Mutação
E
eu que já fui rosa,
Já
perfumei caminhos,
Já
povoei de doces lembranças
Teus
sonhos, encantos e desejos,
Hoje
sou só roseira.
Sem
flores,
Sem
viço,
Só
espinhos.
Deixo
por onde passo
O
vermelho sangue
Dos
dedos que em meus galhos
Rasgou-se.
Deixo
a dor mais doída,
Pungente
e amarga
Que
em meus ramos
Embrenhou-se.
Perfume
já não há.
As
flores murcharam.
Do
viço, só as lembranças.
É
com espinhos que hoje marco passagem
E
traço a escrita mal feita que agora sou.
Deixei
pra trás a rosa que fui
E
tornei-me a roça exaustiva
Num
dia de sol, calor e sem água.
Sofro,
gemo e me arrebento por dentro.
Saudades
do jardineiro que tive,
Da
chuvinha fina renovadora,
Da
terra fofa e adubada,
Da
mão carinhosa em meu verde,
Do
olhar fascinado pras cores.
Saudade
do teu pescoço virando,
Procurando
meu cheiro,
Seguindo
meu rastro.
Da
rosa que fui um dia
Nem
roça amarga sou mais.
Tornei-me
rocha.
Sem
cheiro,
Sem
cor,
Sem
jardim.
Pedra
fria e sem vida.
Matéria-prima
sem escultor. À espera quem sabe,
Que
por aqui chova novamente
Produzindo
outra vez
O
som da esperança.
Para
quebrar a rocha,
Renovar
a cor
E
resgatar o aroma.
Um comentário:
Linda poesia, amarga, sem perder a esperança.
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