Total de visualizações de página

terça-feira, 22 de maio de 2012

Planejamento para o Gênero Poema e Atividade de Interpretação Textual

Objetivos

 Deseja-se que, no decorrer destas aulas e durante a construção de seus conhecimentos nesta série, os alunos:
- Ampliem o conhecimento sobre o fazer poético;
- Exercitem a imaginação na produção de textos, tendo como base textos poéticos;
- Aproximem-se da linguagem poética e de suas peculiaridades;
- Busquem, de forma autônoma, a leitura poética e literária de modo geral;
- Diferenciem poema de poesia;
- Levar o aluno a identificar a temática do texto poético, mesmo dentro de uma estética diferente.
- Comparar a objetividade da linguagem científica com a subjetividade da linguagem da poesia.
- Desenvolver a percepção do aluno em relação àquilo que está ou não determinado no poema.

Sequência didática

1 – Leitura silenciosa, oral e cópia do texto.
2 – Limite de tempo para respostas em dupla – 10 minutos.
3 – Leitura oral realizada pelos alunos das respostas elaboradas.


Leitura do dia

Uma questão de educação – Marina Colassanti

          Viu sua mulher conversando no portão com o amante.  Não teve dúvidas.  Quando ela entrou, decepou-a com o machado.  Depois recolheu a cabeça e, antes que todo o sangue escapasse pelo pescoço truncado, jogou-a na panela.  Picou cebola, os temperos, acrescentou a água, e começou a cozinhar a grande sopa.           
          Pronto, porém, não conseguiu comê-la. Ânsias de vômitos trancam-lhe a garganta diante do prato macabro.  Nunca, desde pequeno, suportava a visão de cabelos na comida.

AULA 1 -   LEITURA – ALIMENTO PARA O IMAGINÁRIO HUMANO


            Sem  a leitura,  alimento tão rico, ficamos desnutridos.  Contamos histórias  e as lemos porque somos humanos, contadores inatos, congênitos.  Porque temos fome da imaterialidade dos sonhos. De subjetividade, grandeza, amor,  detalhes, desafios, ternura.
            Temos fome de reinventar a mesmice.  Embelezar o cotidiano. Dançar com as fadas além do bem e do mal.  Com uma carga de lirismo e uma dose cavalar de loucura.
            É para isso que existimos, para termos uma história só nossa.  Uma história escrita com o rastro fosforescente de nossos pés.  Quem conta uma história acende uma luz atrás do véu da realidade e conta um segredo, sussurra e revela uma verdade, várias verdades fantasiadas de mentiras.
            Um contador de histórias lúcido sabe que um castelo erguido no imaginário de uma  criança possui uma arquitetura tão arrojada que nenhum tesouro do mundo real seria capaz de custear a sua construção,  por isso ele investe no enriquecimento do universo interior do leitor e agindo dessa forma contribui para erradicar a miséria emocional e espiritual do homem.
            E, é por tudo isso que se espera que a leitura seja para a mente o que o exercício é para o corpo, pois, ler é o mais fascinante dos vícios.
            Mas conforme Maria Helena Martins (1991:83) “para que a leitura se efetive, deve preencher uma lacuna em nossa vida, precisa vir ao encontro de uma necessidade, de um desejo da expansão sensorial, emocional ou racional, de uma vontade de conhecer mais,” o que, aliás, pressupõe-se, todo aluno deveria possuir, pois a pulsão do saber é a mola propulsora para os territórios desconhecidos.
          Então, questiona-se, tendo o aluno oportunidade de tempo para ler (nas aulas de leitura), disponibilidade de material adequado, bem como ambiente propício, por que é tão difícil acontecer o pacto entre o aluno e o universo da leitura?  Responder em dupla, no mínimo 6 linhas.




AULA 2 – O TEXTO LITERÁRIO

            O texto literário caracteriza-se como aquele que apresenta liberdade no uso das variantes da língua.  O autor pode empregar a norma culta ou o dialeto popular, o registro mais formal ou o mais informal, tudo vai depender de suas intenções, do assunto, do ambiente e das personagens retratadas.  Cada texto literário é que vai criando os limites e a adequação das escolhas do autor.
          A literatura pode ou não utilizar-se da norma culta. Seu objetivo não é “ficar dentro das regras”, mas buscar qualquer dialeto ou registro que melhor consiga criar a linguagem  do mundo criado por ela, com seus significados.
          Os textos considerados literários põem, em geral, em relevo o plano da expressão, da sonoridade, do jogo de imagens.  O gênero literário tem como principal finalidade explorar o aspecto estético da linguagem.  A palavra em si não basta como matéria.  É necessário que seja trabalhada, escolhida, explorada nas suas significações. E, vale lembrar que para uma obra ser artística é preciso que haja a intenção estética.
O texto literário é a expressão da subjetividade do autor. Caracteriza-se, portanto, pela linguagem criativa e metafórica. Seu estudo não pode ser reduzido, é preciso ir além disso, explorando os recursos que dão efeito sonoro, como a aliteração e a assonância, e o sentido conotativo e o caráter polissêmico das palavras. Entenda-se como texto literário os mais variados gêneros, sejam narrativos, descritivos ou poéticos.
          Alguns textos apresentam misturas de gêneros, por exemplo: narrativo e descritivo, poético e teatral, carta e crônica.

Caso do Vestido
Carlos Drummond de Andrade

Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego,
está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele…

Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só pra lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei… disse que sim.

Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pai sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.
Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: — Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há… nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.









                                                     Atividades          

ATENÇÃO – Realizar as atividades discursivas em uma folha, para entregar, contendo: data, nomes, série

1 – Audição e leitura do texto “Caso do Vestido” – Carlos Drummond de Andrade, poema que além de contar uma história é dialogado, característica incomum na linguagem poética.

2 – Pelo que se pode deduzir pela fala da mãe a família era abastada.  Onde possivelmente moravam?

3 – As personagens eram pessoas cultas?  Justifique sua resposta com elementos do texto.

4 – O vocabulário parece ser de vários níveis linguísticos. Esses desníveis fazem parte da tensão, desse conflito que se mantém ao longo do texto, ajudando a criar essa atmosfera teatral. Identifiquem palavras que mostrem isso.

5 – “O mundo é grande e pequeno”.  Que sentido tem esse comentário no poema?
(Observe a simetria que há entre várias situações da história.)

6 – Como a mãe sugere a decadência da outra mulher?

7 – Você concorda com todas as atitudes da mãe? Acha que ela agiu assim por amor ou nem amor justificaria uma atitude assim?

8 – Transforme esse texto poético em um texto em prosa, procurando não perder a essência, entretanto, fazendo alterações no vocabulário se necessário. Mínimo 30 linhas.

9 – Treine a leitura do seu texto em voz alta, para posterior apresentação. Não esqueça que é a entonação certa que dará mais dramaticidade a sua leitura.




Nenhum comentário: