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quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Homem de Aço - Resenha

O Homem de AçoParece que nos dias de hoje não existe mesmo mais espaço para um filme de super-herói simples, calcado em certas sutilezas e engenhosidades, como foi oSuperman (1978) de Richard Donner. Nos Superhero-movies atuais, todo e qualquer personagem precisa ser carregado em dilemas, muitas vezes baseados em simbolismos e clichês baratos, enquanto duela – em meio a sequências explosivas e barulhentas – com um vilão corrompido pela sociedade. Até o clássico Superman, talvez o herói mais unidimensional de todos os tempos, ganha tons ambíguos nesse O Homem de Aço, dirigido por Zack Snyder e produzido por Christopher Nolan.
Não à toa a produção vêm dividindo opiniões. Se por uma lado parece ter agradado ao novo público que torce o nariz pela condição datada dos filmes anteriores, por outro, desagrada ao colocar boa parte da mitologia terráquea do alter-ego Clark Kent para escanteio. Curiosamente, uma das problemáticas abordadas em O Homem de Aço é a vontade que o protagonista têm de se sentir integrado com os humanos, mesmo que tenha que deixar uma tragédia acontecer para não ser notado. Entretanto, contradições se fazem presentes, pois o filme acaba sendo muito mais sobre a condição extraterrestre do Superman. Uma pena, visto que sempre o fator carismático e definidor-mor no cinema foram as fragilidades paradoxais de Clark Kent.

Se o Superman de Donner já trazia considerações que equiparavam o personagem à uma divindade, agora em O Homem de Aço, elas são levadas bem a sério. O roteiro escrito por David S. Goyer (o mesmo da recente trilogia do Batman), baseado na ideia de Nolan, leva tais analogias as última consequências. E assim como nos filmes do Batman dirigidos por Nolan, preenche o texto com simbolismos que precisam ser reforçados durante a narrativa. Aqui, o S do Super não é um S, mas uma imagem que significa esperança no extinto planeta Krypton. Tal qual era o morcego para o Batman: um simbolo do medo. Aliás, talvez não precise nem dizer que O Homem de Aço têm muito dos filmes recentes do Homem-Morcego. A principal semelhança é a vontade de contextualizar a história em um apanhado mais “realístico”. Se é que é possível.
Apesar da intenção de “batmizar” o filme com um clima mais soturno – a nova trilha sonora deHans Zimmer afirma esse tom -, creio esse nem ser o maior problema. O Homem de Aço carece mesmo é de uma trama mais bem elaborada. A abertura com Jor-El (Russell Crowe – Linha de Ação) duelando com o General Zod (Michael Shannon – O Abrigo) está lá, elaborada com bastante ação e uma direção de arte meio duvidosa, beirando o cafona. Posteriormente, o clássico momento em que ele coloca seu filho em uma nave com destino a terra também está representado. Zod sendo preso e mandado para a zona fantasma também confere. Na Terra, invés de acompanharmos um desenrolar clássico do Superman (infância-adolescência-fase adulta), a narrativa trás um Clark Kent andarilho (Henry Cavill) praticando um salvamento megalômano. Logo a narrativa fica voltando no tempo – com algumas elipses nem sempre eficientes – para representar as fases passadas do personagem.
E o que deveria ser uma forma de humanizar o protagonista ao coloca-lo em contato com seus pais terráqueos, Jonathan (Kevin Costner) e Martha Kent (Diane Lane), serve apenas para reforçar ainda mais seu caráter super-humano. Em cada flashback, o pequeno Kent, o Kent adolescente, o Kent jovem, aparece praticando algum ato heroico desmedido prontamente reprovado por seu pai. Em tom meio de parábolas, Jonathan não perde tempo em relembrar – ao rapaz e ao público – a sua importância como figura para mudar o rumo da humanidade. Dentre desses momentos entrecortados que ocupam cerca de uma hora das duas horas e vinte três minutos totais, se ressaltam como verdadeiramente sinceros as cenas em que Clark contracena com Martha. São quando os sentimentos parecem mais palpáveis. Enquanto as sequências com Jonathan carregam mais no teor didático.
Na segunda metade de O Homem de Aço, a enxerida repórter Lois Lane (Amy Adams – Na Estrada), interesse romântico do Superman, ganha mais espaço. Convenientemente, a mocinha se torna uma especie de parceira do super-herói na batalha contra o General Zod, que aparece na Terra afim de conquista-lá. Para isso, o pertubado vilão pretende enfrentar o Superman (ainda visto com certa desconfiança pelas autoridades) e assim resgatar um importantíssimo artefato – um receptáculo com o DNA dos Kryptonianos – que acredita ter sido enviado para Terra junto com o pequeno Kal-El. Aqui, o filme se despe de qualquer sutileza e refinamento maior e aposta num verdadeiro “quebra-pau” de contorno épicos. Não há dúvidas que algumas sequências de ação são de tirar o fôlego. Mas quase ininterruptas e exageradas – não na dimensão, mas na duração-, chegam a cansar.
Enfim, O Homem de Aço é um filme que têm lá alguns atrativos, porém está longe de ser uma nova adaptação louvável. Posso parecer apenas um saudosista, mas o Superman era muito mais legal quando usava “a cueca por cima da calça” e se fazia de desentendido para seguir em frente.

Fonte: www.cinemadetalhado.com.br

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