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quinta-feira, 14 de junho de 2012

        Rosa Pálido Coral
              (Rosilda da Silva)

A dor que hoje sinto,
pungente, latente e atrevida,
chegou-me de repente.
Vinda, não sei de onde,
querendo não sei o quê.
Abraçou-me demasiado forte
o corpo, a razão e os humores.
Tocou com seus dedos de fogo
essa marginal rosa pálido,
bem junto ao 36 molar inferior esquerdo
transformando-a em coral e
incendiando cuidadosamente
aquele pedaço tão sem graça de mim.
Mostrou-me o quão importante era,
merecedora de olhos amantes, cuidadores
e vorazes de atenção.
Sabedora da chantagem sofrida
inebriei-me então de absinto
e dormitei o quanto pude.
O dia era convidativo
e aproveitei, não minto.



Mas, eis que um novo dia surge
e com ele essa perversa dor reaparece.
Esquecendo o feitiço da tribo,
deixando de lado os conselhos do pajé,
apelo então pra sua solicitude
que permeando experiências
me olha por dentro e muito vê.

Modesto e sábio
Vai logo dizendo:
- Não te preocupes menina,
Esse dente, não hás de perder.

Mas, você, moço solícito,
e que dos sorrisos tanto gosta,
uma lágrima viu rolar.
A dor não era no dente,
mas a gengiva a incomodar.

Essa marginal, firme na sua consistência
agora rosa pálido coral e cheia de chistes,
aderiu à resistência.
Queria-se livre, absoluta e objeto de atenção.
Entretanto, para seu desespero e humilhação,
boas orientações segui e hoje liberta estou.
Medicação e repouso foram as armas
que o sábio dos dentes recomendou e,
por conta disso hoje és novamente minha amiga.
A tão somente, Rosa Pálido Gengiva
que no 36 molar inferior esquerdo
outra vez encostou.

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