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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Os 10 caminhos para falar bem

Revista Língua Portuguesa - Ano 4 - Nº 53 - Março/2011

As principais orientações para quem quer melhorar o desempenho de uma apresentação em público.
Osório Antonio Cândido da Silva

Ao planejar o que vai dizer, leve em consideração uma lista mental de questões a que sua fala deve responder; as lacunas que cada afirmação pode provocar à medida que enunciada; o tipo de predisposição do auditório às ideias que você defenderá (conceitos partilhados, preconcei­tos, visão de mundo); as condições e o contexto em a comunicação ocorrerá.
Saber a idade do grupo, suas convicções políti­cas, religião, ocupação e algo mais é de vital impor­tância. As pessoas estarão apoiando sua fala ou se posicionarão contra? Será uma plateia mista? Este­ja preparado para valorizar a oposição.
A primeira real pergunta a ser respondida quan­do se prepara uma apresentação, portanto, é se o seu público é favorável a suas ideias. Será ele hostil? Te­rá ponto de vista oposto?
Explorar fatores como esse é bom ponto de par­tida para um orador iniciante.
Para experientes, é um adicional valioso. A persuasão assume formas variadas e conseguir que as pessoas concordem com sua forma de pensar é uma proeza.

• Com plateia a favor
Antes de tudo, considere se sua plateia vê com bons olhos aquilo que você apresenta.
1) Se o público concorda com seu ponto de vista, concentre-se nele, eliminando, assim, pon­tos de vista opostos. Vejamos um caso atual muito polêmico: se você batalha pela descrirninalização da maconha e pensa que é uma boa causa porque ela poderia ser taxada ou usada em tratamentos médicos, ou não tem efeito suficientemente nocivo para merecer a ilegalida­de, isso será, provavelmente, tudo o que você deve dizer.

Se a plateia for previamente favorável à ideia, estará predis­posta a ficar a seu favor. O gru­po tenderá a comprar não só a ideia principal como outras que façam parte do discurso. Presta­rá atenção a detalhes e será capaz de lembrar os pontos importan­tes, porque tudo confirmou suas noções anteriores.

• Encare a oposição
Essa é uma boa razão para você lapidar seu discurso e personalizá-lo para uma audiência específica. Faça um esforço adicional e gaste algum tempo para realizar isso.
O ponto chave aqui é: faça sua audiência concordar com a sua apresentação e, se não o conseguir totalmente, seja capaz de vencer resistências da plateia. Numa análise final, talvez você tenha de fa­zer uma abordagem sob outro ângu­lo, mais geral. Este será o maior de­safio oratório: convencer os que se opõem ao seu ponto de vista.

2) Quando uma audiência se posiciona contrariamente ao pon­to de vista do orador, ele deve en­dereçar sua fala aos argumentos da oposição.
Se você se preocupar só em de­fender seus pontos de vista, ignoran­do os da oposição, tenderá a ver sua audiência desligar-se de sua fala, tal­vez até considerá-lo um orador sem credibilidade.
Primeiro, porque não o sentirão intelectualmente honesto. Você não está considerando o momento com todas as suas devidas nuanças, os argumentos deles não foram valori­zados. Basicamente, você não os le­vou a sério. Então, o que é preciso fazer e como?

• Mecânica oratória
Você deve apresentar seu argu­mento, destacando seus pontos for­tes. A seguir, aponte os argumentos primários dos opositores e, então, vá destruindo um por um. Lance dúvi­das e o descrédito sobre eles. Desse modo, você estará dando atenção à oposição e oferecendo algo novo so­bre o que pensar.
Todos verão os pontos fracos de suas posições e estarão consideran­do as informações novas que supor­tam suas ideias. Você terá plantado a semente da dúvida e atraído muita gente para o seu modo de pensar.
Você pode ser um palestrante excepcional, com voz agradável, boa linguagem corporal, gestos, sob medida, ter um material de pesquisa excelente para apoiar seu discurso, um início magistral, uma finalização empolgante, bom humor e uma graça cativante. Mas se desconsiderar os pontos de valor de seus opositores, sua fala pode ser um fiasco.

• Plantar dúvida
Se o orador percebe que a opo­sição pode ter vários pontos fortes, deve mencionar alguns, não só pa­ra mostrar bom senso, mas plantar a dúvida e minar os fundamentos da oposição. Isso vai permitir que pare­ça educado, justo e equilibrado aos olhos da plateia. Assim, pode-se di­zer que o ponto focal para persuadir é fazer as pessoas se sentirem feli­zes depois de decidirem ver ou fazer o que você sugere, depois de terem concordado com você. E mais, sem ficarem com o sentimento de que "perderam a parada".

1 - Perder o Medo
 
Conheça sua plateia - Reúna o maior volume possível de informação sobre o seu público. Vai falar a especialistas? São neófitos no tema? Influenciam decisões? Prepare-se para falar um pouco a cada um: nem acima nem abaixo da expectativa. 
Conheça seu as­sunto - Faça apre­sentação atualizada. Não corra o risco de o público conhecer o tema mais do que você.
Esteja preparado - Não cometa o erro maior (aliás, amador) de não estar preparado. 
Encare seus ouvintes - Procure o contato visual com a plateia. Ao primeiro aceno positivo que receber, sua autoconfiança aumentará. Considere que as pessoas que se dispuseram a ouvi-Io estão ali para ver o seu sucesso e aprender com você. 
Fale com entusiasmo - Não imite ninguém. Mas fale de modo entusiasmado, com emoção. 
O momento mágico - Ofereça ao seu público algo que o surpreenda: o encanto do inesperado. 
Deixe uma mensagem - Encerre seu discurso com uma mensagem memorável. Procure transformar sua fala em possibilidade de ação.

2 - O tom naturaI da fala
- Nem a melhor das técnicas supera a sua naturalidade. Nunca imite quem quer que seja ao falar. 
- Não fale rápido demais. Se sua dicção não for boa, ninguém irá entender o que você diz. 
- Não fale lentamente e com longas pausas. O tédio pode prevalecer. 
- Não fale alto demais. Você se cansará e irritará o ouvinte. 
- Não fale baixo demais. As pessoas farão esforço para ouvi-Io e, não conseguindo, dispersarão. 
- Procure não cair na monotonia da fala linear, sem ênfase, nem a veemência exagerada. 
- Se for virar-se para a tela, fale um pouco mais alto enquanto estiver de costas para o auditório. 
- Crie um ambiente agradável de comunicação, alternando a altura e a velocidade da fala. 
- Dedique atenção à voz. Trabalhada, transmite segurança e carisma. 
- Não imite o sotaque da região em que estiver se apresentando. Nem satirize o de outras regiões. Você não sabe quem estará na plateia.

3 - Antes de entrar no assunto

- Só comece a falar quando estiver na frente de todos e sentir que a atenção da plateia está em você.
- Deixe seu nome completo bem visível.
- Desde o início, procure envolver seus ouvin­tes quanto à utilidade do tema.
- Mostre seus objetivos, dando visão geral do programa.
- Se o auditório for pequeno, faça perguntas e sinta a experiência que o grupo já tem do assunto. 
- Se ninguém o fez ao apresentá-Io, declare sua experiência no assunto de que vai tratar.
- Prepare-se para não ultrapassar o tempo definido. 
- Jamais declare que não teve tempo de preparar-se. 
- Quando sua apresentação fizer parte de algum programa, não ultrapasse o seu tempo; mas, se ocorrer, não deixe de dar explicações ao grupo.

4 - Vocabulário adequado
- Muito cuidado com a gramática. Erros atrapalham a apresentação e podem arrasar sua imagem. Dedique cuidado especial à concordância e à conjugação de verbos.
- Desenvolva um vocabulário simples, objetivo e suficiente para representar suas ideias.
- Evite termos de sua profissão ou região em locais não familiarizados com eles.
- Pronuncie bem as palavras, não corte S e R finais, nem intermediários.
- Evite o uso de cacoetes no meio do raciocínio como: "tá ok?", "é assim", "né", "bem", "então", "certo?", "é o seguinte".
- Evite, também, repetir certos termos ou frases ("basicamente", "quer dizer", "efetivamente").
- Não abuse de palavras estrangeiras.
- Evite as expressões "todos compreenderam?", "conseguiram entender?", "alguma dúvida?". Prefira algo como "acham que devo repetir?" ou "posso explicar melhor, ou não é o caso?".

5 - Controle emocional
- Defina os termos de sua fala. Isso garante que você e seu público estão tratando da mesma coisa. 
- Nunca se diminua diante de seu auditório. Nem se traia: não diga ou dê a entender que se preparou mal, os slides estão desatualizados ou coisa do gênero. A plateia poderá deduzir que não mereceu respeito e empenho de sua parte. 
- Cuidado para não se repetir em demasia. 
- É aceitável consultar anotações em algum momento de "branco". Mas não faça disso um hábito. 
- Nunca chame a atenção para o fato de você estar nervoso. 
- Ao fim, nunca diga que se esqueceu de um tópico. Indica que você não se preparou como devido. Na hora das perguntas, inclua aí o tópico esquecido, mesmo que a relação entre eles seja só ligeira. 
- Em nenhuma hipótese deixe escapar que acha seu tema uma chatice.
- Um lance pitores­co ou humorado aproxima as pessoas. Se surgir oportunidade, sirva-se disso. 
- Cuidado com pia­das que ridiculari­zam alguém. Podem criar ressentimentos ou constranger. 
- Não peça descul­pas por problema eventual (gri­pe, tosse, dor de cabeça).
 
6 - A linguagem do corpo
-  Os movimentos e as expressões faciais são recursos que favorecem o entendimento.
-  Não fique andando pelo palco enquanto fala, parecendo fera na jaula. 
-  Não fique parado no canto. Movimente-se; aproxime-se da plateia ao falar intimamente sobre um tópico.
- Procure não por as mãos nos bolsos, nas costas ou juntas a frente, em "folha de parreira".
- Gesticule com moderação, coerente como o que é dito no seu discurso. Excesso é prejudicial, mais que a falta.
- Segurar algo (caneta, apontador, papel) serve de "muleta", mas não mantenha as mãos cheias de coisas que não está usando no momento.
- Distribua o peso do corpo entre as pernas; apoioar-se alternadamente em uma ou outra torna a postura deselegante; não abra as pernas em demasia, mas o suficiente para manter o equilíbrio.
- Não fique com os ombros caídos. Passa a imagem de excesso de humildade ou negligência.
- Procure vestir-se de modo adequado ao auditório e à situação. Escolha uma cor de roupa que reduza a evidência do suor.
 
7 - A direção do rosto
-  Não olhe demais para um ouvinte ou grupo de ouvintes. Olhe o grupo, se poss­ível nos olhos.
-  Detenha-se mais no contato visual com quem ocupa cargo superior ou irá decidir um negócio. 
-  Não fique olhando o chão, o teto ou para fora da sala. 
-  Controle o tempo de sua apresentação, mas não fique olhando repetidamente para o relógio.
-  Não aparente arrogância, empinando o queixo e olhando o público "por cima". 
-  Estabeleça coerência entre seu semblante e o que está sendo dito. Coisas alegres, fisionomia sorridente: coisas tristes, cara fechada. 
-  Se inevitável ler um discurso, olhe com frequência para a plateia e tenha certeza e que ela esatenta.
-  Não abuse da mímica facial nos momentos de humor.
 
8 -  O cuidado material
- Se usar software para slides, evite o excesso de sons: desviam a atenção.
-  Não resuma a ideia lotando um slide com informação, Distribua-a em vários.
-  Revise os slides para eliminar erros (gramática, números, grafia, ordem).
-  Não se limite a ler o que está projetado na tela.
-  Evite o projetor ligado o tempo todo, Há horas em que não é preciso.
-  Jamais chegue com transparências desordenadas. Sinaliza desorganização quem procura "a próxima" numa pilha. Não as mostre velhas ou manchadas.
- Se usa apontador retrátil, não fique naquele abre-fecha interminável, agitan­do-o, Se for apontador a laser, não movimente o ponto luminoso na tela além do necessário, Nem o dirija à plateia.
- Ao montar o slide, use o fundo que melhor con­traste com letras e figuras; faça cópia com fundo branco para ser usada em salas com muita claridade.
- Não se desvie do tema que está projetado.
- Ao apon­tar o slide em direção à tela, não entre na frente da projeção nem dê as costas ao auditório.

9 - O microfone
- Fale, com sua voz habitual, à distância de uns 15 centímetros entre boca e microfone. 
- Não dê tapinhas no microfone. Isso irrita o ouvinte e só indica que o aparelho está ligado. 
- Ao testar o microfone, diga algo como: "Bom dia, posso ser ouvido com clareza?". Alguns da plateia sempre tentam ajudar. 
- Olhe o público e não o microfone, que é um instrumento auxiliar, nunca um obstáculo. 
- Considere a possibilidade de o sistema de som assumir comportamento enlouqueci­do: chiados, guinchos, apitos, distorção da voz, enfim, tudo o que distraia a atenção da audiência. Se é o caso, continue a fala até que alguém conserte o equipamento. 
- Se não for possível voltar a usar o microfone, solte mais a voz, mas não berre com a plateia.
- Sem recurso do som e sem ser ouvido pela maioria, melhor parar de falar. Brigar com equipamento ruim é desperdiçar seu tempo. E o dos ouvintes.
 
10 - O encerramento- Não fale demais. Diga o que tem a dizer e, em seguida, pare. Antes, porém, dê ao público algo que o faça pensar e encerre sua apresentação com uma mensagem consistente. 
- A última coisa que disser deverá ser a mais lembrada. Pode ser um desafio, uma sugestão de ação ou a solução de um problema. Induza seu público a fazer algo.  - 
- Se o tema permitir, faça um encer­ramento bem-humorado: se bem feito, permitirá uma impressão positiva ao final e a sala não ganha aquele silêncio sepulcral enquanto você se senta. 
- Se o tema não é adequado ao encerramento bem-humorado, prepare uma história que mexa com a sensibilidade da plateia ou mostre algum tipo de pensamento ou provérbio que faça o auditório refletir. 
- Na hora das perguntas, nunca inicie uma resposta com: "Isso já falei ... ", "A resposta é óbvia ... ", "Imaginei que estivesse claro ... " . Nem corte sua fala para atender a outra pergunta. 
- Elogie uma boa pergunta. Ao responder, não olhe só para quem perguntou. 
- Tente captar a intenção e o conteúdo do que lhe é perguntado. Fique aten­to a termos ou frases que serão a chave da pergunta. A ênfase em certa palavra dá o sentido da indagação. 
- Repita a pergunta para todos es­cutarem. Ajuda você a ter certeza de que a entendeu. 
- Nunca deixe alguém fazer um dis­curso a pretexto de elaborar uma pergunta dirigida a você. Se o indagador se estender, interrompa-o, gentil e firme­mente, e pergunte qual é a dúvida. 
-  Uma pergunta que tem várias partes deve ser dividida e cada parte res­pondida em separado. Terá mais clareza e melhor aceitação.

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