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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Amor, Poesia, Sabedoria - Edgar Morin

Citações

"O ser humano é um animal insuficiente, não apenas na razão, mas é também dotado de desrazão".  [07]

"O excesso de sabedoria pode transformar-se em loucura, mas a sabedoria só a impede, misturando-se à loucura da poesia e do amor". [10]

"O amor é algo único, como uma tapeçaria que é tecida  com fios extremamente diversos, de origens diferentes. Por trás de um único e evidente "eu te amo" há uma multiplicidade de componentes inteiramente diversos que faz a coerência do "eu te amo". [16]

"A selvageria do amor conduz à clandestinidade e à transgressão". [22]



"O amor, mesmo que decorrente de um desenvolvimento cultural e social, não obedece à ordem social: quando aparece, ignora barreiras, despedaça-se nelas ou simplesmente as rompe. O amor é filho de ciganos, é "enfant de bohème". [23]

"A boca é algo verdadeiramente extraordinário... e o que há de muito belo é que as palavras de amor são seguidas de silêncio de amor". [26]

"Mas, então, o que é o amor? É o ápice da união entre loucura e sabedoria". [28]

"O amor contém justamente esta contradição fundamental, esta co-presença da loucura e da sabedoria". [28]

"O amor faz parte da poesia da vida. Devemos viver esta poesia que não pode espalhar-se pela vida como um todo, e isso porque, se tudo fosse poesia, não haveria espaço para a prosa.  Da mesma maneira que o sofrimento deve existir para que se conheça a felicidade, deverá também haver prosa para que haja poesia". [29]

"A questão do amor resume-se a essa possessão recíproca: possuir o que nos possui". [31]

" ...a poesia extrai sua fonte da vida, com seus sonhos e acasos". [38]

"O poeta possui uma competência total, multidimensional, que concerne à humanidade e à política, mas não se pode deixar submeter à organização política". [39]

"Há outro fato que marca este final de século: a destruição, ou melhor, a autodestruição da ideia de salvação terrestre.  Acreditou-se que o progresso estava automaticamente garantido pela evolução histórica.  Acreditou-se que a ciência seria sempre progressiva, que a indústria sempre traria benefícios, que a técnica só traria melhorias.  Acreditou-se que as leis históricas garantiriam o desenvolvimento da humanidade e, tomando por base esse argumento, acreditou-se ser possível atingir a salvação na terra, ou seja, o reino da felicidade que as religiões prometiam no céu. O que se constata hoje é o abandono da ideia de uma salvação na terra, o que não significa ser necessário renunciar à ideia de aperfeiçoar as relações humanas e civilizar a humanidade". [40]

"Situamo-nos nesta aventura incerta e, a cada dia, os acontecimentos que se produzem no mundo indicam que nos encontramos na noite e na neblina". [41]

"Talvez a ideia pós-moderna consista em afirmar que o novo não necessariamente o melhor.  Fabricar o novo pelo novo é estéril.  O problema não reside na produção sistemática e forçada do novo. A verdadeira novidade nasce sempre de uma volta às origens". [43]

"Encontramo-nos numa época de transição e de tomada de consciência de uma falta.  Daí decorre uma necessidade de Oriente, que resulta do vazio de nossas vidas de Ocidente.  Esta necessidade foi estimulada pela descoberta de que nosso individualismo está longe de nos trazer a paz interior. O individualismo possui uma face iluminada e clara: a das liberdades, autonomias e responsabilidades. Mas possui também uma face sombria, cuja sombra amplia-se entre nós: a atomização, a solidão, a angústia. Juntos, descobrimos que as relações entre nossas almas, espíritos (mentes) e corpos encontravam-se perturbadas". [49]

"Permanece uma diferença, ou uma impossibilidade que tem a ver, penso eu, como background cultural de nossa civilização". [50]

"...integrar num sincretismo filosófico-ético-cultural, tomando dessa mestiçagem o que convém". [51]

"...a multiplicidade da afetividade contribui para o desenvolvimento da inteligência". [53]

"A afetividade é aquilo que, ao mesmo tempo, nos cega e nos ilumina..." [53]

"...Sem desordem não haveria possibilidade de criação e invenção". [54]

"...o que é uma vida racional? Não existe nenhum critério racional para defini-la.  No limite, pode-se perguntar se comer e viver de modo sadio, não correr riscos, nunca ultrapassar a dosagem prescrita significam realmente viver, ou melhor, se a vida racional não é uma vida demente.  Não é loucura pretender erradicar nossa loucura? A vida comporta um mínimo de desperdício, gratuidade, "consumação" (Bataille), desrazão. Castoriadis disse: "O homem é este animal louco cuja loucura inventou a razão"". [54]

"...o que é a vida? A vida é um tecido mesclado ou alternativo de 
prosa e poesia.  Pode-se chamar de prosa as atividades práticas, técnicas e materiais que são necessárias à existência.  Pode-se chamar de poesia aquilo que nos coloca num estado segundo: primeiramente, a poesia em si mesma, depois a música, a dança, o gozo e, é claro, o amor". [59]

"Cada um, em nossa sociedade, ensaia resistir à prosa do mundo, como, por exemplo, nos amores clandestinos, por vezes efêmeros, sempre erráticos". [59]

"Em resumo, a poesia é a estética, o amor, o gozo, o prazer, a participação e, no fundo, é a vida! Mas o que é uma vida racional? Implica levar uma vida prosaica? Loucura! Mas somos parcialmente obrigados a isso, poque se tivéssemos uma vida permanentemente poética, não a sentiríamos mais. É-nos necessária a prosa para que possamos ressentir a poesia... nos queimarmos num grande fogo interior". [60]

"Hegel disse mais ou menos algo que é fundamental para a compreensão do outro: "Se você chama de criminoso alguém que cometeu um crime, você ignora todos os outros aspectos de sua personalidade ou de sua vida que não são criminosos." Nos filmes noirs, ditos de gangsters, há uma mensagem filosófica que passa despercebida.  Vemos nela, com efeito, seres vivendo no crime, na droga, que podem se amar, ter amizades e que possuem seu código de honra. Descobrimos nesses seres monstruosos uma humanidade. Acontece o mesmo nas tragédias de Shakepeare ou de Racine; nelas, de modo inverso, são os reis, os príncipes, os modelos de virtude que são acometidos pelas paixões mais brutais e que praticam armadilhas e forfaits. Quando vamos ao cinema, participamos mais do que na vida: amamos um vagabundo, um palhaço, um Charlot-Chaplin, mas, na saída, afastamo-nos daqueles com os quais cruzamos e achamos que cheiram mal.  Esta é a mensagem do cinema, considerado uma arte menor, e que sempre se esquece.  Entretanto, a mensagem foi transmitida no espaço de instantes.  Houve uma compreensão antropológica". [62]

"É necessário, entretanto, ensinar e aprender a saber distanciar-se, saber objetivar-se e aceitar-se. Seria igualmente necessário saber mediar e refletir a fim de não sucumbir a essa chuva de informações que nos cai sobre a cabeça, ela mesma sucumbida pela chuva do amanhã, que nos impede de meditar sobre o acontecimento presente no cotidiano, não permitindo que o contextualizemos ou que o situemos.  Refletir é ensaiar, e uma vez que foi possível contextualizar, compreender, ver qual pode ser o sentido, quais podem ser as perspectivas.  Mais uma vez, para mim, a linha de força de uma sabedoria moderna consistiria na compreensão". [64]

"...um saber total é uma tarefa impossível. Adorno diz de modo apropriado: "A totalidade é a não-verdade"." [66]

"A sabedoria deve saber que contém em si uma contradição; é inteiramente loucura viver muito sabiamente".  [66]

"Se o mal que sofremos e fazemos sofrer reside na incompreensão do outro, na auto-justificação, na mentira a si próprio                   (self deception)... reside no esforço da compreensão e não na condenação, no auto-exame que comporta a autocrítica e que se esforça em reconhecer a mentira para si próprio". [67]





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