O que um dia foi uma praça para os namorados, como dizem os mais antigos da cidade, é hoje um ponto de vendas para feirantes, mototáxis loucos por clientes, estacionamento de bicicletas cargueiras que ficam juntas num cantinho à beira da rua, à espera de cargas.
Por entre as folhagens da frondosa e velha árvore que vem resistindo ao tempo posso ouvir um sussurro em tom de tristeza: “O que fizeram com minha estátua que um dia foi alvo de admiração?” É a voz de Castelo Branco trazida pelo vento que logo desaparece.
Em frente à antiga Praça Castelo Branco, a feirinha vai aos poucos sendo engolida pelo barranco que insiste em levar a frente da cidade. Do outro lado do rio, que por sinal
é bem estreito e de águas barrentas, estende-se uma nova “cidade”, na qual, olhando
daqui, posso ver a pequena escola de madeira, uma igrejinha e casas bem humildes que
aumentam a cada ano. Eu me pergunto: será que nossa Eirunepé não ficaria melhor do
outro lado do rio?
Na feirinha, ficam os vendedores despreocupados, porque no interior é assim: tudo
muito pacato. Observo a mulher que chega, se aproxima dos jerimuns amontoados sobre a
calçada e pergunta:
— Quanto custa?
Antes que o vendedor pudesse responder, um homem aparentando seus sessenta anos,
usando óculos escuros e boné preto, interrompe:
— Presta, não, minha filha, esses das cascas vermelhas eu conheço, já plantei muito.
O bom mesmo é esse verdinho rajado, jerimum caboclo. Já plantei de muitos tipos, mas
esse vermelhinho só fiquei com ele um ano.
Não entendo como podem existir pessoas tão intrometidas, que entram a martelo.
O vendedor tentava falar algo, mas não conseguia, pois os dois não se calavam.
Olhando para o outro lado da velha praça, a mulher encontrou uma maneira de fugir
do desconhecido e, fingindo se interessar pelas melancias à venda espalhadas pelo chão,
foi em direção a elas e desta vez o vendedor levou a melhor, pois este era mais esperto
que o primeiro.
E os mototáxis? Ah, esses estavam sentados num banco pertinho do orelhão, provavelmente
à espera da ligação de um cliente. Quando o telefone tocou, eram uns por cima dos
outros, correndo para ver quem atendia primeiro. Um sortudo e rápido atendeu, e adivinhe...
Era engano! Os outros começaram a rir.
É, na praça é assim, todos agem com cumplicidade e ao mesmo tempo muito atentos a tudo. Lá tem monotonia, mas tem também muita concorrência. Quem é mais esperto ganha
o freguês.
E a concorrência pelo cliente continua...
— Alguém pode me levar ao Conjunto Beija-Flor?
Professora: Maria de Fátima Rocha Farias
Escola: E. E. Francisca Mendes • Cidade: Eirunepé – AM
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