A
adolescência é uma fase notável na vida. Talvez por ser a etapa do desenvolvimento humano marcada
pelas transições que efetivamente promovem o adolescente à juventude. Nela acontecem as
trocas de experiências, descobertas diárias, crises de relacionamentos,
oportunidades a todo instante e pra tudo o que se possa imaginar.
Mas
tudo mesmo. Tanto é que se podem observar as inúmeras voltas em torno deles mesmos,
sem que muitas vezes os adolescentes saibam que direção tomar. Agem então
como se sofressem de insônia, mudando de um lado para o outro até que o cansaço
os traga repouso. Algumas vezes,
entretanto, tudo o que querem é interação.
Encontrar com quem partilhar suas experiências; se sentirem parte de um grupo,
saber que toda essa profusão de sentimentos, dúvidas, incertezas e
transformações também é vivida por outros.
Todavia,
nessa busca incessante por seus iguais, acabam deixando-se levar por emoções
que lhes atiçam a curiosidade. São as
chamadas primeiras paixões. Hoje estão
loucamente apaixonados por um, amanhã por outro e na próxima semana um rostinho
mais bonito e interessante lhes aparece e então, nova paixão.
Para Sêneca, filósofo renascentista, “a
alma humana é de natureza ativa e propensa ao movimento, por isso, toda
oportunidade de exercitar-se e
distrair-se lhe é grata, assim como as paixões, cujo tormento equivale à
sensação do prazer”. Mas, acaso esse
troca-troca é capaz de temperar o fastio corrosivo que abrasa a alma
adolescente? Será capaz de extirpar o
frenesi que neles habita? Ou será que é somente
desse modo que conseguem enfrentar essa fase tão cheia de dificuldades e
dilemas que lhes acomete?
Enxergam tudo com alegria e facilidades sem
que tal gozo lhes interesse por um período maior de tempo.
E, quando se fala em tempo, vale lembra
que houve uma época em que se namorava.
Conhecia-se um ao outro e isso delongava um tempo maior dando aos
enamorados a oportunidade de encantamentos e deleite.
Depois disso veio a fase da paquera. Período de experimentação com menos
compromisso que na fase anterior, mas, no qual ainda mantinha-se certo pudor em
relação ao que era conhecido/sabido pela sociedade.
Passado esse período, reeditou-se
novamente o conceito de namoro. Chegou
então o tempo do “ficar”. E, novamente
era mudada a dinâmica das relações interpessoais afastando-se cada vez mais dos
padrões considerados bem aceitos socialmente.
Estabeleceu-se a fase do “quem pode mais, beija mais”; sem preocupações,
exigências ou compromisso. A adesão
adolescente foi grande e a permissividade por parte dos “ficantes” agregou várias
consequências para o público menos experiente que busca de forma equivocada
motivação para enfrentar as incertezas e frustrações que a adolescência
oferece.
Mas não parou por aí a “evolução” ameaçadora do que uma vez já
foi chamado de namoro. Estamos agora na
época da “pegação”, na qual esquecendo suas personalidades, bem como os valores
éticos e morais que norteiam suas vidas, os jovens e adolescentes acabam
assumindo não o que os deleita verdadeiramente, mas, sim, o que lhes é imposto
pela sociedade midiática, tratando tudo e todos como relativos às
circunstâncias e temporais.
Tamanha é a força destrutiva nessa nova fase
de estragos – pegada - que os relacionamentos
não emplacam de forma alguma. Aqui vale lembrar uma música, sucesso de alguns
verões passados: “beijo na boca é coisa do passado, a moda agora é, é namorar
pelado”, pois, na época da “pegada” o sexo tornou-se banal, as pessoas objetos
e os relacionamentos obscuros e inexistentes. Um verdadeiro troca-troca no qual
as pessoas não se importam mais umas com as outras e procuram de algum modo
fugir de si mesmas.
Essa prática negativa e tendenciosa serve
unicamente para dissimular o retrato da instabilidade emocional pela qual passa a
sociedade em crise de valores na qual vivemos.
Chega dessa multiplicidade de errôneas concepções e dessa
fragmentação de sentimentos. De agora em diante o que vale
é confiar em si mesmo, sem se deixar levar por desvios ao longo do percurso e
fazer da adolescência um período de aprendizado significativo; pois é bem
provável que já estejamos trilhando a era Pós-Contemporânea sem nem ao menos
nos darmos conta disso.
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