Não à toa a produção vêm
dividindo opiniões. Se por uma lado parece ter agradado ao novo público que
torce o nariz pela condição datada dos filmes anteriores, por outro, desagrada
ao colocar boa parte da mitologia terráquea do alter-ego Clark Kent para
escanteio. Curiosamente, uma das problemáticas abordadas em O Homem de Aço é
a vontade que o protagonista têm de se sentir integrado com os humanos, mesmo
que tenha que deixar uma tragédia acontecer para não ser notado. Entretanto,
contradições se fazem presentes, pois o filme acaba sendo muito mais sobre a
condição extraterrestre do Superman. Uma pena, visto que sempre o fator
carismático e definidor-mor no cinema foram as fragilidades paradoxais de Clark
Kent.
Se o Superman de Donner já
trazia considerações que equiparavam o personagem à uma divindade, agora
em O Homem de Aço, elas são levadas bem a sério. O roteiro escrito
por David S. Goyer (o mesmo da recente trilogia do Batman), baseado
na ideia de Nolan, leva tais analogias as última consequências. E assim
como nos filmes do Batman dirigidos por Nolan, preenche o texto com
simbolismos que precisam ser reforçados durante a narrativa. Aqui, o S do Super
não é um S, mas uma imagem que significa esperança no extinto planeta Krypton.
Tal qual era o morcego para o Batman: um simbolo do medo. Aliás, talvez não
precise nem dizer que O Homem de Aço têm muito dos filmes recentes do
Homem-Morcego. A principal semelhança é a vontade de contextualizar a história
em um apanhado mais “realístico”. Se é que é possível.
Apesar da intenção de “batmizar”
o filme com um clima mais soturno – a nova trilha sonora deHans Zimmer afirma
esse tom -, creio esse nem ser o maior problema. O Homem de Aço carece
mesmo é de uma trama mais bem elaborada. A abertura com Jor-El (Russell Crowe – Linha
de Ação) duelando com o General Zod (Michael Shannon – O
Abrigo) está lá, elaborada com bastante ação e uma direção de arte meio
duvidosa, beirando o cafona. Posteriormente, o clássico momento em que ele
coloca seu filho em uma nave com destino a terra também está representado. Zod
sendo preso e mandado para a zona fantasma também confere. Na Terra, invés de
acompanharmos um desenrolar clássico do Superman (infância-adolescência-fase
adulta), a narrativa trás um Clark Kent andarilho (Henry Cavill) praticando um
salvamento megalômano. Logo a narrativa fica voltando no tempo – com algumas
elipses nem sempre eficientes – para representar as fases passadas do
personagem.
E o que deveria ser uma forma de
humanizar o protagonista ao coloca-lo em contato com seus pais terráqueos,
Jonathan (Kevin Costner) e Martha Kent (Diane Lane), serve apenas para reforçar
ainda mais seu caráter super-humano. Em cada flashback, o pequeno Kent, o
Kent adolescente, o Kent jovem, aparece praticando algum ato heroico desmedido
prontamente reprovado por seu pai. Em tom meio de parábolas, Jonathan não perde
tempo em relembrar – ao rapaz e ao público – a sua importância como figura para
mudar o rumo da humanidade. Dentre desses momentos entrecortados que ocupam
cerca de uma hora das duas horas e vinte três minutos totais, se ressaltam como
verdadeiramente sinceros as cenas em que Clark contracena com Martha. São
quando os sentimentos parecem mais palpáveis. Enquanto as sequências com
Jonathan carregam mais no teor didático.
Na segunda metade de O Homem
de Aço, a enxerida repórter Lois Lane (Amy Adams – Na
Estrada), interesse romântico do Superman, ganha mais espaço.
Convenientemente, a mocinha se torna uma especie de parceira do
super-herói na batalha contra o General Zod, que aparece na Terra afim de
conquista-lá. Para isso, o pertubado vilão pretende enfrentar o Superman (ainda
visto com certa desconfiança pelas autoridades) e assim resgatar um
importantíssimo artefato – um receptáculo com o DNA dos Kryptonianos – que
acredita ter sido enviado para Terra junto com o pequeno Kal-El. Aqui, o filme
se despe de qualquer sutileza e refinamento maior e aposta num verdadeiro
“quebra-pau” de contorno épicos. Não há dúvidas que algumas sequências de ação
são de tirar o fôlego. Mas quase ininterruptas e exageradas – não na dimensão,
mas na duração-, chegam a cansar.
Enfim, O Homem de Aço é
um filme que têm lá alguns atrativos, porém está longe de ser uma nova
adaptação louvável. Posso parecer apenas um saudosista, mas o Superman era
muito mais legal quando usava “a cueca por cima da calça” e se fazia de
desentendido para seguir em frente.
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