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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Reações do mundo da cultura à morte de Saramago



Nuno Júdice, poeta: "Não lamento só o facto de ter perdido um grande amigo, mas também um grande escritor". "Quando um escritor morre, é um mundo que desaparece, mas do Saramago ficará sempre a sua imaginação, a sua vida e ele e os seus livros nunca deixarão de ser um exemplo".

Chico Buarque, músico: “Perco um grande amigo. Perdemos todos um ser humano admirável, um escritor imenso, zelador apaixonado da língua portuguesa.” 

Carlos Fuentes, escritor mexicano: "José Saramago nunca escreveu um mau livro. Toda a sua obra mantém um altíssimo nível, uma grande qualidade". "Tinha um carácter forte, sabia revoltar-se com justa causa. Deu batalhas políticas importantes no México no mundo. Mas ao fim e a cabo o que sobrevive de um escritor não é a sua ideología mas sim a sua literatura".

Luiz Schwarcz, editor brasileiro de José Saramago: "Agora só quero me despedir mais uma vez de José. Com as melhores lembranças, o amor, e minha saudade. Maldita palavra, tão portuguesa, que agora ficará associada ao meu amigo. Mas saudade não tem remédio, não é, José?"

António Vitorino de Almeida, maestro: “Saramago foi um dos maiores escritores de sempre, e não só de Portugal”. “Há figuras que fazem parte da História e fazem com que o país faça História no mundo, e Saramago é uma delas”. 

Dario Fo, escritor italiano: "Hoje, que José não está, falta-me tudo, tiraram-me um bocado de vida, um amigo que nunca se rendeu, que sempre se manteve íntegro e de pé no meio da batalha.”

Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura: José Saramago "deixa um legado poderosíssimo do escritor" que foi "a afirmação da literatura portuguesa na cena internacional como provavelmente antes dele nunca tinha sido conseguido".

Adriano Moreira, presidente da Academia das Ciências: "Um homem que, pela sua projecção internacional e pelo prémio Nobel que recebeu, foi efectivamente um interventor que aumentou a imagem e o prestígio do país”. 

Mário Cláudio, escritor: Perdeu-se “uma figura indiscutivelmente maior das nossas letras”, uma figura “que vai ficar por muitos e muitos anos”. “Saramago vai durar o que durar a literatura portuguesa”.

Lídia Jorge, escritora: Morreu “um escritor genial” e também “um exemplo de coragem, pela sua coerência”. “Apesar de tudo acho que morreu feliz porque escreveu até ao fim da vida, entregando-se sempre com a mesma coragem ao ofício que escolheu, e acreditando piamente nas suas convicções”.

Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura: “Um escritor marcante da segunda metade do século 20”, com “um lugar muito particular na literatura portuguesa”. 

valter hugo mãe, escritor e Prémio Saramago "o desaparecimento de algumas pessoas mata-nos a todos um pouco. passamos mais num dia assim. o que saramago fez por nós foi demasiado, pela disponibilidade para se incomodar com os assuntos da comunidade, exercendo a liberdade e fugindo à padronização e à geral desmobilização. estou profundamente triste por saramago e por todos nós".

Gonçalo M. Tavares, escritor e Prémio Saramago: “É um dia muito triste, pela perda muito grande que tivemos. Saramago foi muito importante pelo modo generoso como recebeu os novos autores e como sempre me tratou, com grande atenção e generosidade”. 

Carlos do Carmo, fadista:“É uma pessoa de quem gosto genuinamente, e sinto-me profundamente consternado”. “Estou bem mais pobre com a perda deste querido amigo”.

Zeferino Coelho, editor de Saramago: “Pessoalmente, perdi um amigo, um grande homem, um grande escritor”. “Um marco comparável ao das grandes obras de autores como Eça de Queirós, Almeida Garrett ou Fernando Pessoa”. “É talvez o escritor português que maior repercussão teve -- e teve repercussão em todo o mundo: em todo o mundo é conhecido, em todo o mundo é escutado".

José Eduardo Agualusa, escritor: “O que mais admirava em Saramago era a sua vitalidade e a sua combatividade de homem que acreditava em causas”. “Mudou a forma como a nossa língua passou a ser percebida em todo o mundo”. 

João Brites, encenador: “Uma referência como homem, um cidadão lúcido, firme e capaz de provocar o nosso pensamento”. Era um homem que “provocava a rotina” dos portugueses por ser “no sentido literário, artista maior”.

José Tolentino de Mendonça, poeta e responsável pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura: "Leio José Saramago por causa da Bíblia porque, apesar de algumas declarações do autor em relação ao texto bíblico, ele era de todos os autores portugueses contemporâneos aquele que mais a lia, mais a citava, mais perseguia a sua musicalidade e reescrevia os seus temas". "Para mim, enquanto especialista nos textos bíblicos, tudo o que Saramago escrevia era de leitura obrigatória". 

Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta: “Saramago obriga-nos ao lugar-comum e o lugar comum é este: é um escritor que mudou a literatura portuguesa e é um escritor que pôs a literatura portuguesa na cena internacional”. “A produção literária de José Saramago é sob diversas formas uma produção literária sobre Portugal, sobre a nossa história, sobre a nossa identidade e sobre a pessoa humana, mas para além de tudo e, tendo em conta estes temas, a produção literária de Saramago olhou tudo isto nos termos inovadores e muitas vezes subversivos que são aqueles que só um grande escritor pode cultivar”.

Mega Ferreira, presidente da Fundação do Centro Cultural de Belém: “É uma perda muito grande para a literatura portuguesa, não só porque era o primeiro prémio Nobel da Literatura português, mas também porque era um grande escritor e uma figura de grande coerência e frontalidade”. 

Mário de Carvalho, escritor: “Um homem recto, sereno e lúcido”. “Por ventura o nosso maior escritor do século XX, que tem a particularidade de ser um século mais rico no tocante ao romance português”.

Juan Marsé, escritor espanhol e Prémio Cervantes Juan Marsé: Recordo “bastantes ideias sobre a situação política e social”. Faceta de “grande narrador”. 

José Luís Peixoto, escritor: “Grande perda para a literatura e cultura portuguesa”. “Tem lugar assegurado nos grandes nomes da literatura de sempre”. “Deixa uma obra fundamental, com um retrato essencial do Portugal do século XX e da natureza humana. Por isso era tão lido”.

Carmen Caffarel, directora do Instituto Cervantes: José Saramago é o “mais firme herdeiro” da larga tradição de “iberismo português”. “Poucos como ele amaram e conheceram tão profundamente as nossas duas culturas”. Foi um escritor “arriscado e sem concessões” que soube olhar com “o seu agudo sentido crítico a morte, as guerras e os abusos do poder”.

Ferreira Gullar, poeta brasileiro: “Fiquei chocado com a notícia, é uma perda lamentável. Trata-se de um grande escritor, um dos mais significantes autores da língua portuguesa e de prestígio internacional”.

João Paulo Borges Coelho, escritor moçambicano: José Saramago é “um dos principais escritores da literatura universal e da língua portuguesa, com uma escrita de grande qualidade”.

Domingos Simões, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa:“É um dia que convida a todos os falantes de português a dedicar-lhe um pensamento de respeito, de admiração”.

Diogo Infante, actor e encenador: A morte do escritor “é uma perda para o país, até porque Saramago, goste-se ou não da obra, é um símbolo da identidade nacional”. “Portugal está de luto”. 

João Ubaldo Ribeiro, escritor brasileiro: “Para a literatura portuguesa - a literatura do mundo contemporâneo, aliás - representa a perda de um de seus maiores escritores em todos os tempos”.

Fernando Meirelles, realizador de “Ensaio Sobre a Cegueira” (2008) e do documentário “José e Pilar”: “A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo escapar do cliché mas, definitivamente, o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje". “Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Combatia as religiões com fúria, dizia que elas nos embaçam nossa visão, mesmo assim não consigo deixar de pensar que adoraria que neste momento ele estivesse a ter que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por algum outro tipo de vida depois desta que teve por aqui”. 

Ondjaki, escritor angolano: "Foi uma pessoa que sempre procurou dizer o que pensava, e isso dá uma grande leveza a quem se permite fazê-lo, ao mesmo tempo que imprime seriedade às suas convicções”. "Disse tanto e tão bem dito, que possivelmente temos que «encontrar» nos seus livros um quase-abraço sempre aberto”. 


Fonte: Público, em 18/6/2010.

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