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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A Conveniência Da Cultura - George Yúdice

Citações

"...o papel da cultura expandiu-se como nunca para as esferas política e econômica, ao mesmo tempo que as noções convencionais de cultura se esvaziaram muito."  [25]


"...cultura de nosso tempo, caracterizada como uma cultura de globalização acelerada, como um recurso."  [25]

"... a cultura está sendo crescentemente dirigida como um recurso para a melhoria sociopolítica e econômica, ou seja, para aumentar sua participação nessa era de desenvolvimento político decadente, de conflitos acerca da cidadania. (Young, 2000:81-120)"  [25]

"...a cultura se tornou um meio de internalizar o controle social. Tony Bennet (1995) demonstrou que a cultura proporcionou não somente uma melhoria ideológica, segundo a qual as pessoas seriam avaliadas em termos de valor humano, mas também uma inscrição material nas formas de comportamento.... o modo de andar, de se vestir, de falar etc."  [26]


"...Theodor Adorno na primeira metade do século XX definiu arte como o processo pelo qual o indivíduo ganha liberdade exteriorizando-se, em contraste ao filistino 'quem anseia pela arte por aquilo que consegue extrair dela'."   [27]

" Por que nos voltamos para a legitimação baseada na utilidade? Existem  duas razões principais. A globalização pluralizou os contatos entre os diversos povos e facilitou as migrações, problematizando assim o uso da cultura como um expediente nacional.  Além disso, nos Estados Unidos, o fim da Guerra Fria enfraqueceu o fundamento legitimador de uma crença na liberdade artística, e, com ele, o apoio incondicional às artes, que, até o momento, constituía o principal indicador da diferença com a União Soviética."  [28]

"A arte se dobrou inteiramente a um conceito expandido de cultura que pode resolver problemas, inclusive o de criação de empregos.  Seu objetivo é auxilar na redução das despesas e, ao mesmo tempo, ajudar a manter o nível da intervenção estatal para estabilidade do capitalismo."  [28]

"...segundo Marx e Gramsci a cultura é uma luta política."  [29]

"... a cultura como uma esfera crucial para investimentos, a cultura e as artes são cada vez mais tratadas como qualquer outro recurso... catalisadora do desenvolvimento humano."  [30]

"Existem, naturalmente, dezenas de milhares de projetos culturais em todo e qualquer país.  Como financiadores do tipo BID decidem em quem investir?  Mecanismos de compensação e incentivos precisam ser designados, comenta Santana, para gerar confiança de que haverá um retorno para os investidores."  [32]

" ... o modelo de financiamento cultural precisa ser limitado a segmentos específicos da cultura porque a demanda de recursos é grande e porque somente aqueles que podem gerar retorno serão financiados.  Nesse cenário, alerta Santana, 'a cultura pela cultura', seja lá o que isso represente, nunca receberá fomentos a não ser que possa oferecer uma forma indireta de retorno."  [32]

"...instituições culturais e financiadores estão cada vez mais voltados para a medida da utilidade, pois não há outra legitimação aceita para o investimento social."  [34]

"Em outras palavras, a nova fase do crescimento econômico, a economia cultural, também é uma economia política."  [35]

"...os filmes e a música são cruciais para a identidade cultural e não deveriam ser sujeitos aos mesmos termos do mercado, como, por exemplo, carros e tênis."  [37]

"À medida que a identidade social é desenvolvida num contexto cultural coletivo, discute-se que a inclusão democrática de 'comunidades da diferença' deveria reconhecer aquele contexto e respeitar as noções de responsabilidade e direitos ali desenvolvidos."  [41]

CIDADANIA E CULTURA

"Os direitos culturais incluem a liberdade de se engajar na atividade cultural, falar a língua de sua escolha, ensinar sua língua e cultura a seus filhos, identificar-se com as comunidades culturais que compreendem os patrimônio mundial, adquirir conhecimento dos direitos humanos, ter uma educação, não deixar representar-se sem consentimento ou ter seu espaço público para salvaguardar desses direitos."  [41]

"Além disso, mesmo se os direitos culturais se referem a coletividade, os direitos individuais dos membros desta coletividade têm prioridade, pelo menos em tratados internacionais."  [41]

"...alguns direitos jurisdicionados se sobrepõem a direitos culturais, como no caso do direito à informação.  No entanto, como esse direito é exercido depende do contexto cultural."  [41]

"...os multiculturalistas apelam para uma posição igualitária pluralista ou relativista através da qual diferentes culturas têm parcelas iguais na constituição da sociedade e são expressões de uma forma de humanidade."  [42]

"...a cultura é o que cria o espaço onde as pessoas se 'sentem seguras' e 'em casa', onde elas se sentem como pertencentes e partícipes de um grupo, de acordo com essa perspectiva, ela é condição necessária para a formação da cidadania. (Flores; Benmayor, 1997:15)"  [43]

"A conduta relativista na teoria antropológica - que defende a 'cultura comunal' como um conjunto de ideias e valores que imbui o indivíduo de identidade (Sapir, 1924: 401) - é desta feita mobilizada para fins políticos."  [43]

"A cultura relativista na teoria é, assim, mais do que um ajuntamento de ideias e valores. Ela é, segundo Flores e Benmayor, fundamentada na diferença, que funciona como um recurso (1997: 5).  O conteúdo da cultura diminui em importância à medida que a utilidade da reivindicação da diferença como garantia ganha legitimidade.  O resultado é que a política vence o conteúdo da cultura.  Iris Marion Young comenta que 'as reivindicações pelo reconhecimento cultural normalmente são meios para se chegar ao esvaziamento do domínio ou da privatização injusta."  [43]

"...a cultura não tem um 'em si', ela é um recurso para a política." [43]

"As instituições e outras entidades formadoras de redes sociais realmente importam e que indivíduos que se abstêm de participar de tais redes é algo que não existe.  Mas a estrutura social toma a precedência sobre a de identidade."  [44]

"...o fato de a cultura se aproximar da comunidade expressa a busca da justiça social e os direitos do cidadão, além de ser sobredeterminada pela penetração da lógica do capital nos recessos ainda recônditos da vida."  [44]

"Enquanto a revolução e 'futuros alternativos' já não parecem ameaçar a dominação capitalista, 'uma nova sensação de insegurança proveniente do medo dos desenvolvimentos incontroláveis' resulta da 'assimetria entre a capacidade de agir e a capacidade de predizer'."  [45]

" A guinada antropológica na conceitualização das artes e da sociedade coincide com o que poderia ser chamado de poder cultural - o termo que escolhi para expressar a extensão do biopoder na era da globalização - e também é uma das razões principais pelas quais a política cultural  tornou-se fator visível para repensar os acordos coletivos." [45]

"...padrões simbólicos que dão coerência, e portanto, equipam um grupo de pessoas ou sociedade com valores humanos - perdem força, vemos aqui uma interação da conveniência da cultura."  [46]

"Seria realmente cínico qualificar políticas de identidade como uma aberração quando a conveniência da cultura é uma característica óbvia da vida contemporânea."  [47]

"Heidegger identifica tecnologia como uma forma de compreensão na qual a natureza se transforma num recurso, um meio ao fim, ou uma 'reserva disponível.' Tudo incluindo seres humanos, vem a ser enxergado como algo que está pronto a ser utilizado como recurso."  [48]

"...a essência da tecnologia impregnou todas as coisas, impondo-nos a percepção da arte por meio da estética, então 'tano mais misteriosa se torna a essência da arte."  [49]

UMA NOVA EPISTEME?

"A conveniência da cultura sustenta a performatividade como lógica fundamental da vida social de hoje... primeiro, a globalização acelerou a transformação de tudo em recurso. Depois, a transformação específica da cultura em recurso representa o surgimento de uma nova episteme."  [50]

"...sob as condições determinadas pela globalização, é a diferença e não a homogeneização que difunde a lógica prevalecente da acumulação."  [50]

"Expoentes dessa visão se empenharam em desvendar a gana pelo poder implícita na reverência à alta arte ocidental, o ocultamento das diferenças  de poder na celebração da humanidade comum compartilhada por todos povos conforme é promovida por vários trabalhos antropológicos, e a lavagem cerebral de todo o mundo por parte de Hollywood."  [50]

"...a troca de ideias, informações, conhecimento e trabalho 'multiplica o número de permutações e, durante o processo cria novos estilos de vida, novas culturas', muitas vezes baseados nos elementos de uma cultura amostrada em outra (Rao, 1998: 42-43), como a música rap que a juventude negra brasileira incorpora em seus próprios projetos anti-racistas.  Não é mais viável discutir que tais culturas híbridas não sejam autênticas. (García Canclini, 1995)"  [51]

"O conhecimento moderno, portanto, consiste do desvelamento dos processos primários (a infra-estrutura, o inconsciente) que espreitam nas profundezas, debaixo das manifestações superficiais da ideologia, da personalidade e do social."  [52]

"O governo, por sua vez, torna-se um meio regulamentador da vida e da morte, daquilo que poderia ser calculado e gerenciado entre ambas, estendendo-se ao clima, à doença, indústria, finanças, costumes e desastres.  O biopoder ou a 'existência biológica refletida na existência política', os meios como que o social foi produzido, 'levaram vida e seus mecanismos ao reino dos cálculos explícitos e fizeram do poder-conhecimento um agente de transformação da vida humana."  [53]

"...formulações da pós-modernidade - a fragmentação modernista como algo novo ou que situam a nova episteme na crise de autoridade das grandes narrativas, como se essa crise nunca houvesse ocorrido antes..." [53]

"...semelhança, representação e historicidade -, mas que, no entanto, as recombina levando em consideração a força constitutiva dos signos. Alguns caracterizam essa força constitutiva como simulacro, ou seja, um efeito de realidade baseada na 'precessão do modelo'. 'Os fatos não têm mais qualquer trajetória própria, eles surgem na interseção dos modelos (Baudrillard, 1983:32". [53]

"...à medida que a globalização se aproxima de culturas diferentes para contato mútuo, ela aumenta o questionamento das normas e, com isso, instiga a performatividade."  [54]

"O que conecta sujeito e sociedade são as forças performativas que os operam, para 'arrear' ou fazer convergir as muitas diferenças ou interpretações que constituem e singularizam o sujeito, e, por outro lado, para rearticular um maior ordenamento do social.  Tanto os indivíduos quanto as sociedades são campos de força que constelam a multiplicidade."  [54]

"Baktin propõe que o efeito do romance é uma 'outra consciência que não se insere no quadro da consciência autoral, ele é revelado a partir da internalidade como algo que está de fora (...) (1984:284)"  [55]

"Da mesma que sujeitos são contraditórios mesmo que nivelados pelo nome, assim também é a 'impossibilidade da sociedade', constituída de uma multiplicidade de 'diferenças instáveis' gerenciadas pela hegemonia.  A rearticulação do ordenamento das diferenças caracteriza tanto o sujeito performativo subversivo de Butler quanto a noção de Laclau de mudança social."  [55]

"O capitalismo desorganizado prospera com essa erosão, assistido pelas novas tecnologias que permitem, por exemplo, a redução do tempo nos mercados financeiros, a internacionalização de serviços avançados ao consumidor, a disseminação do risco, maior mobilidade de pessoas, mercadorias, sons e imagens, a proliferação de estilos e uma nova divisão internacional do trabalho cultural."  [56]

"O sistema se alimenta da 'desordem'."  [56]

"Mas também é verdade que o mesmo capitalismo 'desorganizado' que cria um grande número de redes afins de acúmulo também possibilita a tessitura de redes de todos os tipos de associações afins trabalhando em solidariedade e cooperação."  [57]

"A 'flexibilidade' no 'capitalismo flexível' justifica o alargamento dos lucros no hemisfério norte e o encolhimento dos salários em todos os lugares."  [59]

"É impossível não lançar mão da cultura como recurso."  [63]

"A ética, não pressupunha uma fundamentação teológica, normalmente atribuída ao utilitarismo.  Sua noção de cuidado de si mesmo enfatiza o papel ativo do sujeito em seu próprio processo de constituição."  [64]

"A noção de autor de Baktin pode servir como protótipo da ética performativa de Foucault, uma vez que o autor é uma orquestração de outras 'vozes' com suas próprias intenções, com seu próprio sotaque. (1981:293)"  [64]

"Quem pratica o cuidado de si mesmo precisa também forjar sua liberdade trabalhando os 'modelos que o autor encontra em sua cultura e que lhe são propostos, sugeridos, impostos por sua cultura, sua sociedade e seu grupo social. (Foucalt, 1997:291)"  [64]

"...força performativa, entendida como os condicionamentos, as imposições e pressões exercidas pelo campo multidimensionado do social e pelas relações institucionais."  [64]













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