um milhão delas", ou "só uma bomba
chega bem", acho-as
grosseiras. O Dirk não foi o único que teve de partir.
Todos os dias saem comboios de jovens, forçados a ir.
Um ou outro consegue fugir pelo caminho ou "mergulhar",
mas são tão poucos! A minha cantiga triste ainda não
acabou. Já ouviste falar em reféns? Pois inventaram esta
coisa requintada. Parece-me o pior de tudo o que inventaram.
Gente inocente é presa. Se em qualquer parte se
dá uma "sabotagem" e os autores não se encontrarem, fuzilam
simplesmente alguns dos reféns. Depois publicam a
notícia no jornal. E lembrar-me que também já fui alemã!
Hitler tirou-nos a nacionalidade há muito. Entre aquela
espécie de alemães os hitlerianos e os judeus existe uma
inimizade como não pode haver mais forte em todo o
Mundo!
Tua Anne.

Sexta-feira, 16 de Outubro de 1942
Querida Kitty:
Tenho imenso que fazer. Traduzi um capítulo de La beLle, Nivernaise. Tirei todos os significados novos. Depois fiz um problema de matemática e ainda estudei três páginas de
gramática. Não gosto nada dos problemas nem me apetece
pegar-lhes. O pai também os acha complicados e, por
vezes, resolvo-os melhor eu do que ele, mas, em boa verdade,
nem ele nem eu sabemos muito disto e acabamos quase
sempre por chamar a Margot para nos dar uma ajuda.
Na estenografia sou eu quem vai à frente dos três. Ontem
acabei de ler Os Salteadores. É um bom livro, mas não se
pode comparar a ooter-Heul. continuo a dizer que acho
a Gissy v. Marxveldt uma escritora brilhante. Os meus
filhos hão-de ler os seus livros. O pai deu-me algumas
peças de teatro de Krner: O primo de Bremen, A governanta,
O dominó verde. Um bom escritor.
A mãe, a Margot e eu voltamos a ser amigas, o que
não deixa de ser muito agradável. Ontem a Margot deitou-se
ao meu lado na minha cama. Quase não havia
lugar para as duas, mas não fazes ideia como foi bom.
Ela perguntou-me se podia ler o meu diário. Eu disse:
-Algumas passagens podes.
Perguntei-lhe pelo diário dela. Disse que também mo
dava a ler. Depois falamos sobre o futuro e perguntei-lhe
o que ela queria ser. Mas não quis dizer, é um segredo.
Ouvi vagamente dizer que quer ser professora e suponho
que deve ser verdade. Acho que sou curiosa de mais. Hoje
de manhã estendi-me sobre a cama do Peter depois de
o ter expulsado de lá. Ficou furioso, mas não fiz caso.
Acho que podia ser mais amável comigo, pois ainda ontem
lhe dei uma maçã.
Ontem perguntei à Margot se me achava feia. Ela
disse-me que eu tinha um ar patusco e os olhos muito
bonitos. Uma resposta um bocado vaga, não te parece?
Até à próxima.
Tua Anne.

Terça-feira, 20 de Outubro de 1942
Querida Kitty:
As minhas mãos ainda tremem com o susto que apanhamos,
embora isto já se tenha passado há duas horas.
Temos em casa os aparelhos "Minimax" contra incêndios.
Ninguém nos tinha dito que vinha gente enchê-los. E já
se vê, nós não tínhamos tomado cuidados especiais. Nisto
ouvi martelar do outro lado, no vestíbulo. Pensei que fosse
o marceneiro. A Elli estava a almoçar conosco. Avisei-a
para não descer. O pai e eu resolvemos ficar de guarda
e escutar atrás da porta até o homem acabar o trabalho.
Depois de ele ter martelado um quarto de hora, pôs a
ferramenta em cima do armário (pelo menos foi o que
supusemos) e bateu à nossa porta. Ficamos ambos pálidos.
Teria ele dado por alguma coisa e queria agora decifrar
o mistério? Com certeza, pois nunca mais acabava de
bater, puxar, empurrar. Eu ia quase desmaiando ao
lembrar-me de que aquele estranho iria descobrir o nosso
belo esconderijo e estava precisamente a pensar que decerto
ia morrer dentro de pouco, quando ouvi a voz do sr. Koophuis :
-Por amor de Deus, abram a porta. Sou eu.
Imediatamente abrimos. O gancho com que se fecha
a porta por dentro e de que os iniciados se servem também
do outro lado, estava preso e, por isso, não tinha sido
possível avisar-nos de que vinha o operário. O homem
já descera e como o sr. Koophuis, que vinha buscar a
Elli, não conseguia abrir a porta, pôs-se a fazer aquele
barulho todo. Que grande alívio! Na minha imaginação
eu tinha visto o homem prestes a entrar no nosso anexo
e a crescer até parecer um gigante invencível. Enfim,
tivemos sorte, pois tudo se passou sem mais novidade.
A segunda-feira foi um dia divertido! A Miep e o Henk
passaram cá a noite. A Margot e eu dormimos no quarto
dos pais, e o jovem casal nas nossas camas. A comida
estava um mimo. Mas não faltou também um pequeno
incidente. Houve curto-circuito, causado pelo candeeiro
do pai, e, de repente, ficamos às escuras. A caixa onde
se encontram os fusíveis fica no fundo do armazém e
não é brincadeira chegar lá sem luz. Mas conseguiu-se
e, dentro de dez minutos, os estragos estavam reparados
e apagamos a iluminação das velas.
Levantamo-nos cedo. O Henk tinha de se ir embora
às oito e meia e queríamos tomar o pequeno almoço
com ele e a Miep, sem pressas. Chovia a potes. A Miep
desceu ao escritório, radiante por não precisar de fazer
a caminhada do costume. O pai e eu fizemos as arrumações
e depois comecei a meter verbos franceses na cabeça.
Em seguida pus-me a ler Eternamente cantam as florestas,
um belo livro. Vou quase no fim.
Para a semana a Elli vem cá dormir!
Tua Anne.

Quinta-feira, 26 de Outubro de 1942
Querida Kitty:
Estou aflita! O pai está doente. Tem muita temperatura
e manchas vermelhas pelo corpo, como acontece quando
se tem o sarampo. A mãe anda a tratá-lo e tem muito
cuidado para que ele transpire muito, porque assim talvez
a temperatura desça.
Hoje de manhã a Miep contou-nos que a casa dos
van Daans foi toda despejada pelos alemães. Ainda não
dissemos nada à sra. van Daan. Está muito nervosa ùltimamente
e não temos empenho nenhum em ouvir-lhe falar outra vez, durante horas, do seu lindo serviço
de porcelana e das mobílias valiosas que tinha em casa.
Também nós tivemos de abandonar tantas coisas bonitas!
E nada adiantamos com lamentações.
Já me deixam ler, de vez em quando, livros para adultos
e agora estou a ler A juventude de Eva de Nico van
Suchtelen. Não encontro grande diferença entre este livro
e a literatura para raparigas. Bem sei que neste livro
se fala de mulheres que vendem o corpo a homens estranhos
para ganhar um rol de dinheiro. Eu morreria
de vergonha! Também se conta que a Eva começou a
ter o "incômodo". Gostava de começar a ter o "incômodo"
É que isto dá-nos importância.
O pai foi buscar ao armário os dramas de Goethe e
de Schiller. Vai lê-los agora todas as noites em voz alta.
Começamos com Don Carlos. Para seguir o bom exemplo
do pai, a mãe entregou-me o seu livro de rezas. Eu não
quis ser indelicada e li umas páginas. Acho o livro bonito,
mas aquilo não me diz nada. Porque é que a mãe quer
que eu seja religiosa à força?
Amanhã acende-se o fogão pela primeira vez. calculo
o fumo que vai fazer, porque há muito tempo que não se
limpa a chaminé.
Tua Anne.

Sábado, 7 de Novembro de 1942
Querida Kitty:
A mãe está muito nervosa e isto é para mim como que
um perigoso escolho. Porque sou sempre eu quem paga as
favas.
Por exemplo, ontem, à noite : A Margot estava a ler um
livro com lindas ilustrações. Foi para cima e deixou ficar
o livro para quando voltasse. Continuá-lo-ia, então, a
lê-lo
não tinha nada de especial a fazer, peguei no livro
e pus-me a ver as gravuras. A Margot voltou, viu o "seu" livro
nas minhas mãos e franziu a testa. Queria-o outra vez. Eu
estava com vontade de o ver mais um bocadinho, mas a
Margot ficou zangada. Então a mãe disse :
-Era a Margot quem estava a ler áb á do quehse
Nesse momento entrou o pai. Nada se
tinha passado, mas pensou logo que quem tinha razão
era a Margot e disse para mim:
-Gostava de te ver, a ti, se a Margot folheasse um
livro teu.
Cedi imediatamente e pousei o livro. Então disseram
que eu fiquei ofendida. Mas eu não me sentia ofendida
nem zangada, apenas estava triste, muito triste.
O pai foi injusto, não devia julgar o caso sem o conhecer.
Eu teria devolvido o livro à Margot, de livre vontade
e muito mais depressa, se os pais não se tivessem metido
no assunto e tomado logo partido por ela. Enfim, que a
mãe se ponha do lado da Margot, é coisa natural. Morrem
uma pela outra. Já estou tão habituada que não me importo
com as descomposturas da mãe nem com o mau gênio da
Margot. Sou amiga delas porque uma é minha mãe e a
outra minha irmã. Mas com o pai a coisa é diferente.
Quando ele dá preferência à Margot, quando acha bem tudo o que ela faz e lhe dá mimos, então
roo-me toda
por dentro, pois o pai é tudo para mim! É o meu ideal,
e amo-o como não amo a mais ninguém neste mundo.
Bem sei que ele nem se apercebe de que trata a Margot
de maneira diferente. Também não se pode negar que
a Margot é mais inteligente, mais bonita e melhor. Mas
não terei o direito de ser tomada a sério? Eles acham que
eu sou o palhaço da família e sofro duplamente por apanhar
tantos raspanetes e por ainda não conseguir compreender-me
bem a mim própria. Os carinhos superficiais já
não me satisfazem, nem sequer as tais conversas chamadas
sérias. Espero do pai alguma coisa mais, que ele decerto
me poderá dar. Não que tenha inveja da Margot.
Não cobiço a sua inteligência nem a sua beleza. O que
eu queria era o amor do pai, não só como sua filha, mas
como Anne, o ente humano que sou.
Agarro-me ao pai por ser ele o único que me faz conservar
o sentimento da família. Mas ele não compreende
que eu, por vezes, tenha necessidade de abrir-me, de
falar sobre a mãe. O pai não quer falar dos defeitos da
mãe e esquiva-se propositadamente a qualquer conversa
sobre o assunto. E, no entanto, a maneira de ser da mãe
pesa-me no coração. Por vezes não consigo dominar-me,
e faço-lhe ver o seu desprezo, ironia e dureza. Pois, decerto,
a culpa não será sempre minha, não é verdade?
Sou em tudo o contrário da mãe e, por isso, é inevitável
que nos choquemos. Não estou a criticar o seu caráter,
pois isso não me compete. Vejo-a apenas como minha mãe.
E ela não é para mim a mãe que idealizei. Parece que tenho
de ser eu própria a minha mãe. Desprendi-me deles,
sigo o meu próprio caminho. Quem sabe aonde chegarei
um dia? Na minha imaginação vejo o ideal de mulher
e de mãe, mas naquela a que tenho de dar o nome de
mãe nada disso encontro.
Proponho-me constantemente não reparar nos seus
defeitos, ver sòmente as suas qualidades e desenvolver
em mim o que nela procuro. Mas não é fácil, e o pior é
que nem o pai nem a mãe querem ver o que me falta
e é isto que lhes tomo a mal. Será possível que haja pais
capazes de contentarem inteiramente os filhos?
Por vezes penso que Deus quer pôr-me à prova. Tenho
de me aperfeiçoar sozinha, sem exemplo e sem ajuda, só
assim hei de ser um dia forte e resistente.
Quem, além de mim, lerá estas coisas? Quem pode
ajudar-me? Necessito de ajuda e de consolo! Sou muitas
vezes fraca e incapaz de ser aquilo que gostava de ser.
Sei-o e tento todos os dias, de novo, melhorar-me.
Nem sempre me tratam da mesma maneira. Um dia
pertenço à classe dos adultos e posso saber tudo, e no dia
seguinte a Anne não passou de um ser inexperiente que
julga ter aprendido alguma coisa nos livros mas que, na
realidade, não sabe coisa de jeito. Ora eu não sou um
bebê nem uma boneca para os divertir. Tenho os meus
ideais, o meu modo de pensar e os meus planos, embora
ainda me falte a capacidade de traduzir tudo isto em palavras.
Ai! tantas, tantas dúvidas que se me levantam quando
estou só, à noite, ou mesmo durante o dia quando estou
encerrada com toda esta gente que já não posso ver à minha
frente e de que estou farta até não poder mais. Eles nada
compreendem dos meus problemas. Assim, volto sempre
ao meu diário. É ele o meu princípio e o meu fim. A ti,
Kitty, nunca te falta a paciência e prometo-te que hei de
aguentar. Hei de vencer a minha dor e seguir o meu
caminho. Só gostava de ter, de vez em quando, um pouco
de sucesso, de ser estimulada e encorajada, por alguém
que me tivesse amor!
Não me condenes! Por favor, compreende que, às
vezes, não posso mais!
Tua Anne.


Segunda-feira, 9 de Novembro de 1942
Querida Kitty :
Ontem o pai fez anos. Teve prendas bonitas, entre outras
um aparelho para fazer a barba e um isqueiro, não porque
fume muito, mas por ser chique.
Foi o sr. van Daan que lhe fez a maior surpresa: deu-lhe
a notícia de que os ingleses desembarcaram na Tunísia,
em Casablanca, na Algéria e em Orão.
-É o princípio do fim - disseram todos.
Mas Churchill, o Primeiro-Ministro da Inglaterra que,
decerto sabe mais disso, declarou num discurso:
- Este desembarque é uma fase importante, mas
ninguém deve convencer-se que ele significa o princípio
do fim. Eu, talvez gostasse antes de dizer que significa o
fim do princípio.
Compreendes a diferença? Mas, mesmo assim, há
motivos para sermos otimistas. Estalinegrado, a grande
cidade russa, que os alemães já estão a cercar há três
meses, ainda não se rendeu.
Voltaremos agora aos assuntos quotidianos : quero
descrever-te como nós, cá no anexo, nos abastecemos de
gêneros. Antes de mais nada tenho de dizer-te que os
"de cima" são uns gulosos terríveis. O pão é-nos fornecido
por um padeiro simpático que o sr. Koophuis conhece
muito bem. Não podemos receber tanto como antigamente
em nossa casa, mas é o suficiente. Os talões de
alimentação compram-se clandestinamente. Estão cada
vez mais caros. Primeiro pagávamos por eles vinte e sete
florins e agora já custam trinta e três. Imagina, um simples
pedacinho de papel!
Para termos, além das conservas, alimentos em casa
que não se estraguem, compramos 35 quilos de legumes
secos que penduramos em sacos no corredor, atrás da
porta giratória. Mas com o peso as costuras rompem-se e,
por isso, resolvemos levar todas essas reservas de Inverno
para o sótão. Confiamos ao Peter a tarefa de carregar
com os sacos. Ele já tinha levado cinco para o sítio e
estava prestes a carregar com o sexto quando rebentou
a costura inferior. Uma chuva, não, uma saraivada de
feijão vermelho desabou sobre a escada. Os outros, lá
em baixo (felizmente não havia estranhos no prédio),
julgavam que a casa ia ruir. O Peter apanhou um susto,
mas quando me viu a mim, ao pé da escada, coberta de
feijões que se iam amontoando no chão até acima dos
tornozelos, desatou numa grande gargalhada. Depressa começamos
a apanhar os feijões com desembaraço, mas estes são tão
pequenos e escorregadios que nos passavam pelos dedos
e desapareciam em todos os buracos e buraquinhos. Agora,
sempre que alguém sobe a escada, encontra um ou outro
feijão que entrega lá em cima à sra. van Daan.
Quase me ia esquecendo do mais importante: o pai já
está completamente bem!
Tua Anne.
P. S. Na rádio acabam de anunciar que a Algéria
caiu. Marrocos, Casablanca e Orão também estão nas
mãos dos ingleses. Agora não deve tardar a queda da
Tunísia.

Terça-feira, 10 de Novembro de 1942
Querida Kitty:
Uma novidade sensacional! Vamos meter mais um
"mergulhador". Já tínhamos dito muitas vezes que ainda
havia lugar e comida para mais uma pessoa. Só o que não
queríamos era dar tanto incômodo ao Kraler e ao Koophuis.
Mas como as notícias sobre as medonhas perseguições
aos judeus se tornam de dia para dia piores, o pai resolveu
sondar as possibilidades :
Resultado : Os dois senhores ficaram logo de acordo
com a ideia. "O perigo é o mesmo para sete ou para oito",
disseram e com razão.
O problema a resolver em seguida era saber qual das
pessoas isoladas das nossas relações ligava melhor com a
nossa "família mergulhada". Não foi difícil a escolha.
Depois de o pai ter rejeitado todas as propostas do sr. van
Daan para se receber uma pessoa da sua família, optou-se
por um dentista bastante conhecido,. de nome Albert
Dussel, que tem a mulher no estrangeiro. Tem fama de
pessoa agradável e tanto nós como os van Daan simpatizamos
com ele. Como a Miep também o conhece bem,
pode tratar de tudo. Se ele aceitar tem de dormir no meu
quarto no lugar da Margot que dormirá na cama-sofá,
no quarto dos pais.
Tua Anne.

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