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terça-feira, 24 de julho de 2012

Para aquecer as férias...

Boca Tentação
(Rosilda da Silva)

Sua boca sensual,
Convite pra perdição,
Atiça meus sentidos,
Esgravata desejos tantos,
Embaraços adormecidos.

Por vezes espreito as nuvens,
Acima de qualquer vertigem e,
De lá me lanço num salto livre
Para em seus braços me aconchegar.

O mágico toque
Do seu corpo no meu,
São carícias contrabandistas
Invadindo fronteiras
Dantes nunca transpostas
Ou pensadas por
Humanos entendimentos.

Já colados e abrasados,
Sua boca tentação
Me chama de mansinho,
Persegue meus desvarios
Abarrotando dúvidas.
Como a ventania no lusco-fusco.
Cavalgando sonhos
E domando sentimentos.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

sábado, 21 de julho de 2012

Flagra

Um coração só ama
Aquilo que de belo consegue ver
E como olhos atentos d’alma
Procura por onde passa
A diáfana luz no olhar do outro.
A beleza poética da vida,
Que em formosas silhuetas
No andar do outro, dança,
Enfeitiçando o tempo
Que escorrega preguiçoso...
Libertando o lirismo
Que se esconde prisioneiro
 No vale encantando
Das mansas saudades...

Um coração quando flagrado
Em seu silêncio contemplativo
Inquieta-se e sorri corado
Depois...
Nunca mais será o mesmo,
Pois, pelo amor foi abalado.

(Rosilda da Silva)

Um Pouco de Poesia...




Arte apresentação de Mariza Vieira Rodrigues - autora de Vindos de Longe

Leituras - Mês a Mês

Julho

A Varanda de frangipani - Mia Couto








Bussunda - A vida do casseta  - Guilherme Fiuza




Prosa Sobre Amigos

        Amigos não morrem, eles apenas se ausentam.  Como o cheirinho do café fresco feito pela mãe que fica pendurando no vento leve da saudade antiga.  Essa saudade é um misto de falta e ao mesmo tempo de presença.  Age em nosso peito como a maior e mais cruel invenção, pois, assim são as perdas que a vida nos traz.
       A lacuna que fica vai sendo preenchida com imagens e mil tons, como num filme que se perde nos labirintos da imaginação onde o presente ébrio de dor se funde com o passado abundante de histórias e saudades.
       Esses mil tons que vão surgindo servem para aquarelar as ideias e dar um efeito mais poético ao som agora mudo das gargalhadas pueris e fáceis que por tantas vezes harmonizaram nossos embaraços.
       Eta saudade grande, que estraçalha o peito e desorganiza a bagagem desarmando as arapucas que a vida preparou; libertando sorrisos curiosos, aquele entusiasmo contagiante, o bom e velho humor despreocupado e uma imensidão de equilíbrio, força, coragem e sonhos, que é preciso sufocar em algum canto para que não venham à tona a todo instante como um abrir e fechar de olhos.
       Amigos não morrem porque são capazes de transformar a vida da gente num filme de aventuras que podemos rever muitas vezes enchendo os novos momentos de alegria e dando mil tons à beleza poética da vida.
       Amigos são eternos e, independente da distância que a vida os leve, terão lugar cativo em nossos corações.


(Rosilda da Silva)

Promessas


Meus dias serão teus.
Presa estou em seu laço.
Sem delongas,
Acertaremos o compasso?

À vista ou à prazo
uma dívida cobrarei
ardente ou ardilosa
ainda não sei... mas,

tenho um beijo para te dar
quer que eu leve, 
ou você vem buscar?

Te espero, tá?!

 (Rosilda da Silva)


Aconteceu em Joinville

Aproveitando no fim de semana prolongado do feriado de Corpus Christi. Decidi dedicar uma atenção maior às compras que necessitava fazer. Primeiro uma lista detalhada, itens de primeira necessidade no topo, como alimentação, remédios e higiene pessoal. Logo depois figuravam outros itens não tão importantes, mas muito apreciados e indispensáveis também para curtir prazerosamente os próximos três dias em casa.
Depois de umas boas andanças, algumas pesquisas de preços, muitos risos, conversas e teimosias, finalmente era hora de começar a colocar os itens de nossa lista no carrinho de compras.  
Pra nossa felicidade, o shopping no qual nos encontrávamos, “nave mãe”  aqui em Joinville, conta não somente com lojas e praça de alimentação, mas também com um supermercado. Ideia iluminada para nossa sede de compras, solução perfeita para quem pretende encontrar tudo que procura em um único lugar e assim aproveitar da melhor maneira possível o tempo nesses dias friozinhos de junho.
Deixando a rotina da correria de lado, resolvi conhecer de perto a campanha para a conquista de clientes desse mercado. Afinal, em se tratando de marketing,  não basta ter bom preço, é preciso atrair a clientela pelo diferencial dos serviços oferecidos.  O lema dessa cadeia de supermercados é “preço baixo todo dia...” e ainda cobrindo a oferta da concorrência. Por acaso, na minha lista de necessidades, os primeiros itens eram as medicações, então, passei primeiro em uma farmácia e de lá já saí com um encarte de preços e produtos na bolsa. 
De posse do tal encarte resolvi comprovar a funcionalidade da propaganda lema do mercado.  Entre os itens que precisava incluí um que tinha preço menor no encarte que possuía. Para minha surpresa ao chegar ao caixa o atendente me avisa que aquele item não poderia ter cobertura de preço ali, somente na farmácia da rede. Sem pressa alguma e com muita paciência, como é natural em início de feriadão, fui até lá e outra surpresa me aguardava.  A pessoa que me atendeu deixou bem claro que aquele item não era vendido ali, somente no mercado da rede e, portanto, não havia como “cobrir a oferta da concorrência”.
Não entendi ao certo o que aconteceu ali. Terá sido falta de informação? Falha na comunicação? Má vontade em atender quando tantos outros aproveitam o feriado? Ou exclusivamente esse não era o dia dos preços baixos com cobertura de oferta da concorrência?

Rosilda da Silva

Questionamentos - mola propulsora


À medida que amadurecemos e crescemos enquanto seres humanos, pessoas capazes de refletir e com poder transformador, muito mais nos é cobrado e exigido.
Torna-se essencial que correspondamos às expectativas esperadas pelo “mundo”  que nos cerca, pois ajudar a “voar mais alto” e enxergar mais longe faz parte da vida daqueles que se dedicam ao trabalho de alavancar grandes mudanças.
Vivemos em uma era dominada pela tecnologia e isso só se tornou possível a partir do trabalho colaborativo, da interação entre as pessoas, da curiosidade, da participação e doação de diferentes especialistas. Assim como Karl Marx previu a divisão do trabalho, ocorre hoje uma grande integração tecnológica entre diferentes partes para creditar confiabilidade a esse novo tempo.
Com o passar do tempo vamos mudando nossa própria visão de mundo; a partir dos acontecimentos que nos cercam, das nossas vivências e das pessoas que nos rodeiam, com as quais interagimos e muitas vezes divergimos, pois segundo Kant “um indivíduo é avaliado pelo número de incertezas que é capaz de suportar”.
Muitas vezes é a busca por respostas e soluções para nossas dúvidas e incertezas o que nos ajuda a evoluir moralmente. Assim como é a constância da ética que valida nosso acesso a um patamar de responsabilidade social e valores nobres que aperfeiçoam nossa maneira de ver o mundo ao longo da vida.
E assim sendo, é preciso lembrar as sábias palavras das escrituras que dizem: “a quem muito foi dado, muito será cobrado”; é necessário portanto, que cada um cumpra com seu papel transformador capaz de gerar mudanças e nos fazer repensar as relações que promovem crescimento e amadurecimento.
Por isso é essencial lutar com todas as forças para que a coragem impregnada em nossos jovens não se entorpeça no ócio ou abandone seu espírito provocador, pois, com efeito, “não são as respostas, mas, as perguntas que movem o mundo”, construindo assim as grandes mudanças tão desejadas na humanidade.
Rosilda da Silva 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mia Couto - Biografia

Mia Couto


Mia Couto é aquilo que se entende por 'escritor da terra'. Precisamente porque, na sua expressão absolutamente única, originalíssima, escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a própria natureza humana na sua relação umbilical com a terra.
A sua linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos confere-lhe um atributo de singular percepção e interpretação da beleza interna das coisas. Cada palavra inventada como que adivinha a secreta natureza daquilo a que se refere, e entendemo-la como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada em seu lugar. As imagens de Mia Couto evocam necessariamente em nós a intuição de mundos fantásticos e em certa medida um pouco surrealistas, subjacentes ao mundo em que vivemos, que nos envolvem de uma ambiência terna e pacífica de sonhos – o mundo vivo das histórias. Pode dizer-se, creio, que Mia Couto sobressai como excelente contador de histórias. Através delas, consegue manter-nos em contato com um pulsar interno que coincide com a própria respiração da terra.



Biografia

Mia Couto nasceu na Cidade da Beira (Moçambique) em 1955, filho de uma família de emigrantes portugueses. Publicou os primeiros poemas no "Notícias da Beira", com 14 anos. Em 1972, deixou a Beira  e partiu para Lourenço Marques para estudar Medicina. A partir de 1974, começou a fazer jornalismo, tal como o pai. Com a independência de Moçambique, tornou-se diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM). Dirigiu também a revista semanal "Tempo" e o jornal "Notícias de Maputo".
Em 1985 formou-se em Biologia pela Universidade Eduardo Mondlane. Foi também durante os anos 80 que publicou os primeiros livros de contos. Estreou com um livro de poemas, "Raiz de Orvalho" (1983), só publicado em Portugal em 1999. Depois, dois livros de contos: "Vozes anoitecidas" (1986) e "Cada Homem é uma Raça" (1990). Em 1992 publicou o seu primeiro romance, "Terra Sonâmbula". A partir de então, apesar de conciliar as profissões de biólogo e professor, nunca mais deixou a escrita e tornou-se um dos nomes moçambicanos mais traduzidos: espanhol, francês, italiano, alemão, sueco, norueguês e holandês são algumas línguas. Outros livros do autor: "Estórias Abensonhadas" (1994); "A Varanda do Frangipani" (1996); "Vinte e Zinco" (1999); "Contos do Nascer da Terra" (1997); "Mar me quer" (2000); "Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos" (2001); "O Gato e o Escuro" (2001); "O Último Voo do Flamingo" (2000); "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" (2002). "O Fio das Missangas" (2004) é o seu último livro de contos.
Em 1999 foi vencedor do prémio Vergílio Ferreira pelo conjunto da obra, um dos mais conceituados prêmios literários portugueses, no valor cinco mil euros, que já premiou Maria Velho da Costa, Maria Judite de Carvalho e Eduardo Lourenço, entre outros. Em 2001, recebeu também o Prêmio Literário Mário António (que distingue obras e autores dos países africanos lusófonos e de Timor-Leste) atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian por "O Último Voo do Flamingo" (2000).


 

    Para Ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre 


Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Hora de conversa

"A velhice o que é senão a morte estagiando em nosso corpo?  Sob o perfume doce da frangipaneira, invejava o mar que, sendo infinito, espera ainda em outra água se completar. Eu desafiava aquela conversa sozinho.  Quando se é velho toda hora é hora de conversa."

(Mia Couto)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Desafio

Em plena praça
Delirando pelo teu afeto
Pela luz dos teus olhos
Que como fogo me queima
Abraço meu skate
E como um raio de sol
Parto a tua procura
Para iluminar teus dias
Ser teu rumo, 
Teu farol...


(Rosilda da Silva)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Leviandades

(Rosilda da Silva)


Coração apaixonado
olhos atentos


Alma feliz...


Feitiço do tempo 
Rumo perdido


Não sabe se vem ou fica
se ainda quer ou já quis...

terça-feira, 10 de julho de 2012

Nos Jogos da Paz, disputa de Titãs

Suor, emoção, alegria, nervosismo, vontade única:  vencer!  Sim, é do futebol que falo. Paixão entre tantas idades; dos 8 aos 80 o coração acelera quando a bola rola.   Galera reunida, a disputa pela frente e o sonho de deixar o Oswaldo com o título de campeão dos Jogos da Paz tomou conta dos times dos nonos anos ao entrar em quadra. 
Ao soar o apito para o início da partida, a cada chute, giro ou lançamento era lançado também o desejo de bola na rede.  Cheios de ousadia, nossos craques encantaram a torcida, que vibrava, roia as unhas, suava frio e sofria junto cada vez que a mágica não acontecia. Sim, mágica; pois em disputa de titãs só mesmo mágica e muito talento pra fazer a rede estufar ao toque da estrela da vez.  
Do lado de fora, ternos olhares, coligações de torcidas e muita animação.  Em quadra, olhares preocupados, observadores, muita tática, parceria e concentração.  Afinal de contas, a próxima temporada dos Jogos da Paz na escola será um sonho impossível para os que partem.   E, fechar essa longa caminhada como campeões é algo que todos querem e se esforçam para conseguir.
Foram jogadas brilhantes, muita expectativa, artilharia ofensiva, zaga atuante, marcação cerrada e, é claro, equipes com garra, determinação e cientes de que vencer não é tudo, mesmo quando o desejo é grande.  Aqui, o que vale mesmo, é promover a paz, integrar os participantes e se divertir de forma saudável. 
Mas, sempre tem algum time que domina as ações do jogo; aqui não foi diferente.  Com investidas incansáveis, força, disposição e “pra nossa alegria”, foi possível se ouvir goooOOOOlllLLLL mais de uma vez.  Com direito à braço erguido e sorriso no rosto, os alunos do 9º1 conquistaram o título tão sonhado e suado pra conseguir.  Parabéns alunos, não foi tarefa fácil!

Professora Rosilda

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Se você errou

Se você errou, peça desculpas...

É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?

Se você sente algo diga...

É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?

Se alguém reclama de você, ouça...

É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?

Se alguém te ama, ame-o...

É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?

Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível...

Cecília Meireles

terça-feira, 3 de julho de 2012

Arte de AmarMetidos nesta pele que nos refuta, 
Dois somos, o mesmo que inimigos. 
Grande coisa, afinal, é o suor 
(Assim já o diziam os antigos): 
Sem ele, a vida não seria luta, 
Nem o amor amor. 

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
Aprendamos, AmorAprendamos, amor, com estes     montes 
Que, tão longe do mar, sabem o jeito 
De banhar no azul dos horizontes. 

Façamos o que é certo e de direito: 
Dos desejos ocultos outras fontes 
E desçamos ao mar do nosso leito. 

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." - José Saramago

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Reações do mundo da cultura à morte de Saramago



Nuno Júdice, poeta: "Não lamento só o facto de ter perdido um grande amigo, mas também um grande escritor". "Quando um escritor morre, é um mundo que desaparece, mas do Saramago ficará sempre a sua imaginação, a sua vida e ele e os seus livros nunca deixarão de ser um exemplo".

Chico Buarque, músico: “Perco um grande amigo. Perdemos todos um ser humano admirável, um escritor imenso, zelador apaixonado da língua portuguesa.” 

Carlos Fuentes, escritor mexicano: "José Saramago nunca escreveu um mau livro. Toda a sua obra mantém um altíssimo nível, uma grande qualidade". "Tinha um carácter forte, sabia revoltar-se com justa causa. Deu batalhas políticas importantes no México no mundo. Mas ao fim e a cabo o que sobrevive de um escritor não é a sua ideología mas sim a sua literatura".

Luiz Schwarcz, editor brasileiro de José Saramago: "Agora só quero me despedir mais uma vez de José. Com as melhores lembranças, o amor, e minha saudade. Maldita palavra, tão portuguesa, que agora ficará associada ao meu amigo. Mas saudade não tem remédio, não é, José?"

António Vitorino de Almeida, maestro: “Saramago foi um dos maiores escritores de sempre, e não só de Portugal”. “Há figuras que fazem parte da História e fazem com que o país faça História no mundo, e Saramago é uma delas”. 

Dario Fo, escritor italiano: "Hoje, que José não está, falta-me tudo, tiraram-me um bocado de vida, um amigo que nunca se rendeu, que sempre se manteve íntegro e de pé no meio da batalha.”

Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura: José Saramago "deixa um legado poderosíssimo do escritor" que foi "a afirmação da literatura portuguesa na cena internacional como provavelmente antes dele nunca tinha sido conseguido".

Adriano Moreira, presidente da Academia das Ciências: "Um homem que, pela sua projecção internacional e pelo prémio Nobel que recebeu, foi efectivamente um interventor que aumentou a imagem e o prestígio do país”. 

Mário Cláudio, escritor: Perdeu-se “uma figura indiscutivelmente maior das nossas letras”, uma figura “que vai ficar por muitos e muitos anos”. “Saramago vai durar o que durar a literatura portuguesa”.

Lídia Jorge, escritora: Morreu “um escritor genial” e também “um exemplo de coragem, pela sua coerência”. “Apesar de tudo acho que morreu feliz porque escreveu até ao fim da vida, entregando-se sempre com a mesma coragem ao ofício que escolheu, e acreditando piamente nas suas convicções”.

Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura: “Um escritor marcante da segunda metade do século 20”, com “um lugar muito particular na literatura portuguesa”. 

valter hugo mãe, escritor e Prémio Saramago "o desaparecimento de algumas pessoas mata-nos a todos um pouco. passamos mais num dia assim. o que saramago fez por nós foi demasiado, pela disponibilidade para se incomodar com os assuntos da comunidade, exercendo a liberdade e fugindo à padronização e à geral desmobilização. estou profundamente triste por saramago e por todos nós".

Gonçalo M. Tavares, escritor e Prémio Saramago: “É um dia muito triste, pela perda muito grande que tivemos. Saramago foi muito importante pelo modo generoso como recebeu os novos autores e como sempre me tratou, com grande atenção e generosidade”. 

Carlos do Carmo, fadista:“É uma pessoa de quem gosto genuinamente, e sinto-me profundamente consternado”. “Estou bem mais pobre com a perda deste querido amigo”.

Zeferino Coelho, editor de Saramago: “Pessoalmente, perdi um amigo, um grande homem, um grande escritor”. “Um marco comparável ao das grandes obras de autores como Eça de Queirós, Almeida Garrett ou Fernando Pessoa”. “É talvez o escritor português que maior repercussão teve -- e teve repercussão em todo o mundo: em todo o mundo é conhecido, em todo o mundo é escutado".

José Eduardo Agualusa, escritor: “O que mais admirava em Saramago era a sua vitalidade e a sua combatividade de homem que acreditava em causas”. “Mudou a forma como a nossa língua passou a ser percebida em todo o mundo”. 

João Brites, encenador: “Uma referência como homem, um cidadão lúcido, firme e capaz de provocar o nosso pensamento”. Era um homem que “provocava a rotina” dos portugueses por ser “no sentido literário, artista maior”.

José Tolentino de Mendonça, poeta e responsável pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura: "Leio José Saramago por causa da Bíblia porque, apesar de algumas declarações do autor em relação ao texto bíblico, ele era de todos os autores portugueses contemporâneos aquele que mais a lia, mais a citava, mais perseguia a sua musicalidade e reescrevia os seus temas". "Para mim, enquanto especialista nos textos bíblicos, tudo o que Saramago escrevia era de leitura obrigatória". 

Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta: “Saramago obriga-nos ao lugar-comum e o lugar comum é este: é um escritor que mudou a literatura portuguesa e é um escritor que pôs a literatura portuguesa na cena internacional”. “A produção literária de José Saramago é sob diversas formas uma produção literária sobre Portugal, sobre a nossa história, sobre a nossa identidade e sobre a pessoa humana, mas para além de tudo e, tendo em conta estes temas, a produção literária de Saramago olhou tudo isto nos termos inovadores e muitas vezes subversivos que são aqueles que só um grande escritor pode cultivar”.

Mega Ferreira, presidente da Fundação do Centro Cultural de Belém: “É uma perda muito grande para a literatura portuguesa, não só porque era o primeiro prémio Nobel da Literatura português, mas também porque era um grande escritor e uma figura de grande coerência e frontalidade”. 

Mário de Carvalho, escritor: “Um homem recto, sereno e lúcido”. “Por ventura o nosso maior escritor do século XX, que tem a particularidade de ser um século mais rico no tocante ao romance português”.

Juan Marsé, escritor espanhol e Prémio Cervantes Juan Marsé: Recordo “bastantes ideias sobre a situação política e social”. Faceta de “grande narrador”. 

José Luís Peixoto, escritor: “Grande perda para a literatura e cultura portuguesa”. “Tem lugar assegurado nos grandes nomes da literatura de sempre”. “Deixa uma obra fundamental, com um retrato essencial do Portugal do século XX e da natureza humana. Por isso era tão lido”.

Carmen Caffarel, directora do Instituto Cervantes: José Saramago é o “mais firme herdeiro” da larga tradição de “iberismo português”. “Poucos como ele amaram e conheceram tão profundamente as nossas duas culturas”. Foi um escritor “arriscado e sem concessões” que soube olhar com “o seu agudo sentido crítico a morte, as guerras e os abusos do poder”.

Ferreira Gullar, poeta brasileiro: “Fiquei chocado com a notícia, é uma perda lamentável. Trata-se de um grande escritor, um dos mais significantes autores da língua portuguesa e de prestígio internacional”.

João Paulo Borges Coelho, escritor moçambicano: José Saramago é “um dos principais escritores da literatura universal e da língua portuguesa, com uma escrita de grande qualidade”.

Domingos Simões, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa:“É um dia que convida a todos os falantes de português a dedicar-lhe um pensamento de respeito, de admiração”.

Diogo Infante, actor e encenador: A morte do escritor “é uma perda para o país, até porque Saramago, goste-se ou não da obra, é um símbolo da identidade nacional”. “Portugal está de luto”. 

João Ubaldo Ribeiro, escritor brasileiro: “Para a literatura portuguesa - a literatura do mundo contemporâneo, aliás - representa a perda de um de seus maiores escritores em todos os tempos”.

Fernando Meirelles, realizador de “Ensaio Sobre a Cegueira” (2008) e do documentário “José e Pilar”: “A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo escapar do cliché mas, definitivamente, o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje". “Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Combatia as religiões com fúria, dizia que elas nos embaçam nossa visão, mesmo assim não consigo deixar de pensar que adoraria que neste momento ele estivesse a ter que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por algum outro tipo de vida depois desta que teve por aqui”. 

Ondjaki, escritor angolano: "Foi uma pessoa que sempre procurou dizer o que pensava, e isso dá uma grande leveza a quem se permite fazê-lo, ao mesmo tempo que imprime seriedade às suas convicções”. "Disse tanto e tão bem dito, que possivelmente temos que «encontrar» nos seus livros um quase-abraço sempre aberto”. 


Fonte: Público, em 18/6/2010.

José Saramago - Biografia

 
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, se bem que o registo oficial mencione como data de nascimento o dia 18. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as suas estadas na aldeia natal.
Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance,  Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista  Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele vespertino.
Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do jornal  Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Casou com Pilar del Río em 1988 e em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de 2010.

"Nunca resisto a tentações, porque eu descobri que coisas que são ruins para mim não me tentam".
(G.B.Shaw)

Até Breve

O abraço é breve
O beijo, eternidade
A despedida é leve
O reencontro é necessidade.

(Salvador Neto)

Triliche

“Era apenas um triliche, um mero triliche, mas não era assim tão frio, tão vazio, tão só matéria... era uma esperança, um pensar na volta, um reviver de saudade, um tanto de felicidade... agora que se foi,
levou junto pedaços de mim, lembranças de três amores que me negaram, suspensos no ar ficam em mim, hoje só saudades... Fim de tarde, o corte em minha alma sangra menos, agora é um fio de tristeza que ainda teima em umedecer meus olhos a cada recordação... mas passa, assim como passa o rio, passa o tempo, passam os dias... vai passar...”

Salvador Neto

Dúvida

Por que o mundo não se enjoa de ler e de nada aprender? (Sêneca)