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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As Experiências de Walter Benjamin - 2


conquistou uma experiência arrebatadora e resistente a partir da sua simples vivência de homem moderno: Baudelaire tornou-se um flâneur. Lutando contra o tédio e contra a pobreza da sociedade moderna, Baudelaire fala da multidão de maneira secreta - não a descreve mas ela está presente, ao contrário da descrição angustiosa de Engels. “Baudelaire lançase contra a multidão; e o faz com a cólera impotente de quem se lança contra o vento ou contra a chuva. Eis aí a vivência a que Baudelaire deu o peso de uma experiência” 9. A atividade do flâneur é observar os passantes que dão e recebem choques, movimentando-se na massa, como autômatos. O flâneur interessa-se pela cidade em geral, e por cada um dos seus edifícios mais característicos: estações ferroviárias, grandes magazines, salas de exposição, ruas escondidas... A cidade é tudo para o flâneur, ela então se desdobra diante dele, se abrindo como paisagem. Rouanet comenta ainda que para o flâneur não é somente o espaço da cidade que está à sua disposição, mas também sua história: “Ele despreza a história convencional, mas fareja na história a cidade e a cidade na história. (...) A flânerie o conduz para um tempo desaparecido. Cada rua, para ele, é uma ladeira que
desce em direção ao passado: o dele e o da cidade” 10. Cada olhar, cada passo, cada sentido captado pelo flâneur ao encontro da paisagem citadina cria uma ressonância. Essa relação foi a que Baudelaire teve com Paris, memória voluntária estaria “à disposição da inteligência, sempre pronta a responder ao apelo da atenção” 13 e relacionada, na literatura proustiana, à “pobreza com que por muitos anos se oferecera à sua lembrança a cidade de Combray, onde, no entanto, transcorrera uma parte de sua infância” 14. Desta memória voluntária se pode dizer que “as informações que nos dá sobre o passado nada conservam dele” 15.
Para Benjamin, portanto, Proust personifica a força salvadora da memória, e é a partir dessa leitura que podemos compreender o conceito de memória involuntária e sua relação com a Erfahrung. “Sabemos que Proust não descreveu em sua obra uma vida como ela de fato foi, e sim uma vida lembrada por quem a viveu” 16.  (continua)

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