Total de visualizações de página

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O Nascimento das Fábricas - Edgar Salvadori de Decca

Citações

“[...] basta considerarmos a transformação positiva do significado verbal da palavra trabalho, que até a época moderna sempre foi sinônimo de penalizações e de cansaços insuportáveis, de dor e de esforço extremo, de tal modo que sua origem só poderia estar ligada a um extremo de miséria e pobreza. Seja a palavra latina e inglesa labor, ou francesa travail, ou grega ponos ou alemã Arbeit, todas elas, sem exceção, assinalam a dor e os esforços inerentes a condição do homem.” (p. 7)


“Como sempre vemos na sociedade, seja ela nova ou pré-histórica. O resultado e os modos de uma classe para impor sua ideologia para toda uma sociedade.” (p.7)

“[...] introduzir um relógio moral no coração de cada trabalhador foi a primeira vitória da sociedade burguesa [...] Foi através da porta da fábrica que o homem pobre, a partir do século XVIII foi introduzido ao mundo burguês.” (p. 10)




“Como a ideia trabalho evoluiu nos tempos. No começo querendo dizer pobreza, maldições, coisa da ralé (antes e durante a idade média). Hoje em dia “o trabalho dignifica o homem.” Sec. 17: o trabalho e a riqueza das nações.” (p. 10)

“[...] o trabalhador era o dono da força de trabalho. Vendia seu tempo, ou a si próprio.” (p.10)



“Somos induzidos, a pensar dentro duma lógica definida, que não é ditada por leis de mercado, mas sim regida por mecanismos sutis de controle social [...] pensar, portanto, é pensar segundo regras já definidas, e o seu contraponto, no nível de sociedade, é justamente a impossibilidade de pensar além das regras.” (p.13)

“[...] essa introjeção de um relógio moral no corpo de cada homem demarca decisivamente os dispositivos criados por uma nova classe em ascensão. Autodisciplina, controle de si mesmo, crítica a ociosidade, são exigências imperiosas para o comerciante que se envolve na esfera do mercado.” (p. 15)



“[...] o mercado transforma-se, assim, em uma entidade universal através da qual os homens se reconhecem a si próprios e se opõe a qualquer dispositivo imaginário que coloque a ordem social fora do âmbito desse novo universo.” (p. 18)

“[...] a produção histórica de uma classe de proprietários dos meios de produção, ao mesmo tempo em que outra classe se constitui como assalariada e despossuída, decorre de um confronte que, no final, faz parecer para os sujeitos sociais a imagem que existe a imperiosidade da figura do capitalista, como elemento indispensável para o próprio processo de trabalho.” (p. 19)



“[...] a interposição da figura do negociante entre o mercado e a produção artesanal, segundo ele, representou (segundo Marglin), o momento pelo qual se impôs a essa produção a figura indispensável do capitalista, criando uma hierarquia social sem a qual, desde então, o próprio processo de trabalho, fica impossibilitado de existir.” (p.20)

“Entretanto, seguindo as pistas do autor (Stephen A. Marglin) vale a pena indagar porque estes trabalhadores foram reunidos a partir de um determinado momento num mesmo local de trabalho, constituindo aquilo que ficou conhecido como sistema de fábricas.” (fls. 22)



“[...] Marglin nos mostra que nenhuma tecnologia muito avançada determinou a reunião dos trabalhadores no sistema de fábrica (coisas que muitos afirmam), [...] o que estava em jogo era justamente um alargamento do controle e do poder por parte do capitalista sobre o conjunto de trabalhadores que ainda detinham o conhecimento técnico e impunham a dinâmica do processo produtivo [...]” (p. 23)

“[...] na fábrica, a hierarquia, a disciplina, a vigilância e outras formas de controle tornaram-se tangíveis a tal ponto que os trabalhadores acabaram por se submeter a um regime de trabalho ditado pelas normas dos mestres e contramestres, o que representou, em última instância, o domínio capitalista sobre o processo de trabalho.” (p. 24)



“[...] embora pudessem ser encontradas máquinas nas primeiras fábricas, muito raramente essas máquinas chegaram a se constituir na razão do surgimento das fábricas. Enfim, o surgimento do sistema de fábrica parece ter sido ditado por uma necessidade muito mais organizativa do que técnica, e essa organização teve como resultado para o trabalhador, toda uma nova ordem de disciplina todo o transcorrer do processo de trabalho.” (p. 25)


“[...] Em outras palavras, o êxito da revolução estava intimamente ligado à afirmação de novas relações de poder hierárquicas e autoritárias.” (p.30)


“[...] as dimensões do fracasso das primeiras experiências fabris, ainda assim podemos afirmar que a resistência do trabalhador ante os avanços do sistema de fábrica foi decisiva durante esse período [...]” (p. 30)


“[...] a ameaça de mecanização, como desemprego implícito que levava consigo, era frequentemente utilizada pelos patrões para manter os baixos salários.” (p. 32)


“[...] Como afirmou Andrew Ure, ao dobrar o tamanho de sua máquina de fiar, o proprietário teve condições de se livrar dos fiandeiros indiferentes ou inquietos e de converter-se de novo no dono de sua fábrica, o que é uma pequena vantagem.” (p.34)


“[...] quando o capital consegue que a ciência se coloque a seu serviço, a mão de obra refratária aprende a ser sempre dócil [...]” (p.35).


“[...] por isso, em 1932, já observava o inglês James Philip Kay: “ a máquina animal _ frágil no melhor dos casos, sujeita a mil fontes de sofrimento _ se encontra firmemente encadeada à máquina de ferro, que não conhece nem sofrimento nem cansaço.” (p. 36)


“A fábrica produziu, ao mesmo tempo que proliferou-se, um conjunto complexo de instituições capazes de garantir a sua permanência e, o que é mais importante, capazes de garantir a continuidade da acumulação capitalista.” (p.37)


“[...] o sistema de fábrica introduz determinantes que lhe são inerentes, não importando que esse sistema se desenvolva num ambiente capitalista ou em outro qualquer [...] pois ele traz em seu bojo todas as implicações relacionadas à disciplina, hierarquia e controle do processo de trabalho.” (p. 38)


“[...] assim, o sistema de fábrica, forma de organização superior do processo de produção capitalista, precisou antes (cronologicamente) encontrar o seu ambiente natural no centro do sistema e somente depois pode se estender para o resto do mundo.” (p.42)


“[...] nada mais corriqueiro do que determinar a gênese da indústria e do capitalismo, no Brasil, no final do séc. XIX, no momento em que o país se reposicionou na órbita do mercado mundial [...] o capitalismo brasileiro aparece dotado de qualificativas do tipo atrasado, tardio, dependente [...]” (p. 42)



“[...] No momento histórico do desenvolvimento do “puting-out system” na Europa, a partir do século XVI no Brasil se instaurava todo um processo de trabalho baseado na escravidão [...] engenhos de açúcar [...]” (p. 43)


“[...] a viabilidade do escravo é explicada pela total impossibilidade de utilização do homem livre expropriado europeu, dada a abundância de terras disponíveis na colônia.” (p.46)




“[...] O sistema de fábrica, como um universo de relações sociais, estendeu-se pelas inúmeras instituições públicas e privadas que não só permitiam e legitimavam o controle e a disciplina fabril, como também abriram caminho para que se produzisse uma esfera de conhecimento tecnológicos onde se opera a radical apropriação do saber.” (p.68)


“[...] assim o sistema de fábrica manchesteriano, a nosso ver, tornou-se vitorioso porque nele desenvolveram-se as condições para que a tecnologia pudesse se transformar num elemento prioritário da acumulação capitalista. [...]” (p.70)




“O cortejo tecnológico que acompanhou mundialmente o setor manufatureiro, no séc. XIX excluía do mercado capitalista não apenas as pequenas iniciativas individuais, como também, tornou imprescindível a figura do capitalista _ e ai está em jogo o papel do capital _ organizava o processo de trabalho imposta pelo próprio funcionamento do aparato tecnológico.” (p.71).


Nenhum comentário: