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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Atividade de Leitura e Interpretação de Texto

De sol a sol

            Para mim a escola foi um tempo, eu pensava: “enquanto estiver aqui  não tem perigo de me       mandarem pra roça.” A roça, puxar a enxada, era isto que nenhum menino queria pensar.
            Enchi cadernos e mais cadernos; eu apreciava ver as letras saírem redondinhas de meu lápis:
-        Fessora, e quando acabar a cartilha?
-        Quando acabar a cartilha você já saberá ler.
-        Vou poder ler gibi? Histórias em quadrinhos?
-        Vai.
-        Ô caso é que não tenho dinheiro pra comprar.
Toda a classe riu; a professora também:
-        Então no dia em que ele ler corretamente eu trago uma dessas revistinhas para você.
-        Verdade? Promete mesmo?
-        Prometo.
-        Dona Carolina é pra frente!
Foi um tempo bom o da escola; apesar da palavra “carestia” sempre presente nas prosas dos mais velhos, fosse na casa do vizinho, fosse na nossa.
Acabei o primeiro ano, fiz o segundo e quando estava pra la do meio do terceiro, setembro, com as chuvas e o começo das plantações, uma noite, depois de muito cochichar com vó Luiza e a mãe mais triste, vô Juvenal tocou no meu braço e, quando olhei, ele disse:
-        Neguito, amanhã cedo “cê vai com nóis pra roça. A carestia... a carestia vai obrigar ocê a trabalhar com a gente...Tenho muita pena, meu filho, mas acabou-se a folgança da escola...”
Sentado no degrau da cozinha, um prato de arroz com feijão sob os joelhos, senti um nó na garganta, uma revolta que brotava do coração, queria arrebentar em soluços. Olhei pra dentro de casa, para as paredes que em casa de colônia só vão até a altura de dois metros, por cima é a prosa dos vizinhos, não se tem segredos. Do lado de lá, seu Venerando criou coragem, disse para o filho menor, meu colega na escola:
-        Ocê também, Zezinho, amanhã começa a gemer na enxada.
Do lado de ca até que me senti melhor: “não estou sozinho na minha desgraça”. Olhei para minha avó na beira do fogão – coava um café ralo – a mãe a chorar na porta da sala e o avô ali em pé, como à espera de uma palavra amiga.
-        Não tem problema, vó. Não tem problema... respondi enquanto que o meu peito parecia crescer, cheio de responsabilidades.

(De Sol a Sol, Lucilia de Almeida Prado. 2ª ed, Comunicação, Minas Gerais, 1980, p. 12-15)

No texto você pode verificar um exemplo típico de criança que precisa deixar os estudos para trabalhar.  Trabalhar para sobreviver. Mas o seu trabalho será bem mais leve que o de Neguito, você deverá apenas usar sua mente para resonder as perguntas a seguir.

  1. Por que a escola é vista por Neguito com “um tempo bom”, e como “folgança” pelo avô?
  2. Que “tempo” o menino teve de enfrentar, quanto precisou deixar a escola?
  3. O menino pensa “Não estou sozinho na minha desgraça.” Mas logo depois diz: “Não tem problema, vô. Não tem problema...” Se o menino se sente “na desgraça”, por que ele diz ao avô que não tem problema?
  4. O texto diz que:
l       Vô Juvenal cochichou muito tempo com vó Luiza antes de decidir que Neguito tinha de deixar a escola.
l       Seu Venerando teve de “criar coragem” para tomar a mesma decisão em relação ao Zezinho.
l       A mãe de Neguito chorou com a decisão.
            Diante disso copie a frase que explica por que a decisão foi tão difícil e triste.
A)   Os meninos ainda não tinham aprendido tudo que precisavam aprender.
B)    Todos achavam que no trabalho, os meninos aprenderiam mais que na escola.
C)    Todos tinham pena de tirar os meninos da escola para trabalhar.

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