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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Entre baldes e fantasmas - Aluna: Sabrina de Souza Rozado

Minha infância foi muito difícil. Trabalhava na roça para ajudar no sustento da família.
Nós passávamos por momentos tristes: a falta de comida, roupas e remédios. Naquela
época era comum que as crianças ajudassem a família e com isso acabavam largando cedo
os estudos.
Ah, os baldes! Esses me deram forças... (risos). Tínhamos que caminhar até um rio muito
longe para pegar água que servia para a nossa alimentação e higiene. Os baldes ficavam
mais pesados a cada passo do interminável caminho. Mas, apesar das dificuldades, lembro-
me desse tempo com muito carinho: o pedido de desculpas no olhar dos meus pais e
os sonhos que tinham para o nosso futuro.
Naquele tempo, o jeito de namorar também era diferente. Recordo que quando conheci
meu marido só podia namorar em casa com a vigilância dos meus pais. Sabia também
que já estava “metida” em compromisso sério, pois não podíamos correr o risco de ficar mal
faladas no bairro.

Casei e vim para a cidade “grande” à procura de uma vida melhor, uma oportunidade
de emprego. Morei um tempo na cidade de Canoas e, mesmo trabalhando, sofríamos com
as prestações do aluguel, pois a família foi crescendo e as despesas também. Então surgiu
a oportunidade de comprarmos uma casinha em São Leopoldo; assim, vim morar no bairro
Cohab. Lembro-me de que quando cheguei aqui as pessoas falavam que este lugar tinha
sido um grande cemitério. Alguns moradores ficavam assustados, porque coisas estranhas
aconteciam em suas casas. Até hoje, quando contam “causos” de assombração, sempre tem
alguém que se lembra da história do cemitério e dos tais fantasmas que assombravam suas
casas. Fui me apegando a este lugar e enfrentando os fantasmas da vida. Quando relembro
São Leopoldo me emociono muito.
Minha casa era pequena e não tinha conforto. Os mercados eram distantes, as paradas
de ônibus exigiam longas caminhadas e os horários de transportes eram restritos. Minha
história foi se transformando dentro de minha São Leopoldo. Hoje, posso dizer que moro no
maior bairro da cidade, conhecido como a “Grande Feitoria”. Há um comércio em cada esquina,
posto de saúde e escolas espalhadas pelo bairro. Hoje São Leopoldo nos enche de
orgulho com suas riquezas culturais e históricas: Casa do Imigrante, Unisinos (Universidade
do Vale do Rio dos Sinos), Santuário Padre Reus, e até o trem que aqui já chegou. Claro, o
progresso também tem suas consequências. Fico triste quando ouço falar da poluição do
rio dos Sinos. Lembro-me dos velhos baldes d’água e da felicidade que temos no simples
ato de abrir a torneira. Ao voltar no tempo, penso que mesmo na dificuldade minha vida
sempre foi regada por momentos bons. Nesse vale vivo realizada. Sou uma senhora feliz,
que entre baldes e fantasmas construiu sua vida.
Peço ao nosso querido padre Reus que me dê muitos anos ainda para que eu possa
seguir crescendo com essa cidade, e quem sabe um dia uma menina querida escreva
nossa história.

(Texto baseado na entrevista feita com a sra. Marinalda da Silva de Oliveira, 57 anos.)
Professora: Daniela Corrêa da Silva
Escola: E. M. E. F. Professora Dilza Flores Albrecht • Cidade: São Leopoldo – RS

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