Total de visualizações de página

domingo, 11 de agosto de 2019

A Escola Neoliberal


O neo liberalismo é um fenômeno sui generis. Suas raízes remontam ao liberalismo clássico. [...] As origens do neoliberalismo devem ser buscadas no imediato pós-guerra, na região da Europa e da América do Norte, onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. [...] O objetivo do grupo era combater a social-democracia, o keynesianismo e todas as formas de solidarismo.  Remavam contra a maré, já que o capitalismo europeu pós-guerra rumava claramente para um Estado intervencionista e com um pacto social diferente daquele reinante antes da guerra.. (321)

[...] o grupo de Hayek argumentava que o novo igualitarismo (muito relativo, bem entendido) desse período, promovido pelo Estado de bem-estar social, destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos. [...] Após quase três décadas de bonança capitalista e formação de um portentoso Estado do bem-estar social na Europa, o capitalismo deu sinais de crise cíclica de caráter estrutural já no início dos anos 1970. [...] Curiosamente, a primeira experiência de implementação de política econômica de talhe neoliberal foi no Chile, sob o regime ditatorial. [...] Essas forças intervencionista corroíam os lucros das empresas e patrocinavam a criação de pressões inflacionárias. [...] A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. [...] Assim, surgiu um conjunto de recomendações que logo ganhariam  a aparência de uma espécie de "receita de bolo", com alguns ingredientes indispensáveis como: estabilidade monetária, Hayek reforma fiscal, disciplina orçamentária (corte dos gastos sociais), controle dos juros e da base monetária, reforma tributária, contenção salarial, redução drástica dos gastos públicos, de preferência com a existência de superávit primário (descontados os juros), privatização, desregulamentação, abertura de mercados, liberdade para os fluxo financeiros etc. Ou seja, o mercado seria o eixo sobre o qual deveria girar toda a atividade econômica e social. (322)

Em 1979, na Inglaterra, foi eleito o governo da primeira-ministra Margareth Thatcher, que imediatamente tratou de implementar uma política de talhe neoliberal. Em 1980, foi a vez dos Estados Unidos, com o governo de Ronald Reagan. Em 1983, Khol, na Alemanha, e daí a onda se espalharia para toda a Europa e, mais tarde, para toda a América Latina e para o mundo.  O neoliberalismo ganhava a dimensão de uma ideologia hegemônica em substituição à hegemonia keynesiana anterior. (323)


Hayek foi um dos mais destacados economistas da Escola Austríaca, e sua obra ganhou a dimensão de best-seller,  principalmente The road to serfdom, considerada precursora do pensamento neoliberal. [...] A obra de Hayek revela um intelectual de grande envergadura e erudição. [...] Para Hayek, a economia deveria "evoluir espontaneamente" e, portanto, não caberia um planejamento central da economia na sociedade. Assim, opôs-se frontalmente ao planejamento central proposto e praticado no bloco socialista de então.  Segundo Hayek,  "a tentativa de dirigir toda a atividade econômica de acordo com um plano único levantaria inúmeras questões, cuja moral em vigor não tem resposta". [...] Segundo Hayek, o individualismo é um valor essencial para a construção e manutenção de uma sociedade livre. [...] Nesse sentido, o individualismo que ele defende é aquele associado ao Renascimento, e não meramente o liberalismo dos séculos XVIII e XIX [...] (324)

É significativo no pensamento de Hayek o pressuposto de que o liberalismo do século XIX deveria ser repensado. Para ele, "nada há nos princípios básicos do liberalismo que lhe dê a feição de um credo inalterável".  E também "o princípio fundamental de que na direção dos nossos assuntos devemos fazer o maior uso possível das forças espontâneas da sociedade e recorrer o menos possível à coerção, é suscetível de uma infinita variedade de aplicações". [...] A crítica ao planejamento econômico central e ao socialismo é o outro eixo fundamental da análise empreendida por Hayek. (325)

[...] a democracia "é essencialmente um meio, uma invenção útil para salvaguardar a paz interna e a liberdade individual", e uma "ditadura do proletariado que, mesmo sob a forma democrática, empreendesse a direção centralizada do sistema econômico, destruiria, provavelmente, a liberdade pessoal de modo tão completo quanto qualquer autocracia". [...] A riqueza e a dimensão do pensamento de Hayek têm suas bases em defender os princípios liberais clássicos. [...] da crítica ao velho liberalismo e da afirmação dos princípios do individualismo e da democracia [...] (326)

Milton Friedman - Sua colaboração à teoria econômica se estende por vários aspectos, como a microeconomia, a teoria monetária, a macroeconomia, a estatística etc. Sua mais famosa obra é, sem sombra de dúvida, Capitalismo e liberdade (1962), em que defende a ideia básica de que não pode haver liberdade individual, nem tampouco na sociedade, se não houver liberdade econômica. Foi um fervoroso defensor da "estabilidade monetária", da "liberdade econômica", da propriedade privada e da democracia. [...] A obra de Friedman também é reconhecida nos meios acadêmicos como uma expressão da corrente a qual as variações da atividade econômica não se explicam pelo volume de investimento, mas principalmente, pelas variações na oferta de moeda.  A intervenção estatal é vista como uma interferência desnecessária na vida econômica, na medida em que uma boa administração advinda da política monetária encaminharia de forma satisfatória os problemas econômicos, principalmente quanto às pressões inflacionárias. [...] O ideário monetarista tem como um de seus pilares a tese segundo a qual as pressões inflacionárias decorrem, em geral, do desregramento por parte do Estado, que, ao gastar mais do que arrecada, produz um desequilíbrio que mais cedo ou mais tarde deverá ser combatido. (327)

Para essa teoria o papel da oferta de moeda é fundamental na atividade econômica. Um dos objetivos da teoria é explicar o fenômeno inflacionário. [...] Ao contrário, a inflação é um fenômeno fundamentalmente  monetário e de mercado, ou seja, está associado aos desequilíbrios entre a oferta agregada e a demanda. [...] Conclui-se que a inflação é um fenômeno monetário e sua origem está fundamentalmente alicerçada na desordem emissionária do governo.  (328)

Os países endividados deveriam fazer sua lição de casa, ou seja, reduzir drasticamente seus gastos e jamais recorrer às emissões monetárias.  (329)

A História do Pensamento Econômico - Roberson de Oliveira e Adilson Marques Genarri. (Capítulo 21)



Nenhum comentário: