Extremamente à vontade na pele do
unidimensional Gerry Lane, um ex-agente da ONU acostumado a trabalhar em ações
de risco, Brad Pitt entrega uma interpretação deveras caricata,
porém, de fácil identificação. Quando uma “epidemia zumbi” inexplicável toma
conta do planeta, primeiro o homem precisa salvar sua família, gerando no prólogo
os vinte melhores minutos de Guerra Mundial Z. É quando a ameaça se faz
mais palpável. Em seguida, com seus entes à salvo em um navio repleto de
autoridades trabalhando em prol da solução da crise, Gerry é novamente
recrutado para liderar a
investigação que irá atrás do paciente zero, ou seja, o primeiro zumbi, e assim
trabalhar em uma cura. Nesse sentido, o filme dirigido pelo também
eclético Marc Forster - A Última Ceia (2001), Em Busca
da Terra do Nunca (2004), Mais
Estranho que a Ficção (2006) – vai de encontro a produções como o
recente Contágio (2011), de Steven
Soderberg e à contramão do estilo da popular série de TV The
Walking Dead. Pois diferente de sua parente da telinha que foca nos
relacionamentos humanos, usando o mote dos zumbis como pano de
fundo, Guerra Mundial Z não tem vergonha em se declarar com um
exercício de gêneros. Sejam eles suspense, terror e principalmente ação.
Saltando de país em país – no
melhor estilo James Bond – Gerry Lane segue sua linha de investigação caótica.
A trama de Guerra Mundial Z tenta elucidar suspense, mistério, mas o
espectador calejado sabe muito bem onde tudo vai dar. Então é curioso perceber
que existem certas ousadias sintomáticas por parte de Forster e
possivelmente da trupe de roteiristas (quatro, ao total, incluindo entre
eles Drew Goddard do recente e incensado O Segredo da Cabana).
Mesmo que seja velado, existe certo humor, deveras irônico, que permeia boa
parte da narrativa. Não se furtando em sacar personagens possivelmente
importantes para o desenrolar da trama, zombar de clichês batidos – percebam a
cena em que um telefone toca exageradamente iniciando a ação -, ou mesmo
atrasar o clímax com um cena sem sentido, gratuita, apenas para tirar sarro da
cara da audiência. Como afirmei em algum momento desse parágrafo, essas
condições não são escrachadas e quem não embarcar na proposta, pode sentir certo
desconforto, acreditando que o roteiro seja mesmo preguiçoso. Ou até seja, mas,
particularmente, diria ser presunçoso. Contudo, uma presunção bem-vinda,
assertivamente ancorada no action-hero minimalista
de Pitt.
Tal como o seu (criticado) Quantum
of Solace (2008) - olha novamente a referência a 007 -, o diretor
alemão Marc Forster concebe um filme em que o protagonista salta sem
parar de uma sequência agitada para outra. Existe muito pouco tempo para o
personagem pensar, assim como para a audiência. Entre um mini-plot e
outro, Gerry arregimenta quase que por um passe de mágica suas idéias e embarca
em mais ação. Isoladas, tais sequências poderiam muito bem funcionar como
curtas-metragens. Mas não pensem que Guerra Mundial Z é um filme
desconexo. Ao contrário, Forster entrega uma história enxuta e que
vai direto ao ponto: abstrair o público com um entretenimento simples e eficaz.
O que depõe contra é a condição excessivamente artificial dos zumbis, que de
tão irreais, não metem medo em ninguém. Os monstros também mesclam
características clássicas dos criados por George A. Romero em A
Noite dos Mortos Vivos (1968), com a repaginada que Danny
Boyle deu nas criaturas em Extermínio (2002).
Se Guerra Mundial Z não
é o filme que muitos esperavam, também não é o fracasso prenunciado. É uma obra
simples e com prerrogativas metafóricas esvaziadas. No entanto, feito na medida
para agradar em uma sessão despretensiosa ao lado de boa companhia.
Fonte:
www.cinema.detalhado.com.br
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