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domingo, 24 de março de 2013

As portas dos domínios museal e patrimonial - Mário Chagas

Citações 

"A palavra patrimônio, ainda hoje, tem a capacidade de expressar uma totalidade difusa à semelhança do que ocorre com outros termos, como cultura, memória e imaginário, por exemplo."  [33]

"Vale registrar que, para além do seu vínculo com a modernidade, a categoria patrimônio, como categoria antropológica de pensamento, tem, como sublinhou José Reginaldo Santos Gonçalves, um 'caráter milenar' e não uma 'invenção moderna', estando em ação, nomeadamente, 'no mundo clássico', 'na Idade Média' e também 'nas chamadas sociedades tribais'. (GONVÇALVES, 2003: 21-29)  [34]

"...o patrimônio... transcende as barreiras do tempo e do gosto."  [35]



"... para a ação preservacionista ser deslanchada, não basta a imaginação de 'algum mal de algum 'dano' ou 'perigo' que vem do futuro.  É preciso - e este não é um ponto sem importância - que o sujeito da ação identifique no objeto a ser preservado algum valor."  [35]

PATRIMÔNIO & MUSEU: PERIGOS, VALORES E PORTAS

"Perigo e valor imaginados são as palavras-chaves para a ação preservacionista... Embora a morte seja o perigo maior e praticamente inevitável, o sentido corriqueiro de perigo depende fundamentalmente de um referencial.  Em outros termos: aquilo que se apresenta como perigo para uns pode não ser percebido como perigo por outros.  Além disso, uma mudança de perspectiva pode alterar a visão de perigo."  [35]

"Há uma segunda possibilidade sugerida pelas duas palavras-chave. Sem a identificação de uma valor qualquer (mágico, econômico, simbólico, artístico, histórico, científico, afetivo ou cognitivo), a preservação não será deflagrada, ainda que haja o perigo de destruição." [36]

"Um povo só preserva aquilo que ama. Um povo só ama aquilo que conhece."  [36]

"Nunca podemos recuperar totalmente o que foi esquecido. E talvez seja bom assim. O choque de resgate do passado seria tão destrutivo que, no exato momento, forçosamente deixaríamos de compreender nossa saudade. Mas é por isso que a compreendemos, e tanto melhor, quanto mais profundamente jaz em nós o esquecido. (BENJAMIN, 1995: 104-105)  [36]

"Para além dessas trajetórias espetaculares e desses câmbios de funções e significados, permanece a capacidade de esses objetos suportarem a função de intermediários entre mundos diferentes, aí o seu 'poder mágico'.  [37]

"Esses fluxos e refluxos de significados e funções, envolvendo, em alguns casos, as esferas pública e privada, parecem ser mais frequentemente do que se imagina, ainda que os museus, de maneira geral, operem com a hipótese da eternização dos bens culturais nos seus domínios."  [37]

"não é demais lembrar a incômoda observação de Theodor Adorno, para quem 'museal', 'museu e mausoléu são palavras conectadas por algo mais que a associação fonética."  (ADORNO, 1967: 173)  [40]

"Não basta preservar contra a ação do tempo, é preciso também garantir a prerrogativa do interesse público sobre o privado, mesmo reconhecendo que, sob essa designação (interesse público), ocultam-se diversos grupos de interesse, interesses diferentes e até mesmo conflitantes."  [40]

"De volta ao domínio patrimonial. Propriedade e posse, preservação e destruição, perigo e valor, público e privado, refuncionalização e ressignifcação parecem ser os termos que dão o contorno moderno à noção de patrimônio e, de modo particular, à noção de patrimônio cultural musealizado, que, a rigor, é um instrumento de mediação entre diferentes mundos, entre o passado, o presente e o futuro, entre o visível e o invisível. (POMIAN, 1984: 51-86)  [40]

"Não é outro o sentido de uma herança que socialmente se transmite, em termos diacrônicos, e socialmente se partilha, em termos sincrônicos.  Essa herança adjetivada - lembrando Norbert Elias (1994) - não é apenas social e individualmente constituída, é também construtora de sociedades e indivíduos."  [41]

"Gaston Bachelard, em A poética do espaço: 'o minúsculo, porta estreita por excelência, abre um mundo.  O pormenor de uma coisa poder ser o signo de um mundo novo, de um mundo que, como todos os mundos, contém atributos de grandeza." (BACHELARD, 1993:164)

"A preservação do bem intangível está na inteira dependência do saber-fazer." [46]

A CIDADE PATRIMONIAL E O BASTIÃO MUSEAL

"...o processo de musealização confunde-se com o que se poderia chamar de patrimonialização."  [47]

"Se, por um lado, marcar o território pode significar a criação de ícones de memória favoráveis à resistência e à afirmação dos saberes locais diante de processos homogeneizadores e globalizantes, por outro, assumir a volatilidade desse território pode implicar a construção de estratégias que favoreçam a troca, o intercâmbio e o fortalecimento político-cultural dos agentes museais envolvidos."  [52]

"O campo museal, como se costuma dizer, está em movimento, tanto quanto o domínio patrimonial. Esses dois terrenos - que ora se casam, ora se divorciam, ora se interpenetram, ora se desconectam - constituem corpos em movimento. E, como corpos, também são instrumentos de mediação, espaços de negociação de sentidos, portas (ou portais) que ligam e desligam mundos, indivíduos e tempos diferentes. O que está em jogo nos museus e também no domínio do patrimônio cultural é memória, esquecimento, resistência e poder, perigo e valor, múltiplos significados e funções, silêncio e fala, destruição e preservação."  [53]

MUSEUS: DA IMAGINAÇÃO MÍTICA À IMAGINAÇÃO MUSEAL

"Um lugar, coisas que ancoram poder e memória e um ente (individual ou coletivo) possuído e possuidor de imaginação criadora são os elementos indispensáveis para a constituição do museu."  [57]

"Objetivamente, a minha sugestão é que a imaginação museal configura-se como a capacidade singular e efetiva de determinados sujeitos articularem no espaço (tridimensional) a narrativa poética das coisas."  [58]

"Quando um pesquisador ou um profissional de museus debruça-se sobre essas instituições, compreendendo-as como elementos típicos das sociedades modernas, pode visualizar em suas estruturas de atuação três aspectos distintos e complementares: do ponto de vista museográfico, a instituição muesal é um campo discursivo; do ponto de vista museológico, é um centro produtor de interpretação; e, do ponto de vista histórico-social, é arena política."  [61]

"As instituições museais têm a vida que lhes é dada pelos que nela, por ela e dela vivem.  Interessa, portanto, saber por quê, por quem e para quem os seus textos narrativos são construídos; quem como, o que e por que interpreta; quem participa e o que está em causa nas pendengas museais."  [61]

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