Considerada pela crítica como
uma das mais versáteis e completas das escritoras brasileiras contemporâneas, a
carioca Ana Maria Machado ocupa a cadeira numero 1 da Academia Brasileira de
Letras, que presidiu de 2011 a 2013.
Na sua carreira, os números
são generosos. São mais de 40 anos escrevendo, mais de cem livros publicados
(dos quais 9 romances e 8 de ensaios), mais de vinte milhões de exemplares
vendidos, publicados em vinte idiomas e 26 países. Os prêmios conquistados ao
longo da carreira também são muitos, de se perder a conta. Entre eles, 3
Jabutis, o Machado de Assis da ABL em 2001 para conjunto da obra, o Machado de
Assis da Biblioteca Nacional para romance, o Casa de Las Americas ( 1980,
Cuba), o Hans Christian Andersen, internacional, pelo conjunto de sua obra
infantil (2000), o Príncipe Claus (Holanda), o Iberoamericano SM de Literatura
Infantojuvenil(2012) , o Zaffari & Bourbon (2013) por melhor romance do
Biênio em língua portuguesa . Foi também agraciada, em alguns casos mais de uma
vez, com láureas como : Premio Bienal de SP, João de Barro, APCA, Cecilia
Meireles, O Melhor para o Jovem, O Melhor para a Criança, Otavio de Faria,
Adolfo Aizen, e menções no APPLE (Association Pour la Promotion du Livre pour
Enfants, Instituto Jean Piaget, Génève), no Cocori (Costa Rica), no FÉE
(Fondation Espace Enfants, Suiça) e Americas Award (Estados Unidos).
Ana Maria nasceu em Santa
Tereza, Rio de Janeiro, a 24 de dezembro de 1941. É casada com o músico
Lourenço Baeta, do quarteto Boca Livre, tendo o casal uma filha. Do casamento
anterior com o médico Álvaro Machado, Ana Maria teve dois filhos.
Estudou no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro e no MOMA de Nova York, tendo participado de salões e
exposições individuais e coletivas no país e no exterior, enquanto fazia o
curso de letras (depois de desistir do curso de Geografia). Formou-se em Letras
Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade
do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ.
Deu aulas na Faculdade de
Letras na UFRJ (Literatura Brasileira e Teoria Literária) e na Escola de
Comunicação da UFRJ, bem como na PUC-Rio (Literatura Brasileira). Além de
ensinar nos colégios Santo Inácio e Princesa Isabel, no Rio, e no Curso Alfa de
preparação para o Instituto Rio Branco, também lecionou em Paris, na Sorbonne
(Língua Portuguesa), na Universidade de Berkeley, Califórnia – onde já havia
sido escritora residente – e ocupou a cátedra Machado de Assis em Oxford.
No final de 1969, depois de
ser presa pelo governo militar e ter diversos amigos também detidos, deixou o
Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem para a Europa, levava cópias de
algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio.
Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como
jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres,
além de se tornar professora de Língua Portuguesa em Sorbonne. Nesse período,
participou de um seleto grupo de estudantes cujo mestre era Roland Barthes, e
terminou sua tese de doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua
orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pedro. A tese resultou no livro
Recado do Nome (1976) sobre a obra de Guimarães Rosa.
Paralelamente, nunca deixou de
escrever as histórias infantis, que continuavam a ser publicadas pela revista e
só a partir de 1976 passaram a sair em livro.
A volta ao Brasil veio no
final de 1972, quando começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Radio Jornal
do Brasil, cujo departamento de Jornalismo chefiou de 1973 a 1980, numa gestão
que deixou marcas entre os ouvintes, pela ousadia e inventividade com que soube
animar uma equipe jovem no enfrentamento cotidiano contra a censura da
ditadura. Como jornalista, trabalhou também no Correio da Manhã, n’O Globo, e
colaborou com as revistas Realidade, IstoÉ e Veja e com os semanários O
Pasquim, Opinião e Movimento.
Continuando a escrever para
crianças, em 1977 ganhou o prêmio João de Barro pelo livro História
Meio ao Contrário. O sucesso foi imenso e levou à publicação de
muitos livros até então guardados na gaveta. Dois anos depois, junto com Maria
Eugênia Silveira, decidiu abrir a Malasartes, a primeira livraria infantil do
Brasil , que co-dirigiu por 18 anos, apostando na inteligência do leitor, na
criteriosa seleção dos títulos a partir de um conhecimento acumulado, na
liberdade de escolha, na convicção de que ler livro bom é uma tentação irresistível
e um direito de toda criança. O sucesso foi tal que, daí a um ano, só no Rio de
Janeiro, havia 14 livrarias que buscavam seguir o mesmo modelo.
Também foi editora, uma das
sócias da Quinteto Editorial, junto com Ruth
Rocha. Há mais de três décadas vem exercendo intensa atividade na
promoção da leitura e fomento do livro, tendo dado consultorias, seminários da
UNESCO em diferentes países e sido vice-presidente do IBBY (International Board
on Books for Young People).
Na presidência da Academia
Brasileira de Letras deu especial ênfase a programas sociais de expansão do
acesso ao livro e à leitura nas periferias e comunidades carentes.
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