Citações
“[...] basta considerarmos a transformação positiva do
significado verbal da palavra trabalho, que até a época moderna sempre foi
sinônimo de penalizações e de cansaços insuportáveis, de dor e de esforço extremo,
de tal modo que sua origem só poderia estar ligada a um extremo de miséria e
pobreza. Seja a palavra latina e inglesa labor, ou francesa travail, ou grega
ponos ou alemã Arbeit, todas elas, sem exceção, assinalam a dor e os esforços
inerentes a condição do homem.” (p. 7)
“Como sempre vemos na sociedade, seja ela nova ou
pré-histórica. O resultado e os modos de uma classe para impor sua ideologia
para toda uma sociedade.” (p.7)
“[...] introduzir um relógio moral no coração de cada
trabalhador foi a primeira vitória da sociedade burguesa [...] Foi através da
porta da fábrica que o homem pobre, a partir do século XVIII foi introduzido ao
mundo burguês.” (p. 10)
“Como a ideia trabalho evoluiu nos tempos. No começo
querendo dizer pobreza, maldições, coisa da ralé (antes e durante a idade
média). Hoje em dia “o trabalho dignifica o homem.” Sec. 17: o trabalho e a
riqueza das nações.” (p. 10)
“[...] o trabalhador era o dono da força de trabalho. Vendia
seu tempo, ou a si próprio.” (p.10)
“Somos induzidos, a pensar dentro duma lógica definida, que
não é ditada por leis de mercado, mas sim regida por mecanismos sutis de
controle social [...] pensar, portanto, é pensar segundo regras já definidas, e
o seu contraponto, no nível de sociedade, é justamente a impossibilidade de
pensar além das regras.” (p.13)
“[...] essa introjeção de um relógio moral no corpo de cada
homem demarca decisivamente os dispositivos criados por uma nova classe em
ascensão. Autodisciplina, controle de si mesmo, crítica a ociosidade, são
exigências imperiosas para o comerciante que se envolve na esfera do mercado.”
(p. 15)
“[...] o mercado transforma-se, assim, em uma entidade
universal através da qual os homens se reconhecem a si próprios e se opõe a
qualquer dispositivo imaginário que coloque a ordem social fora do âmbito desse
novo universo.” (p. 18)
“[...] a produção histórica de uma classe de proprietários
dos meios de produção, ao mesmo tempo em que outra classe se constitui como
assalariada e despossuída, decorre de um confronte que, no final, faz parecer
para os sujeitos sociais a imagem que existe a imperiosidade da figura do
capitalista, como elemento indispensável para o próprio processo de trabalho.”
(p. 19)
“[...] a interposição da figura do negociante entre o
mercado e a produção artesanal, segundo ele, representou (segundo Marglin), o
momento pelo qual se impôs a essa produção a figura indispensável do
capitalista, criando uma hierarquia social sem a qual, desde então, o próprio
processo de trabalho, fica impossibilitado de existir.” (p.20)
“Entretanto, seguindo as pistas do autor (Stephen A.
Marglin) vale a pena indagar porque estes trabalhadores foram reunidos a partir
de um determinado momento num mesmo local de trabalho, constituindo aquilo que
ficou conhecido como sistema de fábricas.” (fls. 22)
“[...] Marglin nos mostra que nenhuma tecnologia muito
avançada determinou a reunião dos trabalhadores no sistema de fábrica (coisas
que muitos afirmam), [...] o que estava em jogo era justamente um alargamento
do controle e do poder por parte do capitalista sobre o conjunto de
trabalhadores que ainda detinham o conhecimento técnico e impunham a dinâmica
do processo produtivo [...]” (p. 23)
“[...] na fábrica, a hierarquia, a disciplina, a vigilância
e outras formas de controle tornaram-se tangíveis a tal ponto que os
trabalhadores acabaram por se submeter a um regime de trabalho ditado pelas
normas dos mestres e contramestres, o que representou, em última instância, o
domínio capitalista sobre o processo de trabalho.” (p. 24)
“[...] embora pudessem ser encontradas máquinas nas
primeiras fábricas, muito raramente essas máquinas chegaram a se constituir na
razão do surgimento das fábricas. Enfim, o surgimento do sistema de fábrica
parece ter sido ditado por uma necessidade muito mais organizativa do que
técnica, e essa organização teve como resultado para o trabalhador, toda uma
nova ordem de disciplina todo o transcorrer do processo de trabalho.” (p. 25)
“[...] Em outras palavras, o êxito da revolução estava
intimamente ligado à afirmação de novas relações de poder hierárquicas e
autoritárias.” (p.30)
“[...] as dimensões do fracasso das primeiras experiências
fabris, ainda assim podemos afirmar que a resistência do trabalhador ante os
avanços do sistema de fábrica foi decisiva durante esse período [...]” (p. 30)
“[...] a ameaça de mecanização, como desemprego implícito
que levava consigo, era frequentemente utilizada pelos patrões para manter os
baixos salários.” (p. 32)
“[...] Como afirmou Andrew Ure, ao dobrar o tamanho de sua
máquina de fiar, o proprietário teve condições de se livrar dos fiandeiros
indiferentes ou inquietos e de converter-se de novo no dono de sua fábrica, o
que é uma pequena vantagem.” (p.34)
“[...] quando o capital consegue que a ciência se coloque a
seu serviço, a mão de obra refratária aprende a ser sempre dócil [...]” (p.35).
“[...] por isso, em 1932, já observava o inglês James Philip
Kay: “ a máquina animal _ frágil no melhor dos casos, sujeita a mil fontes de
sofrimento _ se encontra firmemente encadeada à máquina de ferro, que não
conhece nem sofrimento nem cansaço.” (p. 36)
“A fábrica produziu, ao mesmo tempo que proliferou-se, um
conjunto complexo de instituições capazes de garantir a sua permanência e, o
que é mais importante, capazes de garantir a continuidade da acumulação
capitalista.” (p.37)
“[...] o sistema de fábrica introduz determinantes que lhe
são inerentes, não importando que esse sistema se desenvolva num ambiente
capitalista ou em outro qualquer [...] pois ele traz em seu bojo todas as
implicações relacionadas à disciplina, hierarquia e controle do processo de
trabalho.” (p. 38)
“[...] assim, o sistema de fábrica, forma de organização
superior do processo de produção capitalista, precisou antes (cronologicamente)
encontrar o seu ambiente natural no centro do sistema e somente depois pode se
estender para o resto do mundo.” (p.42)
“[...] nada mais corriqueiro do que determinar a gênese da
indústria e do capitalismo, no Brasil, no final do séc. XIX, no momento em que
o país se reposicionou na órbita do mercado mundial [...] o capitalismo
brasileiro aparece dotado de qualificativas do tipo atrasado, tardio,
dependente [...]” (p. 42)
“[...] No momento histórico do desenvolvimento do
“puting-out system” na Europa, a partir do século XVI no Brasil se instaurava
todo um processo de trabalho baseado na escravidão [...] engenhos de açúcar
[...]” (p. 43)
“[...] a viabilidade do escravo é explicada pela total
impossibilidade de utilização do homem livre expropriado europeu, dada a
abundância de terras disponíveis na colônia.” (p.46)
“[...] O sistema de fábrica, como um universo de relações
sociais, estendeu-se pelas inúmeras instituições públicas e privadas que não só
permitiam e legitimavam o controle e a disciplina fabril, como também abriram
caminho para que se produzisse uma esfera de conhecimento tecnológicos onde se
opera a radical apropriação do saber.” (p.68)
“[...] assim o sistema de fábrica manchesteriano, a nosso
ver, tornou-se vitorioso porque nele desenvolveram-se as condições para que a
tecnologia pudesse se transformar num elemento prioritário da acumulação
capitalista. [...]” (p.70)
“O cortejo tecnológico que acompanhou mundialmente o setor
manufatureiro, no séc. XIX excluía do mercado capitalista não apenas as
pequenas iniciativas individuais, como também, tornou imprescindível a figura
do capitalista _ e ai está em jogo o papel do capital _ organizava o processo
de trabalho imposta pelo próprio funcionamento do aparato tecnológico.” (p.71).
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