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sexta-feira, 26 de julho de 2013

PROVA BRASIL - TÓPICO IV – COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO

O Tópico IV trata dos elementos que constituem a textualidade, ou seja, aqueles
elementos que constroem a articulação entre as diversas partes de um texto: a coerência
e a coesão. Considerando que a coerência é a lógica entre as idéias expostas no texto,
para que exista coerência é necessário que a idéia apresentada se relacione ao todo
textual dentro de uma seqüência e progressão de idéias.

Para que as idéias estejam bem relacionadas, também é preciso que estejam
bem interligadas, bem “unidas” por meio de conectivos adequados, ou seja, com
vocábulos que têm a finalidade de ligar palavras, locuções, orações e períodos. Dessa
forma, as peças que interligam o texto, como pronomes, conjunções e preposições,
promovendo o sentido entre as idéias são chamadas coesão textual. Enfatizamos, nesta
série, apenas os pronomes como elementos coesivos. Assim, definiríamos coesão como
a organização entre os elementos que articulam as idéias de um texto.

As habilidades a serem desenvolvidas pelos descritores que compõem este
tópico exigem que o leitor compreenda o texto não como um simples agrupamento de
frases justapostas, mas como um conjunto harmonioso em que há laços, interligações,
relações entre suas partes.



A compreensão e a atribuição de sentidos relativos a um texto dependem da
adequada interpretação de seus componentes. De acordo com o gênero textual, o leitor
tem uma apreensão geral do assunto do texto.

Em relação aos textos narrativos, o leitor necessita identificar os elementos que
compõem o texto – narrador, ponto de vista, personagens, enredo, tempo, espaço – e
quais são as relações entre eles na construção da narrativa.

A compreensão e a atribuição de sentidos relativos a um texto dependem da
adequada interpretação de seus componentes, ou da coerência pela qual o texto é
marcado. De acordo com o gênero textual, o leitor tem uma apreensão geral do tema, do
assunto do texto e da sua tese. Essa apreensão leva a uma percepção da hierarquia
entre as idéias: qual é a ideia principal? Quais são as idéias secundárias? Quais são os
argumentos que reforçam uma tese? Quais são os exemplos confirmatórios? Qual a
conclusão?

Em relação aos textos narrativos, pode ser requerido do aluno que ele identifique
os elementos componentes – narrador, ponto de vista, personagens, enredo, tempo,
espaço – e quais são as relações entre eles na construção da narrativa.

D2 – Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou
substituições que contribuem para a continuidade de um texto.

As habilidades que podem ser avaliadas por este descritor relacionam-se ao
reconhecimento da função dos elementos que dão coesão ao texto. Dessa forma, eles
poderão identificar quais palavras estão sendo substituídas e/ou repetidas para facilitar a
continuidade do texto e a compreensão do sentido. Trata-se, portanto, do
reconhecimento, por parte do aluno, das relações estabelecidas entre as partes do texto.

Exemplo de item do descritor D2:

Eu tenho um sonho

Eu tenho um sonho
lutar pelos direitos dos homens
Eu tenho um sonho
tornar nosso mundo verde e limpinho
Eu tenho um sonho
de boa educação para as crianças
Eu tenho um sonho
de voar livre como um passarinho
Eu tenho um sonho
ter amigos de todas raças
Eu tenho um sonho
que o mundo viva em paz
e em parte alguma haja guerra
Eu tenho um sonho
Acabar com a pobreza na Terra
Eu tenho um sonho
Eu tenho um monte de sonhos...
Quero que todos se realizem
Mas como?
Marchemos de mãos dadas
e ombro a ombro
Para que os sonhos de todos
se realizem!

SHRESTHA, Urjana. Eu tenho um sonho. In: Jovens do mundo
inteiro. Todos temos direitos: um livro de direitos humanos. 4ª ed.
São Paulo: Ática, 2000. p.10.


No verso “Quero que todos se realizem” (v. 19) o termo sublinhado refere-se a

(A) amigos.
(B) direitos.
(C) homens.
(D) sonhos.
D7 – Identificar a tese de um texto.

Por meio deste descritor, pode-se avaliar a habilidade de o aluno reconhecer o
ponto de vista ou a idéia central defendida pelo autor.
A tese é uma proposição teórica de intenção persuasiva, apoiada em
argumentos contundentes sobre o assunto abordado.

Exemplo de item do descritor D7:

O ouro da biotecnologia

Até os bebês sabem que o patrimônio natural do Brasil é imenso. Regiões como a Amazônia,
o Pantanal e a Mata Atlântica – ou o que restou dela – são invejadas no mundo todo por sua
biodiversidade. Até mesmo ecossistemas como o do cerrado e o da caatinga têm mais riqueza
de fauna e flora do que se costuma pensar. A quantidade de água doce, madeira, minérios e
outros bens naturais é amplamente citada nas escolas, nos jornais e nas conversas. O
problema é que tal exaltação ufanista ("Abençoado por Deus e bonito por natureza”) é
diretamente proporcional à desatenção e ao desconhecimento que ainda vigoram sobre essas
riquezas.

Estamos entrando numa era em que, muito mais do que nos tempos coloniais (quando paubrasil,
ouro, borracha etc. eram levados em estado bruto para a Europa), a exploração
comercial da natureza deu um salto de intensidade e refinamento. Essa revolução tem um
nome: biotecnologia. Com ela, a Amazônia, por exemplo, deixará em breve de ser uma enorme
fonte “potencial" de alimentos, cosméticos, remédios e outros subprodutos: ela o será de fato –
e de forma sustentável. Outro exemplo: os créditos de carbono, que terão de ser comprados do
Brasil por países que poluem mais do que podem, poderão significar forte entrada de divisas.

Com sua pesquisa científica carente, indefinição quanto à legislação e dificuldades nas
questões de patenteamento, o Brasil não consegue transformar essa riqueza natural em
riqueza financeira. Diversos produtos autóctones, como o cupuaçu, já foram registrados por
estrangeiros – que nos obrigarão a pagar pelo uso de um bem original daqui, caso queiramos
(e saibamos) produzir algo em escala com ele. Além disso, a biopirataria segue crescente. Até
mesmo os índios deixam que plantas e animais sejam levados ilegalmente para o exterior,
onde provavelmente serão vendidos a peso de ouro. Resumo da questão: ou o Brasil acorda
onde provavelmente serão vendidos a peso de ouro. Resumo da questão: ou o Brasil acorda
para a nova realidade econômica global, ou continuará perdendo dinheiro como fruta no chão.
Daniel Piza. O Estado de S. Paulo.

O texto defende a tese de que

(A) a Amazônia é fonte “potencial” de riquezas.
(B) as plantas e os animais são levados ilegalmente.
(C) o Brasil desconhece o valor de seus bens naturais.
(D) os bens naturais são citados na escola.

D8 – Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.

Por meio deste descritor, pode-se avaliar a habilidade do aluno em estabelecer a
relação entre o ponto de vista do autor sobre um determinado assunto e os argumentos
que sustentam esse posicionamento.

Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual é solicitado ao aluno que
identifique um argumento entre os diversos que sustentam a proposição apresentada pelo
autor. Pode-se, também, solicitar o contrário, que o aluno identifique a tese com base em
um argumento oferecido pelo texto.

Exemplo de item do descritor D8:

O namoro na adolescência

Um namoro, para acontecer de forma positiva, precisa de vários ingredientes: a
começar pela família, que não seja muito rígida e atrasada nos seus valores, seja
conversável, e, ao mesmo tempo, tenha limites muito claros de comportamento. O
adolescente precisa disto, para se sentir seguro. O outro aspecto tem a ver com o
próprio adolescente e suas condições internas, que determinarão suas
necessidades e a própria escolha. São fatores inconscientes, que fazem com que a
Mariazinha se encante com o jeito tímido do João e não dê pelota para o herói da
turma, o Mário. Aspectos situacionais, como a relação harmoniosa ou não entre os
pais do adolescente, também influenciarão o seu namoro. Um relacionamento em
que um dos parceiros vem de um lar em crise, é, de saída, dose de leão para o
outro, que passa a ser utilizado como anteparo de todas as dores e frustrações.
Geralmente, esta carga é demais para o outro parceiro, que também enfrenta suas
crises pelas próprias condições de adolescente. Entrar em contato com a outra
pessoa, senti-la, ouvi-la, depender dela afetivamente e, ao mesmo tempo, não
massacrá-la de exigências, e não ter medo de se entregar, é tarefa difícil em
qualquer idade. Mas é assim que começa este aprendizado de relacionar-se
afetivamente e que vai durar a vida toda.

SUPLICY, Marta. A condição da
mulher. São Paulo: Brasiliense,
1984.

Para um namoro acontecer de forma positiva, o adolescente precisa do apoio da família.
O argumento que defende essa ideia é:

(A) a família é o anteparo das frustrações.
(B) a família tem uma relação harmoniosa.
(C) o adolescente segue o exemplo da família.
(D) o apoio da família dá segurança ao jovem.

D9 – Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto.

Por meio deste descritor pode-se avaliar a habilidade de o aluno reconhecer a
estrutura e a organização do texto e localizar a informação principal e as informações
secundárias que o compõem.
Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual pode ser solicitado ao
aluno que ele identifique a parte principal ou outras partes secundárias na qual o texto se
organiza.

Exemplo de item do descritor D9:

Animais no espaço

Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas.
Os russos já usaram cachorros em suas experiências. Eles têm o sistema cardíaco
parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com eles, os cientistas
descobrem quais problemas podem acontecer com as pessoas.

A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço, em
novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astronauta Gagarin.

Os norte-americanos gostam de fazer experiências científicas espaciais com
macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpanzé é o preferido porque
é inteligente e convive melhor com o homem do que as outras espécies de macacos. Ele
aprende a comer alimentos sintéticos e não se incomoda com a roupa espacial.

Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a bordo, como
acionar os comandos das naves, quando as luzes coloridas acendem no painel, por
exemplo.

Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961, a
bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e
salvo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito depressa as
pastilhas de banana durante as refeições.

(Folha de São Paulo, 26 de janeiro de 1996)

No texto “Animais no espaço”, uma das informações principais é

(A) “A cadela Laika (...) foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço”.
(B) “Os russos já usavam cachorros em suas experiência”.
(C) “Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas”.
(D) “Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço”.

D10 – Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a
narrativa.

Por meio deste descritor, pode-se avaliar a habilidade do aluno em reconhecer
os fatos que causam o conflito ou que motivam as ações dos personagens, originando o
enredo do texto.
Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual é solicitado ao aluno
que identifique os acontecimentos desencadeadores de fatos apresentados na narrativa,
ou seja, o conflito gerador, ou o personagem principal, ou o narrador da história, ou o
desfecho da narrativa

Exemplo de item do descritor D10:
Urubus e Sabiás

Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os
urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que,
mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto
fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram do-ré-mi-fá, mandaram
imprimir diplomas e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais
importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles
organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho,
instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos
chamam por Vossa Excelência.

Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi
estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos, tagarelas, que brincavam
com os canários e faziam serenatas com os sabiás...Os velhos urubus entortaram o bico,
o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um
inquérito.

“¾ Onde estão os documentos de seus concursos?” E as pobres aves se olharam
perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvesse. Não haviam
passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram
um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam, simplesmente...
¾ Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à
ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam
sem alvarás...

MORAL: EM TERRA DE URUBUS DIPLOMADOS NÃO SE OUVE CANTO DE SABIÁ.
ALVES, Rubem. Estórias de Quem gosta de Ensinar. São Paulo: Ars Poética, 1985, p.81-2.

No contexto, o que gera o conflito é
(A) a competição para eleger o melhor urubu.
(B) a escola para formar aves cantoras.
(C) o concurso de canto para conferir diplomas.
(D) o desejo dos urubus de aprender a cantar.

D11 – Estabelecer relação causa/conseqüência entre partes e elementos do texto.

Por meio deste descritor pode-se avaliar a habilidade do aluno emidentificar o
motivo pelo qual os fatos são apresentados no texto, ou seja, o reconhecimento de como
as relações entre os elementos organizam-se de forma que um torna-se o resultado do
outro.
Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual o aluno estabelece
relações entre as diversas partes que o compõem, averiguando as relações de causa e
efeito, problema e solução, entre outros.

Exemplo de item do descritor D11:

O homem que entrou pelo cano

Abriu a torneira e entrou pelo cano. A princípio incomodava-o a estreiteza do
tubo. Depois se acostumou. E, com a água, foi seguindo. Andou quilômetros.
Aqui e ali ouvia barulhos familiares. Vez ou outra um desvio, era uma seção
que terminava em torneira.

Vários dias foi rodando, até que tudo se tornou monótono. O cano por dentro
não era interessante.
No primeiro desvio, entrou. Vozes de mulher. Uma criança brincava. Ficou na
torneira, à espera que abrissem. Então percebeu que as engrenagens giravam
e caiu numa pia. À sua volta era um branco imenso, uma água límpida. E a
cara da menina aparecia redonda e grande, a olhá-lo interessada. Ela gritou:

“Mamãe, tem um homem dentro da pia”

Não obteve resposta. Esperou, tudo quieto. A menina se cansou, abriu o
tampão e ele desceu pelo esgoto.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. São Paulo: Global, 1988. p.89.

O homem desviou-se de sua trajetória porque
(A) ouviu muitos barulhos familiares.
(B) já estava “viajando” há vários dias.
(C) ficou desinteressado pela “viagem”.
(D) percebeu que havia uma torneira.

D15 – Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por
conjunções, advérbios, etc.

As habilidades que podem ser avaliadas por este descritor, relacionam-se ao
reconhecimento das relações de coerência no texto em busca de uma concatenação
perfeita entre as partes do texto, as quais são marcadas pelas conjunções, advérbios,
etc., formando uma unidade de sentido.

Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual é solicitado ao aluno, a
percepção de uma determinada relação lógico-discursiva, enfatizada, muitas vezes, pelas
expressões de tempo, de lugar, de comparação, de oposição, de causalidade, de
anterioridade, de posteridade, entre outros e, quando necessário, a identificação dos
elementos que explicam essa relação.

Exemplo de item do descritor D15:

As enchentes de minha infância

Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda,
mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos
para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos
Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio.

Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver
até onde chegara a enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da
cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo
porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a
família defronte teve medo.

Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa,
aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre.

Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e
se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo
nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, torcíamos para ele subir mais e
mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando,
mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo - aquilo
era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às vezes chegava alguém a cavalo,
dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas
cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer,
queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes.

BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p. 157.

Que função desempenha a expressão destacada no texto “... o volume do rio cresceu
TANTO QUE a família defronte teve medo.” (2º parágrafo)

(A) adição de idéias.
(B) comparação entre dois fatos.
(C) conseqüência de um fato.
(D) finalidade de um fato enunciado.

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