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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Eu conto o encanto - Parte 1

E então a moça disse sim. Era chegado o momento de parar de sofrer. Finalmente um homem de Deus apareceu na sua vida.

Foi tudo tão repentino. Convidada para pregar em uma igreja local, aguardava sua hora de ser chamada em meio a tantas outras irmãs, quando de repente surge porta adentro um grupo de irmãos vindos não se sabia de onde. Seus olhos acompanharam os passantes, mas focaram em um em especial. Andar gracioso e um quê de mistério o revestiam.

Ainda antes de ser chamada convidaram para dar uma palavra adivinhem quem? Exatamente, ele. O irmão mistério-charmoso. E, para sua surpresa, descobriu muitas coisas de uma só vez. Não era brasileiro, falava com algumas dificuldades o idioma e era o anjo de uma igreja. Mas, seria impressão sua ou teria mesmo notado que os olhos de lá fixaram-se nos de cá? Achava que estava vendo coisas. Carência, possivelmente.

E, num gesto de exortação aos irmãos ali presentes, ele passa da palavra para o seu testemunho. Breve, mas impactante, pelo menos para ela. Era, o belo ímpar, presidiário. Durante o dia trabalhava normalmente e à noite dormia no cárcere. Há dois anos fazia isso, mas, segundo ele, já estava há longos 13 anos aprisionado pelos delitos cometidos no passado. Que, pelo jeito, não foram poucos nem pequenos, pois procurado era pela Interpol em 5 países.

Desiludida pelas experiências passadas, entristecida pela vida; chorava aos pés do Senhor o desejo de uma família para chamar de sua. Como aquelas de comerciais de televisão, onde o casal e seus filhos estão sempre felizes e sorrindo. Orava pelas madrugadas, se consagrava com frequência e liberta estava dos erros passados. Agora se sentia pronta para uma nova vida e o encanto parecia ter finalmente chegado. Sim, o tempo de seu propósito debaixo do céu era este. Disso estava certa.
O tempo de abraçar, ajuntar, amar, edificar e ficar juntinho. Juntinhos para orar, buscar uma resposta, traçar planos. Juntinhos para curar as pisaduras que o tempo passado deixou.

Em dois meses essa resposta chegou. Foi confirmado no coração de um e de outro pela santa palavra e revelações. Enquanto isso a tecnologia se encarregava da rega. Trocavam mensagens todos os dias. Era para ele o primeiro bom dia e o último boa noite. Em dezembro, possivelmente, tudo melhoraria. Haveria de receber a liberdade e poderiam finalmente jantar juntos; sonhar juntos. Ela contava os dias, a pele brilhava, estava radiante, havia muita emoção envolvida.

E dezembro veio. Assim como vieram o calor,  a vermelhidão no céu e uma infinidade de cores pintando até os dias mais cinzentos. Tudo era luz, magia e espera. Meados de dezembro, férias chegando, coração a mil, os melhores hinos no carro, janela escancarada para a vida e muita vontade de quebrar as vértebras do tempo só para passar mais rápido para a próxima fase.

Dezesseis de dezembro, vinte horas, confraternizando com a equipe de trabalho, chegou a notícia tão esperada por uma mensagem no celular: Venha à igreja antes do término do culto. É importante, preciso falar com você. E, o amigo que era oculto foi na mesma hora revelado. Do jantar já nem lembrava mais o sabor. A boca não conseguia fechar. A felicidade habitava em seu sorriso. Agora, quem cantava eram os pneus do carro. Eles ditaram o ritmo do percurso reduzido para encontrar uma igreja cheia de choro e um pastor ajoelhado no altar de braços abertos.    


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