As ideias de Popper - Bryan Magee

Citações

"O cientista principia efetuando alguns experimentos, cujo objetivo é o de permitir observações cuidadosamente controladas e meticulosamente medidas - em algum ponto da fronteira entre nosso conhecimento e nossa ignorância.  O cientista registra sistematicamente seus achados, divulga-os, talvez; e, com o correr do tempo, ele e outros pesquisadores que trabalham na mesma área chegam a acumular uma porção de dados comuns e dignos  de crédito. Crescendo o número de dados, traços de ordem geral principiam a emergir e os pesquisadores começam a formular hipóteses gerais - enunciados de caráter legalóide que se ajustam a todos os fatos conhecidos e explicam de que modo eles se relacionam causalmente entre si.  O cientista procura confirmar sua hipótese, encontrando evidência que lhe dê apoio."  [21]


"O método que permite assentar enunciados gerais sobre observações acumuladas de casos específicos é conhecido como indução e é considerado como traço distintivo da ciência.  Em outras palavras, o uso do método indutivo é considerado como critério de demarcação entre ciência e não-ciência.  Enunciados científicos são os únicos que conduzem a conhecimento seguro e certo, porque estão assentados em evidência observacional e experimental - porque estão, suma, assentados sobre os fatos; põem-se, portanto, em contraste com enunciados de todos os outros tipos, que se baseiam na autoridade, na emoção, na tradição, na conjectura, no preconceito, no hábito ou em qualquer outro alicerce.  A ciência é o corpus  de tais conhecimentos seguros e certos e o desenvolvimento de ciência consiste no interminável processo de adicionar certezas novas ao conjunto de certezas existentes."  [22]

"O que os argumentos humeanos demonstram é que a indução se converte em princípio lógico independente, incapaz de ser inferido da experiência ou de outros princípios lógicos, e que a ciência se torna impossível sem ele."  [23]

"Porque, em realidade, o aumento de conhecimento se deve aos problemas e às nossas tentativas de resolvê-los.Essas tentativas requerem a colocação de teorias que - almejando resolver a dificuldade - precisam ir para além do conhecimento existente e, portanto,  exigem esforço de imaginação.  Quanto mais ousada a teoria, tanto mais ela nos diz - e mais atrevido o ato imaginativo.  (Simultaneamente, contudo, torna-se maior a probabilidade de ser falso o que a teoria afirma e é preciso submetê-la a testes rigorosos para verificá-lo.) A maior parte das grandes revoluções científicas deveu-se a teorias temerárias, que exigiram imaginação criativa, profundidade de visão, independência de espírito e um pensamento desejoso de aventurar-se em regiões inseguras."  [28]

"Não há em ciência, como não há em artes, uma lógica da criação."  [34]

"...não existe algo que se possa denominar método lógico para ter novas ideias, não existe uma reconstrução lógica desse processo... cada descoberta encerra um 'elemento irracional', ou 'uma intuição criativa', no sentido bergsoniano.  [34]

"...concepção tradicional, aquilo que distingue a ciência da não-ciência é a utilização do método indutivo."  [37]

"...concepção indutivista, os cientistas buscam, acerca do mundo, enunciados que encerram o máximo grau de probabilidade, em termos da evidência disponível."  [37]

"E quanto mais específico tornamos nosso enunciado... - mais provável será que ele se mostre errôneo, mas, ao mesmo tempo, mais informativo e, se verdadeiro, mais útil ele será."  [38]

"...faz parte da grandeza e da beleza da ciência o fato de podermos aprender, através de investigações conduzidas com espírito crítico, que o mundo é inteiramente diverso daquilo que chegamos a imaginar - até que a nossa imaginação seja estimulada pela refutação de teorias anteriores."  [39]

"Popper afirma em The Poverty of Historicism (p. 56), que 'a ciência ganha significância como uma das maiores aventuras espirituais que o homem conheceu'."  [39]

"Para Popper, a nossa ignorância cresce com o nosso saber e que, por conseguinte, o número de questões será sempre maior do que o número de respostas.  Ele sabe que a verdade interessante consiste de proposições extremamente improváveis, que só podem ser fruto de imaginação ousada.  Sabe que tais hipóteses temerárias são usualmente errôneas e não devem ser aceitas, nem mesmo em caráter provisório, sem que haja realizado uma tentativa séria de constatar em que pontos podem estar erradas."  [40]

"Quanto maior a falha, maior o aperfeiçoamento que sua exposição torna possível.  O homem que acolhe a crítica e age em função dela a prezará a ponto de colocá-la acima da amizade; o homem que repele a crítica, preocupado em manter a própria posição, está fadado a estagnar."  [41]

"Uma teoria deve, antes de tudo, propiciar solução para um problema que nos interesse."  [42]

"É obviamente impossível chegar à compreensão do mundo sem a utilização de conceitos."  [54]

"Uma tarefa não principia com a tentativa de resolver um problema (a solução provisória é o segundo termo da fórmula, não o primeiro).  Principia com o próprio problema e com as razões que o transformam em problema.  Antes de voltar a atenção para a busca de possíveis soluções, gasta-se tempo e esforço com a formulação de problemas. E o êxito que se alcança na segunda etapa depende, muitas vezes, do êxito que se alcança na primeira."  [68]

"Em tudo aquilo em que mergulhamos e em tudo aquilo que fazemos, somos herdeiros de todo passado e não há meio que possibilite, por mais que o desejemos, uma desvinculação desse passado. Isso atribui uma irretorquível importância à tradição.  É nela que precisamos principiar, ainda que seja para dar-lhe combate.  De hábito, o progresso resulta de críticas ao passado e de alterações que nele impomos: usamos a tradição e avançamos com apoio nela."  [71]

"Enquanto as ideias permanecem em nosso espírito elas não são passíveis de críticas.  A formulação pública das ideias é que conduz, normalmente, ao progresso.  De outra parte, a validade de qualquer argumento em torno dessas ideias é, de novo, algo objetivo: não é algo que dependa do número de pessoas que se disponham a aceitá-las."  [72]

"Em sentido privado, individual, a maior parte do conhecimento humano não é conhecida por qualquer pessoa.  O conhecimento existe no papel. [72]

"Se o poder for colocado, por exemplo, na mão do mais sábio dos homens, ele poderá, do fundo de sua sabedoria, dizer: "O governante não devo ser eu, mas quem é moralmente bom." Se o moralmente bom estiver no governo, ele poderá dizer, com a melhor das intenções: "É errado que eu imponha minha vontade sobre os outros. O governante não dever ser eu, mas a maioria." A maioria, detendo o poder, talvez assim se expresse: "Impõe-se que haja um homem forte para implantar a ordem e dizer-nos o que fazer."  [83]

"Com frequência, vemos afirmado que a maior parte das pessoas realmente não deseja a liberdade, porque liberdade envolve responsabilidade e a maioria das pessoas teme a responsabilidade."  [88]

"Aceitar responsabilidade por nossa vida equivale a enfrentar continuamente escolhas e decisões difíceis, suportando-lhes as consequências quando errôneas, e isso é desagradável, para não dizer assustador. Existe em todos nós algo de infantil, talvez, que apreciaria escapar a esse peso, vendo a carga tirada dos ombros. Não obstante, sendo, o de sobrevivência o nosso mais forte instinto, nossa necessidade mais profunda é, provavelmente, a de segurança.  Dessa forma, só nos dispomos a transferir responsabilidade para alguém ou para alguma coisa em que depositemos confiança maior do que a depositada em nós mesmos."  [89]

"Adquirimos liberdade à custa de segurança, igualdade à custa de nossa auto-estima e autoconsciência crítica à custa de nossa paz de espírito. O preço é alto: nenhum de nós o paga alegremente e muitos não querem pagá-lo."  [90]

"...o sentido de insatisfação com a sociedade existente, que atinge as pessoas, muito mais comumente se associa à inteligência e à imaginação do que à sua ausência. Os não inteligentes e não imaginativos tendem a aceitar as coisas como as encontram e a mostrar-se conservadores. Assim, a revolta contra a civilização têm sido comandada por alguns dos maiores líderes intelectuais da humanidade." [91]

"...com frequência, quanto mais discutem duas pessoas inteligentes, mais se aperfeiçoam constantemente como resultado da crítica que recebem..."  [92]

"O país mais desenvolvido só pode mostrar o futuro que espera 
país menos desenvolvido."  [96]