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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Arte Poética - Aristóteles (parte1)


NOTAS

Ao longo do texto são feitas várias referências que aparecem entre parênteses. Abaixo está a lista de notas que aparecem no texto, guarde esse e-mail para eventuais consultas das notas. Comece a ler a partir da linha "CAPÍTULO I". Tenha uma boa Leitura.

1. Sófron de Siracusa (primeira metade do século V) criou o gênero que se chamava mímica, no qual se tentava apresentar uma imitação perfeita da vida.
2. Xenarco era poeta cômico. Não se conhece em que época viveu.
3. Empédocles de Agrigento foi um filósofo do século V.
4. Querémon foi poeta trágico. Viveu no século IV A.C. Diz-se dele que era conhecido como poeta cômico porque introduziu cenas engraçadas em suas peças. Alguns fragmentos de tragédias escritas por Querémon chegaram até nós, entre eles: Aquiles, Tersites, Dioniso, Tiestes, Ulisses, Centauros. Parece
que, assim como Homero, cantava os heróis da Guerra de Tróia – a julgar pelos títulos das peças. Na Arte Retórica, Aristóteles o elogia por ser bom logógrafo, e fala do prazer que se sentia ao ler suas peças.
5. Ditirambo era poesia coral para honrar Dionísio. Segundo o dicionário Aurélio: [Do gr. dithyrambos, pelo lat. dithyrambu] S.m. 1. Teat. e Mús. Nas origens do teatro grego, canto coral de caráter apaixonado (alegre ou sombrio), constituído de uma parte narrativa, recitada pelo cantor principal, ou corifeu, e de outra propriamente coral, executada por personagens vestidos de faunos e sátiros, considerados companheiros do deus Dionísio, em honra do qual se prestava essa homenagem ritualística. 2. P. ext.
Composição lírica que exprime entusiasmo ou delírio. ................... Parece que Árion (séc. VII A.C.)
compôs os primeiros ditirambos para o teatro. Segundo Aristóteles, o ditirambo (coro cíclico acompanhado pela dança, mímica apaixonada, música de flautas, talvez uma narrativa épica) deu origem à tragédia ática, quando Árion organizou o verdadeiro carnaval das comemorações dionisíacas, introduzindo um coro cíclico de cinquenta personagens, que dançava e, decerto, fazia uma narrativa em celebração ao deus. Os primeiros ditirambos foram transplantados da Ásia Menor para a Grécia. A raiz da palavra Dionísio é trácia: nisos — filho. Infere-se que o ditirambo deve ter penetrado na Grécia acompanhando o culto desse deus.
6. Terpandro, poeta lírico dórico— originário duma ilha de Lesbos chamada Antissa— (talvez primeira metade do século VII A.C.), foi autor de composições musicais em que o canto era acompanhado por cítara. Era um tipo de canto religioso hierático, escrito em hexâmetros dactílicos, que se chamava nomo.
Diz-se que esta foi a primeira associação feita entre a poesia e a música.
7. Polignoto de Tasos (séc. V A.C.), foi pintor ateniense afamado. Pintou "O saque de Tróia" no pórtico (Lesque) Cnídio de Delfos, decorou o Pécile de Atenas.
8. Páuson foi contemporâneo de Aristófanes, que zombou do primeiro na Acarnenses.
9. Dionísio de Colofônia. A história grega registra bastante informação a seu respeito.
10. Cleofonte de Atenas (séc. V. A.C.) foi poeta trágico.
11. Hegémon de Tasso era poeta cômico, especialista em paródias. Viveu no século V A.C.
12. Nicócares foi poeta cômico. Viveu no século IV A.C.
13. Timóteo de Mileto foi poeta lírico e músico. Sabe-se que nasceu em 446 A.C., falecendo em 356 A.C. Era cortesão na Macedônia, pertencendo ao séquito do rei Arquelau. Chegaram até nós alguns
fragmentos de suas obras.
14. Filóxeno de Citera foi autor dramático e lírico (439 A.C. a 380 A.C.). Fixou-se em Siracuso, na corte de Dionísio. O Velho.
15. Sófocles era de Colono, um demo da Ática. Nasceu em 495 A.C., morreu em 406 A.C. De todo o seu trabalho, chegaram até nós sete tragédias e fragmentos de várias outras, além de fragmentos de um drama satírico.
16. Aristófanes de Atenas, foi poeta cômico. Escreveu 44 comédias, das quais conhecemos 11 apenas, e fragmentos de algumas outras. Viveu entre 427 A.C. e 388 A.C.
17. Epicarmo da Sicília, filósofo e poeta cômico, viveu em fins do século VI A.C. e na primeira metade do século V A.C. Segundo a tradição, o inventor da comédia foi Susarião (século VI A.C.), de Mégara.
Entretanto Aristóteles considera que Formis de Siracusa e Epicarmo foram os criadores da comédia.
18. Crônidas de Atenas foi poeta cômico (séc. V A.C.), foi quem deu forma artística ao turanismo de Mégara.
19. Magnete de Icária, poeta cômico que viveu em cerca de 400 A.C. Diz-se que foi o primeiro a receber um prêmio com uma comédia.
20. Margites ou Louco enfatuado de si mesmo, poema satírico que Aristóteles atribui a Homero, perdeu-se. Aristóteles vê nele a origem da comédia, e na Ilíada e na Odisséia a origem da tragédia.
21. Os cantos fálicos eram farsas mimadas, bastante indecentes, celebradas em cidades como Sicíone. Eram executados por cantores chamados falóforos, aos gritos de que sua cantoria não era para as virgens.
22. O arconte-rei era o máximo pontífice religioso. Ficava a seu encargo a organização das representações dramáticas, pois eram um culto público a Dionísio. O arconte escolhia três poetas, dentre
todos os concorrentes, para terem suas obras representadas. O coro era concessão do arconte, e ao ser autorizado significava uma espécie de aval para encenar o espetáculo, à custa de um cidadão designado para servir de corego.
23. Epicarmo era de Cós. Viveu entre 540 A.C. e 452 A.C. Sua infância e juventude, passou-as em Mégara, na Sicília, que era colônia dória. Quando se tornou poeta, foi viver sob a proteção de Gelão e de Hierão I, tiranos irmãos que admiravam e protegiam os artistas. Epicarmo gostava de criticar os costumes bárbaros do povo siciliano e sua tendência para a gula, e seu objetivo como escritor era claramente moralizante.
24. Assim como Epicarmo, também Fórmis (séc. V A.C.) viveu nas cortes de Gelão e Hierão I. Suidas (séc. X D.C.) afirma serem dele algumas tragédias, cujos títulos cita. Aristóteles considera Fórmis um dos criadores da comédia.
25. Crates de Atenas (sabe-se que faleceu em 424 A.C.), era especialista em criação de tipos característicos, como o Ébrio.
26. Melopéia era a parte da arte musical que se referia à composição melódica, subordinando a música à poesia. Pouco chegou até nós, referente à melopéia. Era uma seqüência de sons musicias dispostos de forma a provocar uma emoção estética harmoniosa, tornando-se, por isso, agradável.
27. Zêuxis de Ericléia viveu em Atenas no final do século V. A.C. Pintava figuras de crianças e mulheres mitológicas.
28. Apenas alguns fragmentos e nomes de personagens chegaram até nós destes poemas cíclicos. Eram conhecidos entre os séculos VII A.C. e V A.C.. Os personagens principais eram Heracles, herói dório, e Teseu, o herói ateniense. Eram coletâneas de poemas, escritas por vários poetas conhecidos, entre os quais sabe-se que estavam incluídos Pisandro de Rodes (séc. VII A.C.), Paníase de Samos (séc. V. A.C.), Baquídiles de Ceos (sécs. VI A.C. e V A.C.)
29. Esse ponto é bastante discutido, porque a Odisséia contém a parte em que Ulisses é ferido na perna por um javali, no monte Parnaso, sendo posteriormente reconhecido por sua ama Euricléia, que o identifica justo ao observar a ferida. Por alguma razão— esquecimento, ou porque a edição de que dispunha não trazia esta cena—, Aristóteles diz que ela não fora mencionada por Homero. Assim também, quanto à loucura fingida por Ulisses, que Aristóteles menciona também não estar presente na Odisséia, a informação é errônea.
30. Refere-se a Herodoto de Helicarnasso, hostoriador das guerras médias (séc. V A.C.).
31. Alcibíades (séc. V. A.C.), ficou famoso por ser belo e leviano, causando sérios problemas à suapátria.
32. A tragédia de Agatão perdeu-se. O autor foi poeta de renome, pois obteve a vitória de 416 A.C. com sua primeira peça. Agatão fez críticas ao estilo usado por Agatão nas Tesmofórias. Parece que Platão não gostava do poeta, pois erle aparece no Banquete fazendo um discurso medíocre.
33. Uma das oito tragédias de Sófocles que não chegaram até nós.
34. Tragédia de Teodectes de Fasélis (sec. IV A.C). Linceu era um dos filhos de Egito. Casado com Hipermnestra, sua prima, uma das cinquenta danaides, foi poupado pela esposa, quando o pai delas
mandou que todas as suas filhas matassem os homens com quem tinham casado. Linceu foi sucessor de seu tio e sogro Dânao, morto pelos argivos em lugar do próprio Linceu.
35. Aristóteles refere-se à Electra de Sófocles. Na peça, Electra já é conhecida por Orestes, antes de o reconhecer.
36. Trata-se da Ifigênia em Tauris, peça de Eurípides representada em 410 A.C.
37. commoz: lamentação, ação de bater no peito; diálogo lírico entre o coro e alguns personagens em cena, às vezes em versos líricos, outras em versos iâmbicos mesclados aos líricos, em estrofes que iam se sucedendo livremente.
38. Alcméon era filho do adivinho Anfilau. Matou sua mãe, Erífila, por ter ela forçado o marido a ir cercar Tebas, sabendo que a missão era suicida. Mais tarde Alcméon, após abandonar a esposa Alfesibéia para se casar com Calirroe, morreu degolado pelos irmãos de Alfesibéia. Astidamante (poeta que viveu
nos séculos V e IV A.C) sobre Alcméon.
39. Meleagro tomou parte na expedição dos Argonautas e matou, em seguida, ojavali de Cálidon. Também matou os dois irmãos de sua mãe numa briga.desesperada, Em desespero, ela jogou no fogo a tocha em que as Parcas haviam acorrentado o fio da vida de Meleagro. A tocha queima e Meleagro morre com a combustão.
40. Télefo era rei da Mísia. Quando os troianos foram cercados, ele correu a ajudá-los. Nas margens do rio Caíco, foi ferido por Aquiles. Usando a ferrugem da lança de Aquiles, Ulisses curou-o, fazendo que Télefo, por gratidão, se tornasse aliado dos gregos. Havia uma tragédia a respeito desta lenda, denominada Mísios, hoje perdida. Também Eurípides e Agatão escreveram tragédias, perdidas,
denominadas Télefo.
41. Aristóteles censura os críticos do que seriam alguns defeitos das peças de Eurípides, em função das regras então codificadas sobre o teatro grego – como a repetição dos mesmos efeitos e meios, intrigas inverossímeis, etc.
42. Egisto aparece nas peças em que Clitemnestra é personagem. No Ajax de Sófocles, porém, Teucro, Menelau e Agamenon saem reconciliados pela intervenção de Ulisses.
43. Clitemnestra era filha de Tíndaro e de Leda. Seus irmãos eram Castor e Pólux, e a Helena que, na fábula de Homero, motivou a Guerra de Tróia. Seu marido Agamemnon, ao retornar de Tróia, foi
assassinado por ela epor Egisto, que era amante de Clitemnestra. Os filhos famosos de Clitemnestra, Orestes, Ifigênia e Electra, planejam matar a mãe. Ifigênia exclui-se do drama. Orestes, sempre incitado por Electra, mata sua mãe Clitemnestra e o amante desta, Egisto.
44. Alcméon era filho de Erífila.
45. Telégono, filho de Ulisses e de Circe ou de Calipso, tentou devastar a ilha de Itaca, aonde fora lançado por uma tempestade. Ulisses o enfrenta e é morto pelo próprio filho, que não o reconheceu.  Sófocles escreveu uma tragédia (desaparecida) sobre o tema.
46. Antígona era filha de Édipo. É condenada à morte por Creonte, por ter sepultado seu irmão Polinice, que o tirano Creonte considerava traidor da pátria. Hëmon, filho de Creonte, suicidou-se porque amava Antígona, com quem ia casar-se. Também a esposa de Creonte se mata, e a injustiça é reparada com estas
mortes.
47. Mérope de Acádia, esposa de Cresfonte. Eurípides escreveu uma tragédia a respeito de sua história. O marido de Mérope é assassinado por um tirano, que a desejava e tenta depois obrigá-la a casar com ele. O terceiro filho de Mérope, criado em segredo pelo avô, mata o tirano antes que consiga realizar seu intento.
48. Hele, filha de Atamante, rei de Orcômeno na Beócia, tem um irmão chamado Frixo. Os dois nasceram do primeiro matrimônio de Atamante. A madrasta do casal de irmãos, Ino, os perseguia e Zeus, para libertá-los, enviou um carneiro com velocino de ouro que os transportaria até a Anatólia. Hele caiu no mar que ganhou seu nome, e Frixo chegou à Cólquida. Os maiores dramaturgos da Grécia usaram essa história para compor tragédias, todas hoje perdidas.
49. Melanipo é personagem de uma tragédia de Eurípides, à qual deu o nome. Há um verso dessa tragédia no Banquete de Platão. Eurípides compôs outras tragédias usando Melanipo, mas todas foram destruídas.
50. Medéia é uma tragédia de Eurípides. Foi representada em 413 A.C.. Oartifício cênico a que Aruistóteles se refere é o carro alado que Medéia recebe de presente do Sol, puxado por dois dragões.
51. Cárcino de Atenas, poeta trágico (século IV A.C.).
52. Coéforas é a segunda obra de uma trilogia escrita por Ésquilo (séc. VI/V A.C.). A primeira peça é Agamenon, a segunda chama-se Oréstia e a terceira Eumênides.
53. Parece que este Políido é o mesmo Políido pintor, músico e poeta ditirâmbico que viveu no século IV ou final do século V.
54. Teodectes de Fasélis foi poeta trágico e orador. Viveu no século IV A.C. Seus personagens agiam e discursavam em tribunais.
55. As Fineidas dizem respeito aos filhos de Fineu, rei da Trácia, que deu ouvidos ao vitupério de sua segunda esposa e mandou vazar os olhos dos filhos de seu primeiro matrimônio.
56. Autor desconhecido.
57. Adivinho célebre, viajou com os argonautas. Sua mulher, Erífila, seduzida pelo feitiço de um colar, descobriu o esconderijo onde ele estava, pois não queria participar da guerra contra Tebas. Aclméon,
filho deles, apunhalou a própria mãe por vingança por haver esta descoberto o ardil de Anfiarau...
58. Ajax, filho de Télamon, suicidou-se após um acesso de loucura, provocado porque as armas de Aquiles foram dadas a Ulisses. Após ter matado as reses do rebanho que pertencia ao exército, ele volta a si e se mata. Há uma peça de Sófocles sobre o tema, onde o delírio de Ajax é provocado por uma deusa.
59. Íxion é punido, assim como Ajax, por seu excesso de orgulho. Zeus o leva para o Olimpo, onde Íxion ousa apaixonar-se por Hera. Zeus o precipita no Tártaro, onde tem que mover uma roda em movimento perpétuo. Ésquilo compôs uma peça a respeito deste mito.
60. Ftiótidas eram as mulheres da Ftia, pequena região onde Aquiles reinava. Sófocles escreveu uma sobre respeito o tema.
61. Sófocles e Eurípides fizeram peças sobre a tragédia de Peleu.
62. Este capítulo, de pouca importância no que diz respeito à Teoria Aristotélica sobre a arte poética, está cheio de lacunas no texto original.
63. A obra de Arífrades foi toda destruída e não se tem notícia alguma deste poeta como pessoa.
64. Existem controvérsias a respeito desta interpretação feita por Aristóteles. A historiografia siciliana (Diodoro da Sicília, séc. I d. C) afirma que houve tratados entre Susa, Cartago e a Pérsia, e as expedições não foram, em absoluto, uma coincidência.
65. Infelizmente, Os cantos cíprios, escritos em onze livros pelo poeta Estásino de Chipre (do ciclo troiano), foram destruídos. Baseados n'Os cantos cíprios, outros poetas gregos construíram várias  histórias que se tornaram célebres. A pequena Ilíada foi escrita por Lesqueos de Lesbos. Era também um trabalho importantíssimo. Os autores da lista de poemas mencionada por Aristóteles são: O juízo das armas — Ésquilo; Ajax — Sófocles; Filocteto — Sófocles e Ésquilo; Neoptólemo está em Filocteto —
Sófocles; Eurípilo (restam fragmentos) — Sófocles; O mendigo, no Ulisses disfarçado, está na Odisséia;
Lacedemônias, Sínon — Sófocles; Troianas — Eurípides; Saque de Tróia — Iofon, filho de Sófocles.
66. Os Jogos Píticos eram celebrados em Delfos, em honra de Apolo, de quatro em quatro anos. Mas não
exitiam ainda, no tempo em que Electra viveu.
67. Xenófanes, filósofo eleata de Colofônia. Viveu na segunda metade do século VI A.C. e sua obra trata de teologia, criticando bastante as crendices e o politeísmo populares. Para Xenófanes, Deus é uno, eterno, imortal e espiritual.
68. Significa "a metade" ou "dois terços".

CAPÍTULO I

Da poesia e da imitação segundo os meios, o objeto e o modo de imitação.
Nosso propósito é abordar a produção poética em si mesma e em seus diversos gêneros, dizer qual a função de cada um deles, e como se deve construir a fábula visando a conquista do belo poético; qual o número e natureza de suas (da fábula) diversas partes, e também abordar os demais assuntos relativos a
esta produção. Seguindo a ordem natural, começaremos pelos pontos mais importantes.
2. A epopéia e a poesia trágica, assim como a comédia, a poesia ditirâmbica, a maior parte da aulética e da citarística, consideradas em geral, todas se enquadram nas artes de imitação.
3. Contudo há entre estes gêneros três diferenças: seus meios não são os mesmos, nem os objetos que imitam, nem a maneira de os imitar.
4. Assim como alguns fazem imitações em modelo de cores e atitudes —uns com arte, outros levados pela rotina, outros com a voz –, assim também, nas artes acima indicadas, a imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia, empregados separadamente ou em conjunto.
5. Apenas a aulética e a citarística utilizam a harmonia e o ritmo, mas também o fazem algumas artes análogas em seu modo de expressão; por exemplo, o uso da flauta de Pã.
6. A imitação pela dança, sem o concurso da harmonia, tem base no ritmo; com efeito, é por atitudes rítmicas que o dançarino exprime os caracteres, as paixões, as ações.
7. A epopéia serve-se da palavra simples e nua dos versos, quer mesclando metros diferentes, quer atendo-se a um só tipo, como tem feito até ao presente.
8. Carecemos de uma denominação comum para classificar em conjunto os mimos de Sófron (1) e de Xenarco, (2)
9. as imitações em trímetros, em versos elegíacos ou noutras espécies vizinhas de metro.
10. Sem estabelecer relação entre gênero de composição e metro empregado, não é possível chamar os autores de elegíacos, ou de épicos; para lhes atribuir o nome de poetas, neste caso temos de considerar não o assunto tratado, mas indistintamente o metro de que se servem.
11. Não se chama de poeta alguém que expôs em verso um assunto de medicina ou de física! Entretanto nada de comum existe entre Homero e Empédocles,(3) salvo a presença do verso. Mais acertado é chamar poeta ao primeiro e, ao segundo, fisiólogo.
12. De igual modo, se acontece que um autor, empregando todos  os metros, produz uma obra de imitação, como fez Querémon(4) no Centauro, rapsódia em que entram todos os metros, convém que se
lhe atribua o nome de poeta. É assim que se devem estabelecer as definições nestas matérias.
13. Há gêneros que utilizam todos os meios de expressão acima indicados, isto é, ritmo, canto, metro; assim procedem os autores de ditirambos(5), de nomos(6), de tragédias, de comédias; a diferença entre eles consiste no emprego destes meios em conjunto ou em separado.
14. Tais são as diferenças entre as artes que se propõem a imitação.

CAPÍTULO II

Diferentes espécies de poesia segundo os objetos imitados

Como a imitação se aplica aos atos das personagens e estas não podem ser senão boas ou ruins (pois os caracteres dispõem-se quase nestas duas categorias apenas, diferindo só pela prática do vício ou da virtude), daí resulta que as personagens são representadas melhores, piores ou iguais a todos nós.
2. Assim fazem os poetas: Polignoto(7) pintava tipos melhores; Páuson(8), piores; e Dionísio(9), iguais a nós.
3. É evidente que cada uma das imitações de que falamos apresentará estas mesmas diferenças, e também
alguns aspectos exclusivos delas, porém inseridos na classificação exposta.
4. Assim na dança, na aulética, na citarística, é possível encontrar estas diferenças;
5. e também nas obras em prosa, nos versos não cantados. Por exemplo, Homero pinta o homem melhor do que é; Cleofonte(10), tal qual é; Hegémon de Tasso(11), o primeiro autor de paródias, e
Nicócares(12), em sua Delíade, o pintam pior.
6. O caráter da imitação também existe no ditirambo e nos nomos, havendo neles a mesma variedade possível, como em Os persas e Os ciclopes de Timóteo(13) e Filóxeno.(14)
7. É também essa diferença o que distingue a tragédia da comédia: uma se propõe imitar os homens, representando-os piores; a outra os torna melhores do que são na realidade.
CAPÍTULO III

Diferentes espécies de poesia segundo a maneira de imitar
Existe uma terceira diferença em relação à maneira de imitar cada um dos modelos.
2. Com efeito, é possível imitar os mesmos objetos nas mesmas situações e numa simples narrativa, seja pela introdução de um terceiro personagem, como faz Homero, seja insinuando-se a própria pessoa sem que intervenha outro personagem, ou ainda apresentando a imitação com a ajuda de personagens que
vemos agirem e executarem as ações elas próprias.
3. A imitação é realizada segundo esses três aspectos, como  dissemos no princípio, a saber: os meios, os objetos, a maneira.
4. Sófocles(15), por um lado, imita à maneira de Homero, pois ambos representam homens melhores; entretanto ele também imita à maneira de Aristófanes,(16) visto ambos apresentarem a imitação usando personagens que agem perante os espectadores.. Daí que alguns chamem a essas obras dramas, porque fazem aparecer e agir as próprias personagens.
5. Disto procede igualmente que os dórios atribuem a si a invenção da tragédia e da comédia; e os megarenses também se arrogam a invenção da comédia, como fruto de seu regime democrático; e além desses, também os sicilianos se acham inventores da comédia, por serem compatriotas do poeta Epicarmo(17), que viveu muito antes de Crônidas(18) e de Magnete(19). A criação da comédia é também reclamada pelos peloponésios, que invocam os nomes usados para denominá-la com palavras de seu dialeto, para argumentar ser esta a razão por que a comédia é invenção deles.
6. Pretendem que entre eles a aldeia se chama cvma, enquanto os atenienses a denominam dhmoz , donde resulta que os comediantes derivam o nome da comédia, não do verbo cwmazeiu (celebrar uma festa com danças e cantos), mas de outro fato: por serem desprezados na cidade, eles andam de aldeia em aldeia.
Quanto ao verbo agir, que entre eles se diz drau, os atenienses exprimem-no por pratteiu.
7. É bastante o dito, sobre as diferenças da imitação, quanto a seu número e natureza.

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