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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Que é metafísica? [parte final]

A existência científica recebe sua simplicidade e acribia do fato de se
relacionar com o ente e unicamente com ele de modo especialíssimo. A ciência
quisera abandonar, com um gesto sobranceiro, o nada. Agora, porém, se torna
patente, na interrogação, que esta existência científica somente é possível se se
suspende previamente dentro do nada. Apenas então compreende ela realmente
o que é quando não abandona o nada. A aparente sobriedade e superioridade da
ciência se transforma em ridículo, se não leva a sério o nada. Somente porque o
nada se revelou, pode a ciência transformar o próprio ente em objeto de
pesquisa. Somente se a ciência existe graças à metafísica, é ela capaz de
conquistar sempre novamente sua tarefa essencial que não consiste
primeiramente em recolher e ordenar conhecimentos, mas na descoberta de todo
o espaço da verdade da natureza e da história, cuja realização sempre se deve
renovar.

Somente porque o nada está manifesto nas raízes do ser-aí pode sobrevir
a absoluta estranheza do ente. Somente quando a estranheza do ente nos
acossa, desperta e atrai ele a admiração. Somente baseado na admiração — quer
dizer, fundado na revelação do nada — surge o “porquê’. Somente porque é
possível o “porquê” enquanto tal, podemos nós perguntar, de maneira
determinada, pelas razões e fundamentar. Somente porque podemos perguntar e
fundamentar foi entregue à nossa existência o destino do pesquisador.
A questão do nada põe a nós mesmos que perguntamos — em questão. Ela
é uma questão metafísica.
O ser-aí humano somente pode entrar em relação com o ente se se
suspende dentro do nada. O ultrapassar o ente acontece na essência do ser-aí.
Este ultrapassar, porém, é a própria metafísica. Nisto reside o fato de que a
metafísica pertence à ‘natureza do homem”. Ela não é uma disciplina da
filosofia “acadêmica”, nem um campo de idéias arbitrariamente excogitadas. A
metafísica é o acontecimento essencial no âmbito de ser-aí. Ela é o próprio ser-aí.
Pelo fato de a verdade da metafísica residir neste fundamento abissal possui
ela, como vizinhança mais próxima, sempre à espreita, a possibilidade do erro
mais profundo. E por isso que nenhum rigor de qualquer ciência alcança a
seriedade da metafísica. A filosofia jamais pode ser medida pelo padrão da ideia
da ciência.
Se realmente acompanhamos, com nossa interrogação, a questão desenvolvida
em torno do nada, então não nos teremos representado a metafísica
apenas do exterior. Nem nos transportamos também simplesmente para dentro
dela. Nem somos disso capazes porque — na medida em que existimos — já
sempre estamos colocados dentro dela. Physei gár, o phíle, énestí tis
philosophía te tou andrós diánoia (Platão, Fedro 279a). Na medida em que o
homem existe, acontece, de certa maneira, o filosofar. Filosofia — o que nós
assim designamos — é apenas o pôr em marcha a metafísica, na qual a filosofia
toma consciência de si e conquista seus temas expressos. A filosofia somente se
põe em movimento por um peculiar salto da própria existência nas
possibilidades fundamentais do ser-aí, em sua totalidade. Para este salto são
decisivos: primeiro, o dar espaço para o ente em sua totalidade; segundo, o
abandonar-se para dentro do nada, quer dizer, o libertar-se dos ídolos que cada
qual possui e para onde costuma refugiar-se sub-repticiamente; e, por último,
permitir que se desenvolva este estar suspenso para que constantemente retorne
à questão fundamental da metafísica que domina o próprio nada:
Por que existe afinal ente e não antes Nada?

FIM


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