Citações
Capítulo I - O Surgimento
7 - A sociologia [...] representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes, ara outros ela é a expressão teórica dos movimentos revolucionários.
8 - [...] sociologia, conjunto de conceitos, técnicas e de métodos de investigação produzidos para explicar a vida social - no contexto histórico que possibilitou o seu surgimento, formação e desenvolvimento.
8 - A trajetória desta ciência tem sido uma constante tentativa de dialogar com a civilização capitalista, em suas diferentes fases. [...] sempre foi algo mais do que uma mera tentativa de reflexão sobre a sociedade moderna. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no rumo desta civilização. Se o pensamento científico sempre guarda uma correspondência com a vida social, na sociologia esta influência é particularmente marcante.
10 - Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. [...] O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista.
11 - A dupla revolução que esse século testemunha - a industrial e a francesa - constituía os dois lados de um mesmo processo, qual seja, a instalação definitiva da sociedade capitalista. A palavra sociologia apareceria somente um século depois, por volta de 1830, mas são os acontecimentos desencadeados pela dupla revolução que a precipitam e a tornam possível.
12 - Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social.
13 - Manchester, que constituiu um ponto de referência indicativo desses tempos, por volta do início do século XIX era habitada por setenta mil habitantes: cinquenta anos depois, possuía trezentas mil pessoas. As consequências da rápida industrialização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram parte da população etc. É evidente que a situação de miséria também atingia o campo, principalmente os trabalhadores assalariados, mas o seu epicentro ficava, sem dúvida, nas cidades industriais. Um dos fatos de maior importância relacionados com a revolução industrial é, sem dúvida, o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenha na sociedade capitalista.
14 - 15 - Qual a importância desses acontecimentos para a sociologia? O que merece ser salientado é que a profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano de análise, ou seja, esta passava a se constituir em "problema", em "objeto" que deveria ser investigado.
15 - Tal fato significa que os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos, entre indivíduos que participavam e se envolviam profundamente com os problemas de suas sociedades.
16 - [...] a sociologia, enquanto instrumento de análise, inexistia nas relativamente estáveis sociedades pré-capitalistas, uma vez que o ritmo e o nível das mudanças que aí se verificavam não chegavam a colocar a sociedade como "um problema" a ser investigado. O surgimento da sociologia, como se pode perceber, prende-se em parte aos abalos provocados pela revolução industrial, pelas novas condições de existência por ela criadas.
16 - 17 - [...] modificações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento. As transformações econômicas, que se achavam em curso no ocidente europeu desde o século XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura.
17 - A partir daquele momento, o pensamento paulatinamente vai renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os fatos e substituindo-a por uma indagação nacional.
24 - O objetivo da Revolução de 1789 não era apenas mudar a estrutura do Estado, mas abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, com suas instituições tradicionais, seus costumes e hábitos arraigados, e ao mesmo tempo promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural etc.
26 - Durkheim, por exemplo, um dos fundadores da sociologia, afirmou certa vez que, a partir do momento em que "a tempestade revolucionária passou, constituiu-se como que por encanto a noção de ciência social".
27 - [...] para encontrar um estado de equilíbrio na nova sociedade, seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo portanto uma ciência da sociedade.
28 - Saint-Simon, de uma maneira muito explícita, afirmaria a este respeito que "a filosofia do último século foi revolucionária; a do século XX deve ser reorganizadora" [...]
30 - Enquanto resposta intelectual à "crise social" de seu tempo, os primeiros sociólogos irão revalorizar determinadas instituições que, segundo eles, desempenham papéis fundamentais na integração e na coesão da vida social.
31 - Na concepção de um de seus fundadores, Comte, a sociologia deveria orientar-se no sentido de conhecer e estabelecer aquilo que ele denominava leis imutáveis da vida social, abstendo-se de qualquer consideração crítica, eliminando também qualquer discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, por exemplo, a questão da igualdade, da justiça, da liberdade.
32 - Numa palavra, a ciência conduz à previdência, e a previdência permite regular a ação.
33 - Envolvendo-se desde o seu início nos debates entre as classes sociais, na disputas e nos antagonismos que ocorriam no interior da sociedade, a sociologia sempre foi algo mais do que mera tentativa de reflexão sobre a moderna sociedade. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um desejo de interferir no rumo desta civilização, tanto para manter como para alterar os fundamentos da sociedade que a impulsionaram e a tornaram possível.
Capítulo II - A Formação
34 - No final do século passado, o matemático francês Henri Poicaré referiu-se à sociologia como ciência de muitos métodos e poucos resultados. Ao que tudo indica, nos dias de hoje poucas pessoas colocam em dúvida os resultados alcançados pela sociologia. As inúmeras pesquisas realizadas pelos sociólogos, a presença da sociologia nas universidades, nas empresas, nos organismos estatais, atestam a sua realidade. Ao lado desta crescente presença da sociologia no nosso cotidiano, continua, porém, chamando a atenção daqueles que se interessam por ela os frequentes e acirrados debates que são travados em seu interior sobre o seu objeto de estudo e os seus métodos de investigação.
35 - A existência de interesses opostos na sociedade capitalista penetrou e invadiu a formação da sociologia.
38 - Pensadores como Edmund Burke (1729 - 1797), Joseph de Maistre (1'754 - 1821), Louis de Bonald (1754 - 1840) [...] Não viam nenhum progresso numa sociedade cada vez mais alicerçada no urbanismo, na indústria, na tecnologia, na ciência e no igualitarismo. Lastimavam o enfraquecimento da família, da religião, da corporação etc. Na verdade, julgavam eles, a época moderna era dominada pelo caos social, pela desorganização e pela anarquia.
40 - É comum encontrarmos a inclusão de Saint-Simon (1760 - 1825) entre os primeiros pensadores socialistas. [...] Durkheim costumava afirmar que o considerava o iniciador do positivismo e o verdadeiro pai da sociologia. [...] Saint-Simon tem sido geralmente considerado o "mais eloquente dos profetas da burguesia" [...]
41 - A união dos industriais com os homens de ciência, formando a elite da sociedade e conduzindo seus rumos era a força capaz de trazer ordem e harmonia à emergente sociedade industrial.
43 - Comte era extramente impiedoso no seu ataque a esses pensadores. [...] Para haver coesão e equilíbrio na sociedade seria necessário restabelecer a ordem nas ideias e nos conhecimentos, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens.
44 - Comte procurou estabelecer os princípios que deveriam nortear os conhecimentos humanos. Seu ponto de partida era a ciência e o avanço que ela vinha obtendo em todos os campos de investigação.
44 - 45 - O advento da sociologia representava para Comte o coroamento da evolução do conhecimento científico, já constituído em várias áreas do saber.
45 - Comte considerava um dos pontos altos de sua sociologia a reconciliação entre a "ordem" e o "progresso", pregando a necessidade mútua destes dois elementos para a nova sociedade.
46 - Também para Durkheim (1858 - 1917) a questão da ordem social seria uma preocupação constante. [...] É por meio dele que a sociologia penetrou a Universidade, conferindo a essa disciplina o reconhecimento acadêmico.
47 - Durkheim acreditava que a raiz dos problemas de seu tempo não era a natureza econômica, mas sim uma certa fragilidade da moral da época em orientar adequadamente o comportamento dos indivíduos. [...] Compartilhava com Saint-Simon a crença que os valores morais constituíam um dos elementos eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas de sua época histórica. Acreditava também que era a partir deles que se poderia criar relações estáveis e duradouras entre os homens.
48 - De acordo com ele, cada membro da sociedade, tendo uma atividade profissional mais especializada, passava a depender cada vez mais do outro. Julgava, assim, que o efeito mais importante da divisão do trabalho não era o seu aspecto econômico, ou seja, o aumento da produtividade, mas sim o fato de que ela tornava possível a união e a solidariedade entre os homens. [...] Para Durkheim, a anomia era uma demonstração contundente de que a sociedade encontrava-se socialmente doente. [...] a sociedade encontrava-se incapaz de exercer controle sobre o comportamento de seus membros.
49 - Ao enfatizar ao longo de sua obra o caráter exterior e coercitivo dos fatos sociais, Durkheim menosprezou a criatividade dos homens no processo histórico.
50 - Dispostos a restabelecer a "saúde" da sociedade, insistia que seria necessário criar novos hábitos e comportamentos no homem moderno, visando ao "bom funcionamento" da sociedade. Era de fundamental importância, nesse sentido, incentivar a moderação dos interesses econômicos, enfatizar a noção de disciplina e de dever, assim como difundir o culto à sociedade, às suas leis e à hierarquia existente.
56 - O idealismo de Hegel postulava que o pensamento ou o espírito criava a realidade. Para ele, as ideias possuíam independência diante dos objetos da realidade, acreditando que os fenômenos existentes eram projeções do pensamento.
56 - 57 - Paralelamente ao avanço das pesquisas sobre o caráter dinâmico da natureza, os frequentes conflitos de classes que ocorriam nos países capitalistas mais avançados da época levavam Marx e Engels a destacar que as sociedades humanas também se encontravam em contínua transformação, e que o motor da história eram os conflitos e as oposições entre as classes sociais.
58 - Argumentando contra essa concepção extremamente individualista, procuravam assinalar que o homem era um animal essencialmente social. A observação histórica da vida social demonstrava que os homens se achavam inseridos em agrupamentos que, dependendo do período histórico, poderia ser a tribo, diferentes formas de comunidades ou a família. [...] O conhecimento da realidade social deve se converter em um instrumento político, capaz de orientar os grupos e as classes sociais para a transformação da sociedade.
58 - 59 - A função da sociologia, nessa perspectiva, não era a de solucionar os "problemas sociais", com o propósitos de restabelecer o "bom funcionamento da sociedade", como pensavam os positivistas. Longe disso, ela deveria contribuir para a realização de mudanças radicais na sociedade. Sem dúvida, foi o socialismo, principalmente o marxista, que despertou a vocação crítica da sociologia, unindo explicação e alteração da sociedade, e ligando-a aos movimentos de transformação da ordem existente.
59 - Para Marx, assim como para a maioria dos marxistas, a luta de classes, e não a "harmonia" social, constituía a realidade concreta da sociedade capitalista.
61 - A sociologia encontrou na teoria social elaborada por Marx e Engels [...] inspiração para se tornar um empreendimento crítico e militante, desmistificador da civilização burguesia, e um compromisso com a construção de uma ordem social na qual fossem eliminadas as relações de exploração entre as classes sociais.
62 - 63 - Vários estudiosos da formação da sociologia têm assinalado, no entanto, que a neutralidade defendida por Weber foi um recurso utilizado por ele na luta pela liberdade intelectual, uma forma de manter a autonomia da sociologia em face da burocracia e do Estado alemão da época.
65 - A sociologia por ele desenvolvida considerava o indivíduo e a sua ação ponto chave de investigação. Com isso, ele queria salientar que o verdadeiro ponto de partida da sociologia era a compreensão da ação dos indivíduos e não a análise das "instituições sociais" ou do "grupo social", tão enfatizadas pelo pensamento conservador.
66 - Foi um dos precursores da pesquisa empírica na sociologia, efetuando investigações sobre os trabalhadores rurais alemães.
67 - Weber reconhecia [...] o capitalismo era também obra de ousados empresários que possuíam uma nova mentalidade diante da vida econômica, uma nova forma de conduta orientada por princípios religiosos.
68 - Sua pesquisa apenas procurou assinalar que uma das causas do capitalismo, ao lado de outras, como os fatores políticos e tecnológicos, foi a ética de algumas seitas protestantes.
Capítulo III - O Desenvolvimento
75 - O sociólogo de nosso tempo passou a desenvolver o seu trabalho, via de regra, em complexas organizações privadas ou estatais que financiam suas atividades e estabelecem os objetivos e as finalidades da produção do conhecimento sociológico. Envolvido nas malhas e nos objetivos que sustentam suas atividades, tornou-se para ele extremamente difícil produzir um conhecimento que possua uma autonomia crítica e uma criatividade intelectual.
77 - [...] a sociologia conheceu uma de suas fases mais ricas em termos de pesquisa. [...] a formação histórica do capitalismo, a questão da divisão do trabalho e dos mecanismos sociais que possibilitam o funcionamento da ordem social.
80 - 81 - Documentaram de forma exaustiva, nesse trabalho, todo o impacto da urbanização sobre os homens, concentrando-se também na análise da mudança das formas tradicionais de controle social para outras; típicas do meio urbano.
90 - A profissionalização da sociologia, orientada para legitimar os interesses dominantes, constituiu campo fértil para uma classe média intelectualizada ascender socialmente. A profissionalização do sociólogo, moldada por essa lógica de dominação, acarretou-lhe, via de regra, a sua conversão em assalariado intelectual e a domesticação do seu trabalho.
91 - Roberto Merton [...] Assinala [...] que nem todos os elementos culturais ou sociais contribuem para o equilíbrio social, pois alguns podem ter consequências incômodas para certa sociedade, dificultando o "bom funcionamento" de sua ordem.
92 - Ao lado de uma sociologia que estendeu suas mãos ao poder, não se pode deixar de mencionar as importantes contribuições proporcionadas por uma sociologia orientada por uma perspectiva crítica. Em boa medida, esta sociologia tem permitido a compreensão da sociedade capitalista atual, das suas políticas de dominação e dos processos históricos que buscam alterar a sua ordem existente.
92 - 93 - [...] a sociologia encontrou sua vocação crítica na tradição do pensamento socialista, que tem analisado a sociedade capitalista como um acontecimento histórico transitório e passageiro.
94 - Nos vários países que formam a periferia do sistema capitalista, produz-se uma sociologia questionadora da ordem, principalmente da dominação imperialista a que esses povos estão submetidos. Alguns dos questionamentos mais severos das suposições básicas da sociologia, dos seus conceitos e métodos, da sua conduta, têm partido dos sociólogos da periferia do sistema capitalista, inconformados com a situação histórica em que se encontram seus povos e com os rumos que a sociologia tomou em diversas sociedades. [...] é necessário que o sociólogo estabeleça uma relação com as forças e com os movimentos sociais que procuram modificar a essência das relações dominantes.
95 - [...] a função do sociólogo de nossos dias é liberar sua ciência dos aprisionamentos que o poder burguês lhe impôs e transformar a sociologia em um instrumento de transformação social. [...] dos interesses daqueles que se encontram expropriados material e culturalmente, para junto deles construir uma sociedade mais justa e mais igualitária do que a presente.
Análise do conteúdo
A partir do exposto na obra "O que é Sociologia?", de Carlos Benedito Martins, é possível afirmar que a sociologia é uma ciência mutável, pois seu objeto de estudo, a sociedade, transforma-se constantemente para atender as demandas de cada época.
Os excertos escolhidos para este fichamento buscaram evidenciar, a partir de sua trajetória, a função da sociologia, que durante o século XVIII visava organizar a vida em sociedade, num período de transição entre o feudalismo e o capitalismo. Já no Séc. XIX, buscava compreender as transformações gritantes sofridas com o capitalismo e a analisava a sociedade como um objeto-problema que necessitava ser investigado.
Percebe-se então que a sociologia passou de restauradora da ordem à ciência que busca desenvolver-se autônoma, livre das malhas estatais, para a produção de um conhecimento e pensamento crítico acerca da sociedade, de seus sujeitos, das transformações que os homens consomem ou pelas quais são consumidos.
Contudo, o fazer sociológico é um fazer exaustivo, reflexivo, crítico, e que para demandar seriedade precisa largas as mãos das estruturas dominantes, pautando-se pelo intelecto e não pela "domesticação do seu trabalho", tendo por base a ciência e por objeto de estudo a sociedade.
Rosilda Silva
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